Em uma fazenda no interior do Pará, um produtor rural aciona, via celular, o sistema automatizado de irrigação de sua lavoura. Ao mesmo tempo, um cirurgião em São Paulo realiza uma videoconferência em altíssima definição com um especialista no Canadá. Esses dois cenários – aparentemente distantes – são sustentados por um mesmo alicerce invisível, porém vital: a banda larga.
No Brasil, a internet rápida é cada vez mais essencial para o dia a dia das pessoas, das empresas e do poder público. No entanto, embora os números apontem para avanços importantes, os desafios relacionados à cobertura, qualidade e acessibilidade ainda são significativos – especialmente fora dos grandes centros urbanos.
Para entender esse panorama em profundidade, o Futurecom Digital conversou com Janilson Bezerra, executivo com passagens por empresas como TIM Brasil e American Tower, e atual líder do Comitê de Conectividade da Associação Brasileira de Internet das Coisas (ABINC). Ele compartilhou sua visão sobre o presente e o futuro da banda larga no país, destacando os principais gargalos e as oportunidades que se abrem para os próximos anos.
Continue conosco e veja mais sobre esse cenário!
Banda larga no Brasil tem acesso consolidado nas cidades, mas ainda é desigual no campo
“Hoje, o acesso à internet no Brasil é bem consolidado nas áreas urbanas, mas ainda existem desafios e restrições no meio rural”, explica Bezerra.
Segundo ele, a banda larga fixa é predominante nos domicílios brasileiros, resultado direto da expansão protagonizada por pequenos e médios ISPs (provedores regionais). No entanto, os índices de conectividade variam drasticamente entre as regiões.
“Os estados do Norte e Nordeste têm os menores índices de conexão, enquanto os centros urbanos do Sul e Sudeste ultrapassam 90% de cobertura doméstica, segundo o IBGE”, aponta.
Já a banda larga móvel alcança cerca de 95% da população urbana, mas apresenta lacunas relevantes no meio rural. Conforme o executivo, dados da ConectarAgro indicam que apenas 33,9% da área rural brasileira contava com cobertura 4G e 5G em 2024.
Velocidade acima da média mundial, mas custo ainda pesa
“Em termos de qualidade da banda larga fixa, o Brasil tem evoluído rapidamente”, avalia Bezerra.
Conforme o executivo, o Speedtest médio da banda larga fixa no País ficou entre 170 e 220 Mbps em 2023 e 2024, superando a média global, que gira em torno de 94 Mbps.
Na comparação com os países da América Latina, o Brasil aparece entre os líderes, atrás do Chile e do Peru, mas à frente da Argentina e do México.
“O Brasil alcançou o 25º lugar mundial em velocidade de banda larga fixa, segundo a Ookla, o que é um resultado expressivo”, comemora Bezerra. Porém, o especialista afirma que, apesar do desempenho técnico, o custo da banda larga ainda é um obstáculo, especialmente na modalidade móvel. “A carga tributária ainda é alta, e o ‘custo Brasil’ acaba influenciando na acessibilidade a planos e pacotes, principalmente para a banda larga móvel”.
Fibra óptica domina, mas satélite e FWA ganham espaço
O avanço da fibra óptica tem sido o principal vetor da modernização da infraestrutura de internet no Brasil. Em outubro de 2024, a Anatel contabilizou 41,3 milhões de conexões fixas via fibra no país, conforme Bezerra.
“As pequenas operadoras regionais foram decisivas para esse avanço. A fibra vem substituindo as redes de cabo coaxial e cabeamento metálico”, ressalta o representante da ABINC.
De acordo com ele, além da fibra, outras tecnologias vêm crescendo em relevância.
O Fixed Wireless Access (FWA) e a internet via satélites de baixa órbita vêm ganhando mercado, especialmente para atender regiões onde o cabeamento é inviável.
Ainda conforme Bezerra, o avanço da conectividade no Brasil está diretamente relacionado às políticas públicas e programas de fomento. “Os leilões de frequência são os grandes motores da expansão da cobertura no Brasil. Eles vêm atrelados a obrigações de cobertura e densidade”, aponta.
Outro destaque, de acordo com o executivo, é o Programa Norte Conectado, que está instalando cerca de 12 mil quilômetros de fibra óptica subaquática e terrestre, ligando cidades da Amazônia e do Norte do país.
Conectividade para todos: a década da inclusão digital
Para Bezerra, as oportunidades nos próximos cinco a dez anos são imensas – e estratégicas. “Vamos ver uma melhora contínua na qualidade da banda larga, a resolução dos gaps de cobertura nas áreas rurais e rodovias, e o avanço da oferta via satélite”, afirma.
Além disso, destaca-se o potencial da Internet das Coisas (IoT), sobretudo no agronegócio e na indústria. Tecnologias como LoRaWAN e NB-IoT, operando via terra ou satélite, permitirão conectar sensores e dispositivos em todo o território nacional.
“Vamos assistir à transformação digital no campo e na cidade, com a IoT permitindo o uso de gêmeos digitais para monitorar e controlar ambientes com precisão inédita”, projeta o executivo.
Ele finaliza dizendo que o 5G deve alcançar 84% da população até 2030, abrindo portas para novos modelos de negócio em setores como logística, manufatura, saúde e educação. E já se vislumbra no horizonte o 6G, que deve oferecer latências ultrabaixas e integração entre redes terrestres e satelitais.E por falar em 6G, leia também nosso artigo sobre a corrida pela liderança dessa nova tecnologia!