A comunicação por satélite seguem sendo uma base essencial para garantir conectividade em regiões remotas, permitir transmissões de televisão, fornecer internet embarcada e sustentar aplicações críticas em diferentes setores econômicos. Entre as tecnologias que viabilizam esse ecossistema, destacam-se três faixas de frequência específicas: banda Ku, banda Ka e banda C. 

Embora todas utilizem espectro de micro-ondas, elas se diferenciam em diversos aspectos técnicos, como faixa de frequência, largura de banda disponível, potência necessária e sensibilidade a condições climáticas.

Para aprofundar o entendimento sobre essas bandas e suas aplicações, entrevistamos Mauro Wajnberg, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Telecomunicações por Satélite (Abrasat). 

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O que é a banda Ku, banda Ka e banda C?

“As bandas Ku, Ka e C são faixas de frequência dentro do espectro de micro-ondas utilizadas principalmente em comunicações por satélite, radar, rádio e televisão”, explica Wajnberg. 

“Elas se diferenciam tecnicamente em termos de frequência, largura de banda disponível, potência necessária e sensibilidade às condições atmosféricas”, complementa o especialista.

Segundo ele, “a banda K corresponde à faixa de 18 GHz a 27 GHz. A faixa imediatamente abaixo, de 12 a 18 GHz, denomina-se Ku (K-under) e a faixa imediatamente acima, de 27 a 30 GHz, denomina-se Ka (K-above). As faixas Ku e Ka são bastante utilizadas para aplicações por satélite.”

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Para que serve cada banda?

“Atualmente, cada banda é mais utilizada para serviços distintos”, diz Wajnberg.

De acordo com o presidente da Abrasat, a banda C é muito usada para TV por satélite, comunicações corporativas, backhaul e VSATs em regiões tropicais. 

Já a banda Ku atende serviços como DTH, TVRO, internet via satélite e backhaul. 

Por fim, a banda Ka é aplicada em internet de alta velocidade por satélite, comunicação militar e científica.

Banda C Banda Ku Banda Ka
3,7 a 6,425 GHz 10,7 a 18 GHz 26,5 a 40 GHz
Alta confiabilidade, pouco afetada pelo clima, mas exige antenas maiores e pode ter conflitos com o 5G. Boa capacidade de tráfego, com antenas menores que a Banda C, mas sofre impacto em chuvas fortes. Oferece maior velocidade e volume de dados, mas é a mais vulnerável a variações climáticas intensas.
Usada em TV por satélite, redes corporativas e comunicação em áreas tropicais. Aplicada em serviços de TV, internet satelital e comunicação marítima. Voltada para conexões de alta demanda, como internet de banda larga via satélite.

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Por que a banda C foi tão usada na TV aberta?

Conforme Wajnberg, isso tem raízes técnicas e históricas. 

“A banda C opera em frequências mais baixas do espectro de micro-ondas. Isso a torna muito resistente à chuva e vapor d’água, em comparação com Ku ou Ka”, afirma o presidente da Abrasat. 

“Em países com clima tropical úmido, como o Brasil, essa característica é fundamental para garantir um sinal confiável 24/7. Assim, ela é ideal para transmissões de massa, como a TV aberta, que não pode falhar em dias de chuva”, complementa.

Além disso, ele destaca: “Antigamente, os satélites usavam feixes amplos (wide beams) que cobriam grandes áreas com banda C. Isso permitia transmitir o mesmo sinal para todo um país ou continente, com menor número de satélites e menor necessidade de reuso de frequência.”

Ele também afirma que: “Quando os primeiros satélites comerciais de telecomunicações foram lançados, como os Intelsat e os Brasilsat A1/A2, eles usavam banda C. Isso colaborou para que a infraestrutura de transmissão e recepção se padronizasse nessa faixa”.

arte sobre diferenças da banda ku, banda ka e banda c

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Como o 5G impactou a banda C?

“A chegada do 5G teve um impacto significativo sobre a faixa da banda C, principalmente porque a parte mais baixa dessa banda foi reatribuída para uso por redes móveis no Brasil”, alerta Wajnberg. 

De acordo com ele, isso gerou riscos de interferência e obrigou uma reorganização dos serviços de satélite que já operavam nessa faixa.

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Por que a banda Ku é amplamente usada?

“A banda Ku é amplamente usada para TV por assinatura (DTH – Direct-to-Home) e internet via satélite por uma combinação de vantagens técnicas e econômicas”, explica Wajnberg. 

