O 5G está remodelando o panorama da conectividade globalmente, e a América Latina não é exceção. Embora os primeiros testes tenham começado em 2019 e a tecnologia tenha se popularizado a partir de 2022 no Brasil, a região apresenta um cenário de implementação gradual e desigual.

Em 2024, alguns países já demonstram uma adoção mais madura, enquanto outros iniciam a implementação. Para impulsionar seu crescimento, o 5G na América Latina depende de uma combinação de políticas públicas eficientes, desenvolvimento tecnológico e soluções que tornem o serviço mais acessível à população.

Como o 5G se expandiu na América Latina?

Em 2023, oito países latino-americanos já haviam lançado o 5G comercial, e a expectativa é de um crescimento contínuo no número de conexões à medida que novos mercados entram em operação e as redes existentes ampliam sua cobertura.

No primeiro semestre de 2024, a América Latina alcançou a marca de 400 milhões de acessos 5G. Apesar desse avanço, especialistas concordam que o desenvolvimento do 5G na região tem sido mais lento do que o de gerações anteriores.

Jose Otero, Vice President para a América Latina e Caribe da 5G Americas, destaca que os altos custos dos smartphones compatíveis com a nova rede e a falta de casos de uso convincentes que justifiquem a migração para o 5G por parte dos consumidores são os principais entraves.

Rodrigo Robles, Oficial de Programa da International Telecommunication Union (ITU) da ONU, complementa que, além do custo elevado dos dispositivos, o preço dos serviços de telecomunicação precisa ser acessível.

A Comissão de Banda Larga da ONU recomenda que o valor do serviço não ultrapasse 2% da renda per capita, mas na América Latina esse valor é quase o dobro, chegando a 13% da renda média mensal per capita em 2021, comparado a 4% nos países europeus.

Outro ponto crucial é a infraestrutura. Em 2021, 5% da população latino-americana não tinha nenhum tipo de cobertura de internet móvel, maior que a média mundial de 3%. Essa disparidade é ainda mais acentuada entre áreas urbanas e rurais.

A construção de uma infraestrutura civil de fibra óptica é fundamental, mas a obtenção de permissões para a construção de redes de telecomunicações regionalmente ainda é um grande obstáculo.

Quais são os desafios do 5G na América Latina?

Nicolás Lucas, jornalista do El Economista, aponta que as questões regulatórias e as políticas públicas inadequadas são barreiras significativas para a expansão do 5G. A massificação do 5G, ou seja, alcançar 50% da base de usuários, exige que o preço dos aparelhos celulares seja inferior a U$75.

No painel “Forecasting: Evolução da entrada e potencial de crescimento do 5G na América Latina”, realizado no Futurecom, especialistas debateram o caminho a ser trilhado.

Horacio Arricobene, da Telefônica, apresentou o plano de preparação para o 5G na América Latina, ressaltando que a tecnologia LTE continuará relevante por mais alguns anos, mas que já estão preparando o RAN Sharing para uma implementação mais eficiente e a evolução do 5G compatível com uma RAN única.

Ele também destacou a importância da automatização da RAN para novos modelos operacionais, como o Edge Computing e a Telco Edge Cloud, buscando uma tecnologia mais eficiente energeticamente e a reorganização das redes para reduzir ou até excluir o 2G/3G.

Qual é o papel do agronegócio e da indústria na aplicação do 5G?

Apesar dos desafios, setores estratégicos impulsionam a demanda por 5G. No Brasil, o agronegócio desponta como um dos principais motores para a expansão do 5G, com a cobertura já atingindo cerca de 20% dos processos agroindustriais.

Farès Nassar, CEO da IHS Towers na América Latina, aponta que as grandes cidades brasileiras já contam com cobertura 5G e que aplicações específicas, como as indústrias e o agronegócio, podem acelerar ainda mais essa adoção.

Nassar sugere o “Fog Computing” como uma solução para reduzir o custo dos smartphones, tornando o 5G mais acessível.

Ele também vê a inteligência artificial como um impulsionador da expansão do 5G e destaca que o compartilhamento de redes pode diminuir o custo geral dos serviços de telecomunicações.

Além disso, novos casos de uso 5G para o segmento B2B, como Redes Privadas, Network Slicing e Network as a Service (NaaS) e Everything as a Service (XaaS), prometem revolucionar operações.

Qual é o papel do 5G na sustentabilidade e no desenvolvimento social?

O 5G também desempenha um papel crucial nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Rodrigo Robles enfatiza que a expansão da tecnologia deve ser equilibrada entre áreas urbanas e rurais, garantindo que dispositivos e serviços sejam acessíveis a todos.

Ele defende uma regulamentação eficaz para assegurar que o 5G não apenas melhore a conectividade em escolas e hospitais, mas também chegue às casas da população de maneira inclusiva.

Para garantir a cobertura de internet móvel para a população, estratégias como acordos entre operadoras móveis e frotas de satélites para cobertura terrestre ou satelital estão sendo consideradas.

Apesar dos obstáculos, o 5G na América Latina caminha em direção a uma implantação massificada, com potencial para transformar a economia e a sociedade da região por meio da colaboração e de estratégias eficazes.

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