O Brasil sempre prestigiou transmissões ao vivo pela televisão. Prova disso é a alta audiência que as emissoras alcançam ao transmitir eventos esportivos, shows de artistas nacionais e internacionais, coberturas jornalísticas de grandes acontecimentos e outros.
Recentemente, a Rede Globo inovou ao usar a tecnologia 5G para transmissões ao vivo. Novos equipamentos, popularmente chamados de mochilinks, e novos modems 5G, com a tecnologia 5G standalone (SA), foram utilizados nas coberturas de grandes eventos.
A posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os desfiles das escolas de samba de São Paulo e do Rio de Janeiro, no Carnaval 2023, foram os primeiros eventos este ano a utilizar a nova tecnologia.
Para entender mais sobre como isso ocorreu e a forma como o uso do 5G funciona para transmissões ao vivo, conversamos com Carlos Fini, presidente da SET, e Francisco Peres, gerente de Tecnologia da Globo.
Veja o que ele contou sobre o tema a seguir!
Futurecom: Como se deu o uso da arquitetura de 5G SA para as transmissões ao vivo da posse presidencial e dos desfiles de Carnaval pela Globo?
Francisco Peres: “Nesses eventos, as três principais operadoras de serviço móvel pessoal do País nos forneceram chips do tipo 5G SA.
Os chips especiais foram colocados nos dispositivos 5G, que estão conectados às câmeras e à rede móvel. Assim, foi realizada a produção de conteúdo e a transmissão ao vivo dos eventos”
Carlos Fini: “Essa tecnologia vem de forma gradativa e está levantando um pilar muito importante para a produção e a distribuição de conteúdo, assim como para o trabalho compartilhado na TV, que é a base para a conectividade.
O diferencial do 5G, em relação à técnica anterior, é que ele apresenta, menor latência e mais velocidade.”
Futurecom: Quais foram as principais vantagens do uso do 5G SA em transmissões ao vivo para a TV durante esses grandes eventos?
Francisco Peres: “Diariamente, as entradas ao vivo para os telejornais dos repórteres que estão em campo, acontecem através dos mochilinks que estão conectados às redes das operadoras móveis.
Numa rede 4G, o mochilink apresenta uma performance satisfatória para as transmissões cotidianas. Porém, em grandes eventos, com muitas pessoas acampando nas ERBs 4G e 3G, o processo fica inviável.
Com o chip 5G SA, há a facilidade de acampar mais diretamente no 5G das estações, que está mais livre. Dessa forma, é possível escoar o vídeo com a taxa de bits que a gente precisa. Isso com alta qualidade e confiabilidade”
Carlos Fini: “Antigamente, essas transmissões eram feitas com carros, com enlace de micro-ondas, que custavam muito e tinham pouca mobilidade.
Hoje em dia, os carros foram substituídos por mochilas, que podem ser levadas nas costas ou em um cinturão.”
Futurecom: Como a tecnologia 5G SA melhorou a qualidade da imagem e do som das transmissões em comparação com as tecnologias anteriores?
Francisco Peres: “Na posse presidencial, usamos uma faixa de frequência diferente do popular 3.5 GHz. Usamos a faixa de 2.3GHz, que, neste momento, está mais livre.
E, no Carnaval do Rio e de São Paulo, usamos a faixa de 3,5GHz, mas com uma técnica adicional chamada network slicing, que permite alocar recursos físicos das ERBs do local para um fim específico. Essa técnica permite dar qualidade e confiabilidade para um serviço de vídeo, sem prejudicar o serviço público.
As operadoras tiveram um grande desafio para implementar essa técnica, mas o resultado ficou excelente.”
Futurecom: Quais foram os desafios logísticos antes da implementação dos mochilinks ligados à rede 5G? Como eles foram solucionados?
Carlos Fini: “É importante lembrar que na posse do presidente Lula, em 2023, provavelmente houve uma dificuldade que durou alguns dias antes da transmissão, apenas.
Na posse do Tancredo Neves, em 1985, não existia equipamento de transmissão ao vivo em uma só rede. Por isso, foi necessário um pool com todas as redes de TV para cobrir a avenida onde ele tomaria posse.
Foi um trabalho monstruoso, que durou cerca de 25 dias. Na noite anterior à posse, foi anunciado que ela não ocorreria, por conta de problemas de saúde do presidente-eleito. Sendo assim, houve um grande transtorno para deslocar todos os recursos que estavam montados na avenida para o hospital de base.
Comparando com a tecnologia atual, é possível perceber que antes do 5G e da telefonia celular, as coisas seriam completamente diferentes em um evento como a posse.”
Futurecom: Quais foram os principais aprendizados das equipes durante a transmissão da posse presidencial e dos desfiles de Carnaval?
Francisco Peres: “Durante a posse, utilizamos uma frequência do 5G que estava bastante livre, o que nos permitiu obter imagens de altíssima qualidade.
Usando a faixa mais comum, de 3.5 GHz, e para transmissões ao vivo em eventos, o network slicing será crucial para garantir a qualidade e robustez necessárias, especialmente quando a maioria dos telefones estiverem conectados ao 5G.
À medida que mais dispositivos adotam essa tecnologia, surgem novas possibilidades, como estúdios conectados e operações mais leves e wireless.
Existem diferentes frequências disponíveis, como a millimeter wave, que podem oferecer ainda mais qualidade, principalmente em ambientes fechados, como estúdios ou estádios de futebol. Essas opções serão muito bem-vindas à medida que a demanda por mais alta definição, como o 4K, vai demandar uma conectividade com taxas de bits ainda maiores.
A tendência é de crescimento e necessidade de estar sempre conectado, o que é uma realidade que se reflete no comportamento das pessoas.”
Futurecom: Quais são as perspectivas da expansão do uso do 5G SA nos próximos eventos, e como a tecnologia pode impactar o mercado de produção audiovisual no Brasil, indo além das transmissões ao vivo?
Carlos Fini: “É provável que a implementação do 5G seja gradual e dependerá do centro em que a pessoa circula, do dispositivo, do plano contratado e da própria operadora.
O grande salto do 5G acontecerá nos próximos releases, permitindo conexões de máquina a máquina, virtualização de serviços, sensoriamento remoto e muitas outras coisas que ainda não percebemos.
Além disso, a conectividade proporcionada pelo 5G será importante para trabalhos compartilhados, como produção de entretenimento e esportes, e para produção remota em campo.
A facilidade e qualidade de acesso ao conteúdo audiovisual pelo usuário será uma das principais vantagens da conectividade proporcionada pelo 5G.
No que se refere à produção de trabalhos compartilhados, o 5G será importante para abreviar e facilitar os processos, conectando profissionais de diferentes partes do mundo em tempo real.
Um exemplo de uso da tecnologia foi visto recentemente, na final do Campeonato Paulista, quando uma câmera foi colocada no corpo da juíza de futebol, mostrando a importância da conectividade para captar e transmitir imagens em tempo real”
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