Conforme Wajnberg, esse tipo de banda opera em frequências mais altas — uplink por volta de 14 GHz, downlink em torno de 12 GHz — o que permite o uso de antenas menores, entre 60 cm e 1 metro. Isso reduz o custo de instalação e facilita o transporte.

Além disso, segundo ele, “a banda Ku permite transmissões de múltiplos canais HD e 4K, além de internet de alta velocidade com modulação eficiente e transmissão de dados ponto a ponto. Muitos satélites geoestacionários atuais são projetados com transponders dedicados em banda Ku, com cobertura extensa para América Latina, Europa e Ásia, inclusive com tecnologia HTS (feixes de alta potência).”

satélite de banda ku banda ka e banda c com frequências em duas parabólicas, vistas de baixo para cima

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Quais as vantagens e desvantagens em relação às demais bandas?

“Considerando as bandas Ku ou Ka, como principais vantagens podemos destacar o que já foi mencionado: antenas menores, custo mais baixo, maior largura de banda disponível, facilidade de fazer o apontamento”, diz Wajnberg.

No entanto, ele alerta para limitações: “Como desvantagens, temos a sensibilidade a condições climáticas, como chuva ou neve intensa, e interferências causadas por outros serviços ou obstáculos físicos, devido à frequência mais alta. A cobertura também costuma ser mais limitada.”

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Como a banda Ku está evoluindo com satélites GEO e LEO?

“A banda Ku tem evoluído bastante com os avanços nos satélites geoestacionários (GEO) e, mais recentemente, com a chegada dos satélites de órbita baixa (LEO)”, afirma o presidente da Abrasat. 

Ele comenta que: “Nos GEOs, vemos melhorias como os feixes spot (HTS), que usam múltiplos feixes direcionais para aumentar a capacidade e reutilizar frequências.”

Segundo Wajnberg, outras evoluções envolvem “melhor modulação e codificação, como o DVB-S2X, que aumenta a eficiência espectral, e cobertura regional otimizada, atendendo áreas urbanas, plataformas de petróleo, navios e outros pontos de alta demanda”.

No caso dos LEOs, Wajnberg explica: “Eles operam a altitudes entre 500 e 2.000 km e trazem uma nova abordagem, utilizando tipicamente banda Ku ou Ka. Um dos principais diferenciais é a baixa latência — tempo de resposta reduzido, entre 20 e 40 milissegundos, ideal para aplicações críticas.”

Ele também aponta recursos como “rastreamento automático com antenas phased array, que seguem os satélites em movimento, e o uso dinâmico das frequências Ku ou Ka em constelações com cobertura densa e contínua”.

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O que torna a banda Ka promissora?

“A banda Ka oferece muito mais largura de banda, ideal para alta capacidade de dados, como internet via satélite em alta velocidade”, afirma Wajnberg. “É muito usada por satélites de alto rendimento (HTS).”

Apesar das vantagens, ele reconhece os desafios: “Frequências mais altas, como a Ka, sofrem maior absorção e dispersão por gotas de água. Isso leva a uma redução da taxa de transmissão em situações de chuva moderada ou intensa, neve molhada, nuvens densas ou vapor d’água.”

Porém, o setor vem desenvolvendo soluções. “A combinação de tecnologias adaptativas, antenas avançadas e inteligência artificial torna essa faixa cada vez mais atrativa para aplicações como backhaul 5G, conectividade remota, internet embarcada e redes empresariais.”

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E o futuro com o 5G e o 6G?

“O 5G já está sendo implementado em faixas mmWave, como 26 GHz no Brasil e Europa, e 28 GHz nos EUA e Coreia do Sul. Essas faixas coincidem com a banda Ka inferior, que é muito usada por satélites”, aponta Wajnberg.

Em relação ao futuro, ele antecipa: “A banda K (18–22 GHz) ainda não é muito usada pelo 5G, mas pode ser considerada no 6G. Este, por sua vez, provavelmente usará faixas ainda mais altas, chamadas de sub-THz, entre 90 e 300 GHz.”

Por fim, o presidente da Abrasat destaca a importância de preservar o uso satelital dessas faixas: “A manutenção das faixas atualmente utilizadas pelo satélite é de suma importância. Representa uma estratégia racional de continuidade, segurança jurídica e regulatória, além de otimização de recurso”

Wajnberg finaliza dizendo que “as aplicações satelitais seguem sendo essenciais para garantir conectividade confiável — e sua convivência com serviços mais novos deve ser parte de um ecossistema resiliente e flexível.”

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