A tecnologia Direct-to-Device (D2D), ou conexão direta entre satélites e celulares, promete revolucionar a comunicação móvel ao permitir que os celulares se conectem diretamente a satélites em órbita. 

Diferente das redes móveis tradicionais que dependem de torres de celular terrestres, o D2D possibilita uma cobertura mais ampla e eficiente, especialmente em áreas remotas e de difícil acesso. 

Para entender melhor essa tecnologia e os seus impactos, entrevistamos Mauro Wajnberg, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Telecomunicações por Satélite (Abrasat). Leia, a seguir!

Como funciona a tecnologia D2D?

Segundo Wajnberg, “No D2D, os aparelhos celulares se comunicam diretamente com os satélites em órbita em vez de usar as torres de celular em terra como nas redes móveis tradicionais”.

De acordo com o especialista, isso é realizado de forma transparente ao usuário, ou seja, ele não percebe que saiu da cobertura terrestre para a de satélite e vice-versa.

Ele explica que os satélites, por sua vez, se comunicam com as torres de telefonia fixas no solo, permitindo o encadeamento das chamadas de voz, envio de mensagens e acesso à internet.

Abordagens para a implementação do D2D

Existem duas principais abordagens para a implementação da tecnologia D2D. 

“Na primeira, utiliza-se uma faixa do espectro de frequências alocadas para os serviços via satélite e adapta-se o aparelho celular com um chipset que permita o acesso a essas frequências,” detalha Wajnberg. 

“Esse é o caminho sendo adotado, por exemplo, pela Apple utilizando a constelação da Globalstar e pela Echostar”, complementa o presidente da Abrasat.

A segunda abordagem utiliza parte do mesmo espectro de frequências alocado para a comunicação celular terrestre, reutilizando-o para uso pelos satélites.

“Esse é o caminho sendo adotado, por exemplo, pela Starlink, AST Mobile e Lynk”, diz Wajnberg.

Melhorando a cobertura de rede

O serviço D2D é projetado para complementar o serviço terrestre, estendendo a sua cobertura a áreas geográficas com baixa densidade populacional. É o caso de oceanos e regiões montanhosas, onde a infraestrutura de rede é precária ou inexistente. 

Wajnberg destaca: “Isso pode ajudar a solucionar lacunas de cobertura existentes no Brasil ou em outros países com dimensões continentais. Por exemplo, em rodovias, localidades isoladas como ilhas, florestas, entre outros lugares onde a comunicação confiável é crítica”.

Ele acrescenta que os setores aéreo, marítimo, rodoviário, agronegócio, turismo de aventura e operações militares serão os primeiros a se beneficiar da comunicação D2D. 

“Em pouco tempo, com o desenvolvimento de novas aplicações móveis, a necessidade de uma cobertura efetivamente universal torna-se uma obrigação técnica e comercial e não mais uma obrigação regulatória”, opina Wajnberg.

Desafios operacionais e regulatórios

A implementação em larga escala do D2D enfrenta desafios operacionais e regulatórios significativos. 

“A destinação e atribuição de faixas de frequência para esse tipo de serviço é fundamental para que se tenha segurança técnica e jurídica apropriadas para o investimento e desenvolvimento desse ecossistema”, explica Wajnberg. 

Outro desafio é a integração tecnológica das redes, passando de um modelo onde as teles têm controle fim-a-fim da infraestrutura para um novo, onde usuários poderiam trafegar na rede satelital de terceiros de forma transparente. 

Além disso, a viabilidade econômica da empreitada é um ponto crítico. “Serviços como voz e dados de baixa velocidade já estão sendo oferecidos, mas o objetivo principal no longo prazo será alcançar serviços mais próximos aos ofertados pela tecnologia terrestre, como dados em banda larga,” ressalta o entrevistado.

Impacto do 5G e futuras gerações de redes móveis

A evolução do 5G e das futuras gerações, como o 6G, impacta positivamente o D2D. 

“Enxergamos as telecomunicações como um ecossistema cuja essência é a complementaridade entre as redes. O satélite é parte essencial, graças a sua posição espacial privilegiada”, diz Wajnberg. 

Ele acredita que o desenvolvimento de novas aplicações em 5G ajudará no crescimento da demanda por conectividade móvel, mesmo nas regiões mais remotas.

Testes e aplicações de sucesso

Os testes da tecnologia D2D estão em andamento, e a previsão é de que em breve a tecnologia já esteja em operação.

“Em maio, foi assinada pela Agência a primeira autorização de operação temporária de equipamentos de radiocomunicação para testes de serviços de comunicação direta entre satélites e aparelhos de celular. O teste foi conduzido pela operadora de  Lynk, em São Luís (MA), em parceria com a Claro, utilizando as frequências na faixa de 800 MHz da operadora brasileira,” relata Wajnberg.

Outros testes estão sendo realizados por operadoras como Claro e TIM, em parceria com a AST Spacemobile, em um sandbox regulatório. 

A tecnologia D2D promete transformar a maneira como nos conectamos, especialmente em áreas remotas, trazendo novas possibilidades e desafios para o setor de telecomunicações. 

Continue por aqui! Leia agora nosso artigo sobre as redes não terrestres (NTN) e seus impactos no 5G.

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