Nos últimos trinta anos, as redes móveis transformaram profundamente a sociedade. Do 1G ao 5G, cada geração representou saltos impressionantes em conectividade, velocidade e possibilidades de comunicação. Agora, uma nova fronteira começa a se desenhar: o 6G. Mais do que simplesmente ampliar a velocidade de conexão, essa nova geração promete algo radical, a chamada Internet dos Sentidos.

Para entender como o 6G vai muito além de transmitir dados e se torna capaz de transmitir experiências imersivas e sensoriais, conversamos com Marcelo Abreu, CTO do Venturus, centro de pesquisa, desenvolvimento e inovação que cria soluções tecnológicas de ponta para empresas de diversos setores.

A internet 6G pode permitir a expansão da robótica avançada e mais aplicações táteis. Por isso, é importante estar em dia com as inovações da tecnologia. Acompanhe mais sobre o assunto nas linhas a seguir!

O que é a Internet dos Sentidos?

De acordo com Marcelo Abreu, a Internet dos Sentidos é um avanço que só se torna possível graças às transformações proporcionadas pelo 6G. 

“O 6G é a evolução natural do 5G, mas com um salto muito maior. Durante as últimas décadas, desde o 1G até o 5G, vimos melhorias constantes em velocidade e latência. No 6G, esses parâmetros chegam a um patamar nunca antes visto”, explica o CTO.

Ele complementa dizendo que: “O 5G já trabalha com latência entre 1 e 10 milissegundos. No 6G, falamos de latência de 0,1 milissegundo e velocidades que podem chegar a 1 terabit por segundo”.

Esses avanços permitem algo até pouco tempo restrito à ficção científica: “Com esse nível de latência praticamente zero, será possível conversar com uma imagem 3D em tempo real e integrar sentidos como tato, olfato e paladar em experiências digitais.

É isso que chamamos de Realidade Estendida, uma fusão de realidade aumentada com realidade virtual, agora potencializada pelo 6G”, sintetiza Abreu sobre a transmissão sensorial.

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Educação, saúde e entretenimento: os novos horizontes

Abreu aponta que as principais transformações vão ocorrer em setores como educação, saúde e entretenimento.

“No campo da educação, a experiência dentro de uma sala de aula será completamente redefinida. Será possível participar de uma aula de história e se ver transportado para a Grécia Antiga, interagindo com uma representação de Sócrates”, diz.

“Ou então visitar o período jurássico, caminhando entre dinossauros, como se aquilo fosse real”, afirma o especialista.

funcionários de empresa utilizando a internet dos sentidos com RA em uma reunião

Na área da saúde, as possibilidades são igualmente transformadoras. Nas palavras de Abreu: “Você poderá ter uma consulta médica com qualquer profissional do mundo, sem barreiras linguísticas, com tradução simultânea e uma experiência sensorial como se ambos estivessem na mesma sala.”

Segundo ele, “isso abre portas não só para consultas, mas também para procedimentos complexos, onde especialistas operam remotamente com precisão absoluta.”

O entretenimento, ainda de acordo com o professor, terá possibilidades quase ilimitadas: “Estamos falando de uma nova geração de jogos, experiências de turismo imersivo e até shows em que você não apenas assiste, mas sente aromas, texturas e sensações físicas, como se estivesse no local.”

Veja abaixo os possíveis avanços de cada setor de forma resumida:

Área Resumo
Educação Aulas imersivas que transportam os alunos para diferentes épocas e cenários históricos.
Saúde Consultas e cirurgias remotas com tradução simultânea e sensação de presença real.
Entretenimento Jogos, turismo e shows com experiências multissensoriais que simulam o mundo real.

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As tecnologias que tornam isso possível

Para que a Internet dos Sentidos funcione, não basta a velocidade do 6G. É preciso que o ecossistema de dispositivos avance na mesma direção. 

Abreu explica que: “Sensores e periféricos precisam evoluir muito. Roupas inteligentes capazes de transmitir e receber informações táteis são fundamentais.”

Ainda de acordo com ele: “Óculos de realidade aumentada e virtual precisam se tornar mais leves, potentes e acessíveis. E há também dispositivos que liberam fragrâncias, sincronizados com as experiências digitais.”

Ele menciona um exemplo que já surge no Brasil: “Empresas como a Ananse Química desenvolvem fragrâncias para livros físicos e estão trabalhando para criar sensores eletrônicos capazes de transmitir cheiros. Isso já está deixando de ser conceito e se torna realidade.”

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Internet dos sentidos: o lado ético da revolução sensorial

Mas nem só de promessas positivas vive essa nova era. Abreu alerta para os riscos envolvidos. 

Conforme o representante do Venturus: “Estamos entrando em um território onde os impactos emocionais e cognitivos podem ser muito mais profundos. Uma Internet dos Sentidos pode gerar vícios, dependências e problemas psicológicos sérios.”

Além disso, ele ressalta a importância de acompanhar o desenvolvimento regulatório, como o Marco Legal da Inteligência Artificial (PL 2338/2023), em tramitação no Congresso Nacional. 

“O debate sobre ética, privacidade e limites no uso dessas tecnologias é urgente. Assim como ela pode ser usada para o bem, ela também potencializa riscos. A tecnologia deve ser vista sempre como um meio, nunca como um fim. Ela deve nos servir, e não o contrário”, alerta Abreu.

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O futuro se constrói agora

A chegada do 6G e da Internet dos Sentidos não é mais uma questão de se vai acontecer, mas de quando. Provedores de tecnologia, indústrias, governos e a sociedade já estão sendo convocados a discutir como será esse futuro e quais os limites, responsabilidades e oportunidades que ele oferece.

“O que podemos afirmar é que vem aí uma transformação muito mais profunda do que qualquer uma que já tenhamos vivido na história da conectividade”, diz Abreu. 

“O desafio é garantir que essa revolução tecnológica seja inclusiva, ética e, acima de tudo, humana”, conclui o especialista.

Para ficar por dentro da internet dos sentidos e de tudo o que acontece nas áreas de conectividade e inovação tecnológica, continue acompanhando a Digital Futurecom, o canal de conteúdo do evento Futurecom.

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