Desde a era da internet discada, muita coisa mudou nas telecomunicações. No final da década de 1990, o acesso pela rede fixa era considerado um luxo, enquanto a móvel nem sequer existia.
Hoje, a banda larga fixa é considerada a forma mais rápida e confiável de conexão. Porém, a rede móvel conquistou o seu “lugar ao sol” rapidamente desde que surgiu.
Só para se ter uma ideia, o primeiro smartphone com sistema Android chegou ao Brasil somente em 2009, dois anos após o lançamento de seu principal concorrente, o iPhone OS.
E por que falamos em smartphones e sistemas operacionais? Ora, porque eles são os responsáveis pela popularização da rede móvel de dados.
Prova disso é que atualmente o Brasil conta com 197 milhões de assinaturas móveis com acesso à internet contra aproximadamente 34 milhões de acessos via banda larga fixa.
Aumento do tráfego móvel versus capacidade da rede
Segundo um relatório apresentado pela Ericsson em 2019, o tráfego mundial de dados via rede móvel cresce de 50% a 80% anualmente. Contudo, o Brasil ainda enfrenta dificuldades técnicas, principalmente em relação à velocidade de acesso.
“Estimamos que até 2025 o tráfego móvel total nas redes deve crescer por volta de cinco vezes, o que coloca altíssimas demandas nas operadoras por aumento de capacidade”, aponta Marcos Scheffer, vice-presidente de redes da Ericsson para o Cone Sul.
Para o head da Ericcson, o maior obstáculo enfrentado pelas operadoras móveis ao longo dos últimos anos é a dificuldade nas aprovações de licenciamento para a instalação de novas torres. Desse modo, é muito mais difícil aumentar a quantidade de rádio bases e a oferta de capacidade adicional e velocidades maiores aos assinantes.
Wi-fi nosso de cada dia: por que o consumidor ainda prefere a rede fixa?
“Tem wi-fi?”. Quem nunca chegou na casa de um amigo, em um bar ou restaurante e fez essa pergunta clássica? Tudo para economizar dados ou driblar a lentidão do 4G.
Em casa ou no trabalho, então, nem se fala. Smartphones, notebooks e tablets já se conectam automaticamente e qualquer problema na rede fixa que faça cair a conexão é sinônimo de desespero.
Apesar de o número de assinaturas de rede móvel ser bem maior, a fixa ainda é a preferida, especialmente por conta da velocidade de conexão e transferência ilimitada de dados.
Sobretudo em um período como o que vivemos hoje, em que mais pessoas ficam em casa e muita gente precisou migrar para o home office, a demanda por conectividade na rede fixa se tornou ainda maior.
Nesse sentido, a sensação de que a rede fixa entrega um serviço melhor se dá pelo fato de que o aumento exponencial no consumo superou a cobertura da rede móvel de dados. É o que afirma Marco Galaz, gerente de telecomunicações da Everis Brasil.
“Ainda que tenha crescido o investimento em redes móveis, a velocidade no crescimento do consumo de dados foi muito maior, gerando essa sensação de queda na qualidade. Comparando a rede móvel com a fixa — que já está montada —, o ponto crítico é a instalação das antenas. Quanto mais antenas/redes as operadoras conseguirem implementar no país, melhor será a qualidade do serviço”, ressalta ele.
Portanto, a opinião dos especialistas converge para a mesma problemática. O que falta para a rede móvel alcançar a fixa em termos de qualidade do serviço é a ampliação da cobertura.
A boa notícia é que a Lei das Antenas (Lei nº 13.116), publicada em 2015, finalmente teve a sua regulamentação por meio de decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro em 1º de setembro deste ano.
A partir de agora, o processo de instalação de antenas de redes móveis no Brasil será facilitado, abrindo um importante caminho para a tecnologia 5G. Desse modo, a lei auxiliará na expansão da cobertura, aumentando a capacidade de concorrência com a rede fixa.
Todavia, para Dane Avanzi, diretor do Grupo Avanzi e advogado especialista em telecomunicações, a lei só será positiva a depender da qualidade dos gestores públicos.
“Governadores e prefeitos deverão ter muita sensibilidade e bom senso para encontrar o ‘caminho do meio’, equilibrando o desenvolvimento econômico sem prejudicar a população. Encontrar essa solução será a chave do sucesso para o 5G e as telecomunicações no Brasil”, afirma.
Rede móvel ou fixa: quem ganhará essa corrida?
Com a chegada do 5G no Brasil e diante do consumo crescente de smartphones e outros dispositivos móveis, há uma sensação de que em breve a rede móvel substituirá a fixa.
À primeira vista, a rede fixa tende a apresentar muitos benefícios. Entretanto, ampliar o cabeamento da fibra óptica — que atualmente é a principal tecnologia de banda larga — é um desafio para as operadoras, já que o Brasil possui um território extenso e muitas localidades ermas, onde talvez ela nunca chegue pelos meios atuais.
Em contrapartida, apesar da dificuldade na instalação de antenas que ampliem o sinal, a rede móvel já ultrapassou a fixa em números. Ou seja, o celular já é o principal meio de acesso da população brasileira à internet. O que falta, no entanto, é o investimento massivo em novas estações de rádio base.
“Esse impeditivo tende a ser resolvido ou pelo menos amenizado por meio do decreto que regulamenta a Lei das Antenas, abrindo espaço para uma maior densificação das redes por parte das operadoras e uma implementação mais tranquila das novas redes 5G em frequências mais altas, que necessitarão de uma quantidade maior de estações para prover a cobertura necessária”, observa o vice-presidente da Ericsson na América Latina.
Sobre a possível substituição da rede fixa pela móvel, Scheffer acredita que haverá uma complementação importante.
“O 5G seguramente será a ferramenta tecnológica mais importante para o desenvolvimento econômico do Brasil durante a próxima década. Porém, não creio que uma tecnologia vá substituir totalmente a outra. Vejo o Fixed Wireless Access (FWA), potencializado pelo 5G, como uma alternativa bastante viável para as operadoras entregarem serviços de banda larga fixa em áreas onde ainda não existe essa disponibilidade. Ou seja, uma tecnologia complementará a outra”, pontua.
Galaz também não vislumbra uma substituição total, ao menos no futuro próximo.
“Uma parcela dos usuários deve ter o benefício de dispensar os cabos. Mas não acredito em uma migração total dos clientes de serviços fixos para a rede móvel. Os serviços de fibra geram grande capacidade de entrega, maior do que os da tecnologia 5G, por isso a substituição não parece ser algo que ocorrerá Brasil a curto prazo”.
Apesar disso, ele também acredita que o 5G transformará o mercado.
“O 5G permitirá oferecer conectividade em regiões mais distantes, onde um serviço de rede fixa não é viável devido aos custos elevados para levar fibra óptica. E a nova tecnologia de redes móveis impulsionará também a conectividade de dispositivos IoT, encorpando o tráfego móvel, que tende a crescer exponencialmente”, complementa.
O próximo grande desafio das operadoras é, sem dúvida, a implementação do 5G de forma eficiente e economicamente viável. Será demandada uma quantidade razoável de investimentos para a aquisição de novos espectros de frequência e a evolução dos equipamentos de rede.
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