A tecnologia presente na vida das pessoas de forma intensa traz novidades e inovações praticamente a cada minuto. No que se refere às telecomunicações, temos vivido uma “corrida” por mais capacidade, cobertura e qualidade de serviços desde que os sistemas foram “digitalizados” há cerca de 40 anos. Os simples serviços de telefonia ficaram para trás e as gerações móveis mais recentes (3G e 4G), foram gestadas dentro destas premissas de avanços na velocidade e nos novos recursos que a internet móvel possibilita.

A chegada do 5G coincide com novas promessas de mais eficiência e velocidade para os consumidores, já habituados à praticidade que a tecnologia acrescenta para o seu dia a dia, que nos tornaram tão dependentes daquele “aparelhinho” nas palmas de nossas mãos.

Mas a chegada do 5G vai além de uma mera evolução de parâmetros conhecidos. Trata-se de uma nova tecnologia de serviços móveis, que coloca em prática soluções que antes eram apenas imaginadas e desejadas. O 5G possibilita não só mais velocidade para a internet móvel, mas uma arquitetura de rede e de serviços habilitadora de novas funcionalidades de monitoramento, segurança e controle, respostas muito menores na troca de dados (latência), além de oferecer uma capacidade muito mais ampla de processamento de dispositivos conectados simultaneamente.

Tudo isso abre um campo enorme de novas aplicações para os mais diversos setores da economia. A internet de quinta geração, como também podemos nomear o 5G, oferece velocidade de download e upload de dados mais rápida, cobertura mais ampla e conexões mais estáveis. Se a diferença mais perceptível ao usuário entre o 4G e o 5G é a velocidade de transferência de dados, a principal contribuição do 5G está no conjunto de tecnologias que ele permite habilitar para o aprofundamento da transformação digital das empresas, dos negócios e da experiência imersiva para os consumidores em geral.

De forma simplista, as distinções entre as duas gerações são apoiadas em três parâmetros: mais velocidade, menor latência e maior processamento (de dispositivos), o que impõe grandes mudanças para os serviços suportados por estas três características. Naturalmente, os tempos de download de vídeos e filmes irão se reduzir drasticamente, mas além de você poder compartilhar vídeos gravados em um estádio de futebol ou em um show de forma quase instantânea, você poderá convidar amigos para experiências imersivas junto com você, uma vez que a latência no 5G se reduz em mais de vinte vezes, permitindo a interação instantânea entre pessoas e máquinas, assim como entre máquinas.

Com o tempo, os pacotes de serviços das operadoras irão se ajustar ao uso e à demanda dos clientes, e eventuais majorações de valor, estarão certamente muito abaixo da proporcionalidade da oferta adicional de serviços.

As comparações entre 4G e 5G são inevitáveis e ajudam a entender o que representa as mudanças que essa nova fase traz. Porém, serão as aplicações profissionais na indústria, na saúde, nos serviços públicos e nos negócios em geral que terão os impactos mais visíveis em termos desta mudança do 4G para o 5G. Como vimos, a arquitetura do 5G pode ser apresentada como tridimensional (eMBB, mMTC, URLLC), pois os serviços “flutuam” sobre estas três características, orquestrados por sistemas inteligentes e sustentáveis de processamento em nuvem híbrida, distribuída e com interações de borda.

(*) eMBB: Extreme Mobile Broadband
(*) mMTC: Massive Scale Communication
(*) URLLC : Ultra-Reliable Low Latency Service

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Em termos práticos, a conectividade, os serviços habilitados pela tecnologia de quinta geração e a arquitetura distribuída “fatiada” (network slicing) viabilizam aplicações associadas a grandes volumes de dados, coletados, tratados e transformados em ações de forma instantânea (baixa latência), eficiente e segura, que poderão auxiliar na implementação de elementos preditivos e de gestão que tragam profundos impactos aos processos nos mais diversos setores da economia.

No agronegócio, por exemplo, a chegada do 5G irá permitir volumes gigantescos de dados de solo, climatológicos, de insumos e na integração dos processos desde semeadura até a colheita, beneficiamento e transporte, que terão profundo impacto na produtividade e na redução de desperdícios ao longo da cadeia de valor do setor. O uso extensivo de imagens (por satélites ou por drones), assim como de dispositivos IoT associados a elementos de inteligência artificial para a devida interpretação dos dados coletados, traz uma verdadeira revolução para as operações agrícolas, desde a identificação e combate a pragas, até o uso otimizado de recursos naturais como nos processos de irrigação. 

