Os índices de ESG são cada vez mais rigorosos nas diferentes cadeias da nossa economia, e o setor de Tecnologia da Informação e Telecomunicações (TIC) tem um papel fundamental nessa transformação sustentável. Isso porque os equipamentos e soluções tecnológicas podem ajudar a reduzir a pegada de carbono das organizações, otimizar os processos e o uso eficiente de recursos.
Esse foi o tema do painel “Conexão Sustentável: como o mercado TIC pode contribuir com os índices de ESG”, realizado durante o Futurecom 2024, em São Paulo. No debate, especialistas e executivos explicaram a importância da governança de dados e do desenvolvimento de ecossistemas inovadores no Brasil.
A mediadora foi Cristiane Tarricone, analista da MCIO, uma associação de mulheres executivas na área de TI. Segundo ela, estudos mostram que as empresas brasileiras investem entre 3% e 5% de seu faturamento total em ações de sustentabilidade, mas essa verba costuma ser consumida com relatórios, e não em soluções a longo prazo.
“O interesse por sustentabilidade é crescente na indústria de telecomunicações, mas empresas de pequeno e médio porte ainda têm dificuldades com essa agenda por causa do baixo investimento. Normalmente, a verba destinada para ESG nessas empresas é utilizada na execução de relatórios e índices sobre o cumprimento das obrigações, e ainda não tanto na parte de infraestrutura sustentável”, explicou Cristiane Tarricone.
Boas iniciativas já estão no mercado brasileiro
Um bom exemplo da aplicação correta dos recursos ESG vem do Grupo Oswaldo Cruz Química, representado no painel pela CIO Claudia Ferraz. A executiva revelou que a empresa já opera com 99% de seus dados na nuvem, iniciativa adotada só quatro anos atrás, mas que ajudam a posicionar o setor químico nas iniciativas sustentáveis.
“As empresas químicas são vistas no mercado como poluentes, mas na verdade a sustentabilidade está no nosso DNA. A filosofia é sempre de não gerar resíduos, e quando for inevitável, reaproveitar. Se não for possível reaproveitar, descartá-los corretamente. Por exemplo, um dos nossos principais produtos de saída é o vapor de água, e hoje esse vapor é usado para movimentar geradores que fornecem energia para a própria fábrica”, afirmou Claudia Ferraz.
Já a empresa de telefonia Nokia, representada pelo country manager Rafael Mezzasalma, apresentou as suas soluções para lidar com a crescente demanda por dados e conectividade, de forma a garantir eficiência energética e a gestão sustentável das redes.
“Seja nas redes fixas ou móveis, existe uma demanda crescente por dados, conectividade, conteúdo ou computação em nuvem e IA. Quando precisamos transmitir mais dados, consumimos mais energia, e por isso a Nokia tem trabalhado nos seu próprio chipset, desenhado pela empresa para gerar uma redução significativa no consumo dos equipamentos, com economia de até 50% nos nossos produtos 5G comparado a geração anterior, por exemplo. Isso ajuda não só na redução de emissões mas também na estrutura adequada da empresa, sem atrapalhar a capacidade dos aparelhos”, explicou Rafael Mezzasalma.
O que mudou 25 anos depois da privatização das Telecomunicações?
Um marco importante para o setor de telecomunicações no Brasil foi a privatização do sistema, há 25 anos. Esse processo não apenas ampliou o acesso da população à conectividade, mas também abriu portas para avanços em sustentabilidade e inovação. Segundo a superintendente da Anatel, Ana Beatriz Souza, o objetivo segue sendo o de fortalecer a governança corporativa e as práticas de sustentabilidade em diversos segmentos da economia.
“Eu vejo que a telecomunicação no Brasil mudou de perfil nesses 25 anos: deixou de ser universal e centrado na telefonia fixa para uma realidade em que 92% dos municípios do país estão conectados à internet. Nesse sentido, o modelo de pequenos provedores tem sido muito complementar com os grandes, e hoje são mais de 20 mil empresas desse tipo prestando serviço de telecomunicação. Agora, o desafio regulatório é atingir os locais sem conectividade e também desenvolver a ‘conectividade significativa’, um conceito estruturado pela ONU para desenvolver as habilidades digitais das pessoas”, disse a superintendente da Anatel.
Já a líder das ofertas integradas para Clima e Sustentabilidade da Deloitte, Maria Emilia Peres, abordou o fato de que o Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com grande parte da energia advinda de fontes renováveis, como hidrelétricas, solar e eólica. Para ela, essa característica coloca o país em uma posição privilegiada para a adoção de tecnologias sustentáveis no setor de TIC.
“A telecom é o grande alicerce de sustentabilidade das outras indústrias, e o nosso país tem uma oportunidade por ter matrizes energéticas mais limpas. Investidores globais devem olhar pro Brasil com essa perspectiva, e a gente precisa se posicionar dessa forma. A Deloitte tem um projeto de levar saúde pro Xingu, por exemplo, e só a conectividade possibilita isso. Internacionalmente, a grande discussão é a transição das cadeias, trazendo os players para concorrerem de forma colaborativa”, afirmou Maria Emilia Peres.