De acordo com Cassio Magnino, Expert Associate Partner na McKinsey, o amadurecimento empresarial precisa ser identificado antes de se aplicar a AIoT nas companhias. “Existem desafios relativos à governança dos dados. É muito comum que internamente ainda se discuta quem é o dono do dado, se o departamento de tecnologia ou o de negócios”. E o especialista acrescenta que atingir a maturidade é uma jornada e não uma ação da noite para o dia.

Ainda sobre amadurecimento, mas em uma escala maior, o especialista aponta sobre a necessidade de um marco regulatório sobre o tema, que incentive as inovações e que coíba o mal-uso dos dados. Opinião semelhante à de Israel Guratti, manager Technology & Industrial Policy – Innovation na ABINEE (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), mediador do Painel “AIoT e edges inteligentes: expandindo os benefícios da conectividade, da nuvem e da inteligência de dados hiperautomação” realizado durante o último dia do Futurecom 2023.

“A Inteligência Artificial quando utilizada com responsabilidade traz eficiência para as tarefas realizadas por pessoas, melhorando a prestação de serviços e antecipando riscos”, sentencia Guratti. E Magnino explica que diariamente se debatem temas aplicados do ponto de vista jurídico do mal-uso de dados que podem colocar em risco empresas e seus clientes.

Mas uma vez identificada a maturidade da empresa e seu potencial para a utilização desses dados para tomada de decisão: isso será rentabilizado como produto ou será inerente como aos produtos oferecidos? O Expert Associate Partner na McKinsey alerta: “é aspiracional pensar em alavancar monetizando. Passa por questões de responsabilização do produto em como o mercado usa e como isso volta”.

Entretanto, para cada solução pensada abre-se um novo questionamento apresentado por Magnino: como alavancar melhor os dados, como extrair eles até a milha final? “Existem estágios de amadurecimento de negócios, mas tem que ser mais orientado a dados. Olhando o desenvolvimento de novas tecnologias, percebemos que globalmente os clientes conectem tecnologia com o que faz sentido aos negócios. Mas existem desafios funcionais e técnicos”, explica.

Dentre os desafios técnicos são listados parques industriais ainda antigos, desafios de conectividade, empresas localizadas em área sem rede de telecomunicação, necessidade de criar estrutura de dados, além da capacitação de profissionais, desenvolvendo neles habilidades antes inexistes. E para Ricardo Montanher, sales director B2B da Ligga, a região Norte do Brasil reúne esses desafios.

“É um extremo desafio para quem quer produzir (essa região). Seja no setor produtivo ou logístico”, sentencia. A solução, de acordo com Montanher se dá via 5G: “queremos fazer um estudo e co-criar chegar e superar desafios de conectividade do Brasil. Como chego inicialmente em determinado ponto? Esse é um grande desafio. Daí se discute qualidade de serviço e soluções da mesma maneira que se fala de Internet das Coisas (IoT) ”.

Avanço do AIoT esbarra em desafios de conectividade

Montanher explica que o primeiro passo na região Norte é resiliência na conectividade. “5G é intimamente ligado ao edge computing. E se isso não estiver muito próximo para extrair dados da forma e velocidade certo, não conseguiremos fazer com que o parque tecnológico chegue no aumento da produtividade ou mesmo de segurança do trabalho”, explica. O sales director B2B da Ligga revela que a empresa está cobrindo Distrito Industrial 1 de Manaus (AM), mais de 400 indústrias e empresas.

Para que o projeto funcione é necessário identificar necessidades das empresas. Um dos clientes tem mudança de planta, que acontece constantemente e isso causa vários problemas. “Como alterar estrutura física? Isso atrapalha toda cadeia produtiva”, pontua. Há ainda questão de incidentes na planta de produção, uma solução que vem sendo adotada é o sistema que identifica se funcionário está com equipamento de proteção individual (EPI) e atuando corretamente.

Roberto Gomes Correa, Industry Technical Specialist da Intel, no entanto dá um passo para trás, lembrando que antes da conectividade, o primeiro desafio em alguns lugares é a eletricidade. Entretanto pondera que o cenário é sempre de oportunidades advindas de desafios: “acompanhamento a sensorização de rede de águas e esgoto, para monitorar válvulas. Muitos ambientes passaram por momentos em que se conseguiu levar tecnologia de sensorização, mas dificuldade de extrair dados”, exemplifica.

Porém, o desafio da conectividade para tratar os dados foi sanado, mas dessa resolução surge o desafio do edge computing que começou a ganhar corpo em 2019. Desde então a indústria começou a levar dispositivos para o bordo ou próximo de sensores para pré-processamento dos dados, para daí obter benefícios. E o edge computing coincidiu com a simplificação e democratização das estruturas da inteligência artificial e que culminou no AIoT.

Mas, sim, ainda há desafios. Como a padronização de sistemas de software, percebida por Correa novamente como oportunidade como transformar negócios de todas as verticais através da junção IoT, Inteligência Artificial e a chegada do 5G. “Projeta-se que até 2035 se insira US$ 18 trilhões nessas atividades. O Equivalente ao Produto Interno Bruto de 2019 dos Estados Unidos que foi de aproximadamente US$ 21 trilhões”, compara.

Desafio energético e o Agronegócio como exemplo

O Industry Technical Specialist da Intel lembra que há perspectivas sobre AIoT para os próximos anos quando o assunto questão energética, o que só vai avançar se convergir ao patamar de especificações e arquitetura que atendam às demandas. “Daí tem que discutir o quanto de energia se precisa. Temos visão que pelos desafios de arquitetura, disponibilidade de um software para insight de Inteligência Artificial ou machine learning”.

Correa reforça que é necessária uma arquitetura distribuída, mas organizada. “Que só distribuir cria outro problema. Considera-se que do período de 2020 até 2025, haverá muita inovação e que 2025 é ponto de inflexão para chegada de soluções que sequer imaginamos”. E afirma ainda que há muito esforço na indústria hoje para trazer uma plataforma de software p integração e trocas de informações. O que para Ricardo Montanher, sales director B2B da Ligga, é importante pois, “não podemos discutir só o meio, mas todo o processo, temos que chegar na ponta com algo muito mais objetivo”.

E Montanher aponta o agronegócio como um exemplo a ser observado. Um dos maiores desafios desse setor é o desperdício, desde a origem até o destino, e que diversas soluções têm sido desenvolvidas para resolver isso. Outro desafio é não estar confinado, ser como dizem uma “indústria a céu aberto”, com áreas gigantescas a serem cobertas. E que quem tem debatido soluções para essa conectividade são as cooperativas.

Para o diretor da Abranet (Associação Brasileira de Internet), Evair Galhardo, por muito tempo o agro não possuía conectividade para levar os dados coletados para a nuvem, isso mudou e hoje o setor dispõe de maior produtividade a menor custo. “A internet alavancou a conectividade e vários negócios. A fibra ótica chegou a fazendas distantes. Podemos atacar desafios descentralizando o IoT. Mas concorrentes devem se ajudar e o governo tem que se movimentar”.

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