A indústria 4.0 já é uma realidade para muitas empresas, mas, ao mesmo tempo, há companhias que ainda buscam se ajustar aos preceitos da nova geração industrial.
Um dos pontos em voga neste sentido é o de fábricas inteligentes e conectadas, que se beneficiam das muitas vantagens possibilitadas pelo uso de novas tecnologias e conectividade em seus processos.
Mas como transformar sua fábrica rumo ao futuro, tornando-a mais eficiente e tecnológica com base nas novas inovações disponíveis? Para entender mais, conversamos sobre o assunto com Ana Paula Kubinhets, CEO da Aquarelle, e Daniel Vilas, diretor geral da Solvian.
Confira as opiniões dos especialistas e tire suas dúvidas sobre o tema!
O que é uma fábrica inteligente?
O termo inteligente, ou smart, vem sendo usado há algum tempo para se referir a dispositivos que possuem conexão com a internet e funções otimizadas, muitos com o uso da tecnologia de Internet das Coisas (IoT).
Um exemplo está em nossos smartphones, assim como nas smart TVs e outros aparelhos domésticos que se conectam à internet para oferecer melhor desempenho. Tal ação também é possível em equipamentos fabris, tornando as fábricas mais otimizadas com o uso da conectividade e tecnologia.
“A fábrica inteligente é aquela que possui sistemas integrados e interconectados, trafegando informações entre eles para maior autonomia da operação, tendo previsibilidade de possíveis falhas na produção. O grande desafio é integrar os dados, do chão de fábrica ao back office, para criar insights em tempo real”, explica Ana Paula.
“As organizações estão começando a perceber que vale a pena investir em manutenção preditiva porque ela é uma ótima maneira de melhorar a eficiência operacional”, complementa ela.
Vilas, por sua vez, destaca mais dessas vantagens que as fábricas inteligentes apresentam em relação aos modelos tradicionais:
“As empresas que adotaram indústria 4.0 lucraram e contrataram mais do que as manufaturas mais tradicionais, segundo pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Entre as que adotaram de uma a três tecnologias digitais na produção, 54% registram hoje um lucro maior que no período pré-pandemia. Esse resultado está 7% acima do registrado pela indústria analógica”, observa.
Quais as características de uma fábrica inteligente?
Mas no que consiste uma fábrica inteligente, e como fazer a transição de uma fábrica comum para esta nova modalidade? Para a CEO da Aquarelle, há alguns passos que podem auxiliar neste sentido.
“Primeiramente, realizando um mapeamento dos processos da fábrica para identificação dos principais pontos críticos e iniciando naqueles onde, caso ocorra uma falha, essa terá maior impacto financeiro para a empresa. Para fazer uma fábrica inteligente funcionar como um sistema unificado, algumas empresas usam uma plataforma de middleware”, explica ela.
Nossa convidada também utiliza um exemplo da própria empresa que comanda para desenhar um desses modelos:
“A Aquarelle trabalha com sistemas gnósticos e completos, ajudando as indústrias a desenhar uma jornada 4.0 de ponta a ponta, entendendo como estão os processos e atuando como integrador, trazendo inovação para as tecnologias que as empresas já têm.”
Vilas complementa o raciocínio da colega, destacando algumas tecnologias que podem ser implementadas na fábrica e que auxiliam nesta transição para a quarta fase da revolução industrial:
“Quando a IA é combinada com a IoT – toda e qualquer tecnologia que possibilita que os mais diferentes objetos se conectem à internet e interajam com ela – começamos a ver alguns caminhos que se abrem para a Indústria 4.0, como o monitoramento da produção por sensores IoT totalmente integrados a plataformas Saas e gerenciados em tempo real”, explica ele.
“Esses dispositivos captam o funcionamento de máquinas, motores, equipamentos de fábrica, sistemas de ar-condicionado, linhas de montagem, e junto com algoritmos podem prever falhas e avisar aos gestores de manutenção antes que a produção precise ser paralisada”, completa o executivo da Solvian.
Como a automação e a Internet das Coisas podem auxiliar em uma fábrica inteligente?
Como vimos, o uso de novas tecnologias, como a IoT, podem trazer benefícios imensos para as fábricas modernas. Para entender mais sobre essas vantagens, perguntamos a nossos convidados de que outras formas essas vantagens se apresentam.
“A maioria das plantas fabris necessita de automações para seu processo produtivo. A Internet das Coisas vem para dar visibilidade às informações geradas por cada ativo na planta. A interconexão dos dispositivos de IoT traz o monitoramento necessário para a futura predição ou melhoria nos processos”, observa Ana Paula.
“Softwares inteligentes podem otimizar a programação de ordens de serviço, a gestão de equipes, de nível de serviço, a gestão de inventários, permitindo o gerenciamento automatizado desses ativos, o que reduz o gasto das empresas”, aponta Vilas.
“Essas tendências devem alimentar o crescimento do mercado mundial da Indústria 4.0, estimado em US$ 90,6 bilhões (aproximadamente R$ 475 bilhões) no ano de 2020, e projetado para atingir a marca de US$ 219,8 bilhões (R$ 1,15 trilhão) até 2026, segundo relatório da Global Industry Analysts Inc. (GIA)”, completa.
O que deve seguir mudando em termos de fábricas inteligentes para o futuro da Indústria 4.0?
Como pudemos observar nas palavras dos especialistas, as novas tecnologias que permitam com que as fábricas sejam mais inteligentes e conectadas já é uma realidade. Mas, como sabemos, as inovações não param, e o setor segue de olho no que seguirá mudando para o futuro próximo.
Para Ana Paula, o passo inicial é “Primeiramente desenhar a jornada para a Indústria 4.0. Esse início é feito por meio de boa gestão de ativos sistematizada, digitalização dos processos manuais, através do mobile.”
Ainda de acordo com ela, é preciso se atentar às outras etapas para manter-se nos trilhos da inovação, o que permitirá um desempenho fabril mais eficaz e fará com a empresa siga acompanhando as tendências e crescendo em seu ramo.
“Após essa etapa realizada e estruturada, as empresas devem pensar em sensores, IoT, interconexão e predição, realidade aumentada, visão computacional, gêmeos digitais, etc. Ter sensores nos equipamentos que não enviam informações a nenhum centro de dados, só irá atrasar esse processo”, explica ela.
Vilas segue uma linha semelhante, destacando que, apesar de estarmos um pouco atrás em comparação com países de primeiro mundo, o Brasil pode se beneficiar de avanços recentes, como a iminente implantação do 5G, que trará uma série de facilidades para as operações fabris.
“Em países desenvolvidos o debate sobre novas tecnologias começou logo após a crise global de 2008. Ou seja, eles desenham políticas para esse fim há mais de dez anos. O 5G é uma política industrial que vai ampliar o horizonte da indústria 4.0 no Brasil. Estamos aguardando ansiosamente o lançamento das redes de quinta geração. No final das contas, será a inovação que definirá o futuro dos países e o futuro das economias dos países”, reflete ele.
Ana Paula conclui, destacando que é essencial que os gestores e demais agentes da indústria olhem para o tema com atenção e interesse, já que movimentos realizados agora podem ser a diferença entre a sobrevivência do amanhã.
“O advento da Indústria 4.0 é irreversível. As empresas precisam começar a se preparar não só desenhando essa jornada, mas ter sua timeline fará toda a diferença na produtividade, no custo e na entrega dos produtos aos seus clientes”, conclui Ana Paula.
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