A expectativa é que a tecnologia, em 15 anos, tenha um impacto econômico superior a US$ 76 bilhões somente para o Agronegócio, além de US$ 1,1 trilhão ao País, como mostra pesquisa realizada pela Omdia em parceria com a Nokia. Essa inovação impulsiona muitos mercados e é composta de um amplo conjunto de tecnologias: espectros múltiplos para os sinais (de 500 MHZ a 90 GHz), antenas dinâmicas MIMO, interfaces aéreas flexíveis, arquitetura em nuvem, uso de sistemas óticos (com altas taxas de transmissão, densificação e confiabilidade), uso de Edge Computing, múltiplas redes independentes (Network Slicing), plataformas IoT (eficientes e de baixo consumo energético) e, ainda, duas categorias de 5G coexistindo para melhor performance – Standalone (5G em rede exclusiva) e Non-Standalone (com núcleo 4G conectado à rede de quinta geração).

A velocidade da quinta geração pode chegar a ser 100 vezes mais rápida que o 4G e internacionalmente, em especial nos Estados Unidos, o conceito de “casas conectadas” por meio de serviços de acesso fixo sem fio (FWA – Fixed Wireless Access) têm se demonstrado altamente competitivos e inclusivos em termos de oferta de conectividade de banda larga para assinantes de baixa renda ou mesmo isolados geograficamente. Tais serviços devem permitir a inclusão de comunidades e equipamentos diversos, além de oferecer acesso à “economia digital” para muitos brasileiros que ainda foram nela incluídos. O fenômeno verificado com o PIX será multiplicado.

Segundo o “Ericsson Mobility Report”, publicado em junho deste ano, o 5G será o padrão com mais assinantes do mundo em apenas cinco anos, o que demonstra uma velocidade de adoção duas vezes mais veloz do que foi a do 4G. Ainda segundo este relatório, o mundo será ainda mais conectado com dispositivos de toda a sorte, sejam eles “wearables” como sensores para máquinas e equipamentos em cidades cada vez mais inteligentes, humanas e sustentáveis. Em 2027, deverão existir 24 bilhões de dispositivos IoT de curto alcance (até 100m – WiFi/Bluetooth/Zigbee), e outros 6 bilhões com tecnologias “wide-area”, Celulares e LPWA (Low Power Wide Area: LoRa/Sigfox). O número de dispositivos IoT conectados por tecnologias celulares (BB-IoT, NB-IoT e Cat-M) representarão 5,5 bilhões em 2027

Voltando ao Brasil, associado ao leilão de espectro de frequências para o 5G, há um cronograma de implantação e obrigações estabelecido que se estende até dezembro de 2029. Mas essa programação poderá ser acelerada quando as aplicações industriais e de internet das coisas (IoT) ganharem momento. O resultado econômico do leilão alcançou cerca de R$ 47 bilhões de forma não arrecadatória (89% revertidos em compromissos). A Vivo, a Claro e a TIM iniciaram a operação de suas redes 5G na faixa de 3,5 GHz em Brasilia no dia 6 de julho. Regionalmente, novos grupos foram também vitoriosos no certame da faixa de 3,5GHz (Brisanet, Ligga, Algar, Unifique e Cloud2You). As faixas de 26 GHz ficaram a cargo de Vivo e Claro, com lotes nacionais, e TIM e Algar com lotes regionais. As outras faixas são 700 MHz (Winity/Pátria) e 2.3 GHz (Vivo, Claro, TIM, Algar e Brisanet). 

Os chamados “casos de uso” irão se multiplicar rapidamente, e veremos muitas localidades de menor porte ganharem o acesso aos serviços 5G. O tempo dirá, mas tudo indica que as principais aplicações no País deverão ser o  FWA (acessos fixos sem fio como alternativa de banda larga competitiva), MPN (redes móveis privativas que, em combinação com o “Edge Computing” acelera os sistemas de decisão e resposta imediata, além de habilitar a automação, robotização móvel, veículos autônomos, realidade aumentada, computação a bordo, aprendizado de máquina), e IoT (internet das coisas, uma rede de objetos equipados com sensores que possam receber e transmitir dados via internet). 

O 5G está no ar! Após alguns minutos de leitura deste artigo sobre o que essa tecnologia pode fazer, algo já mudou no mundo. A quinta geração de tecnologia móvel representa mudanças bastante robustas e exponenciais que trarão grandes benefícios para diferentes segmentos da economia, como saúde, educação, agricultura e transportes.  

No Futurecom 2022, o palco do Future Congress vai discutir temas relevantes associados ao impacto do 5G por especialistas e usuários, divididos em três pilares de conteúdo: Conectividade em Expansão, Jornadas de Transformação e Ecossistemas em Integração, do qual a nova tecnologia 6G faz parte. 

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* Hermano Pinto é Diretor do Portfólio de Tecnologia e Infraestrutura da Informa Markets, responsável pelo Futurecom, maior evento de tecnologia, telecomunicações e transformação digital da América Latina.