O uso da faixa de 6 GHz para não licenciado e Brasil se abre para Wi-Fi 6E foi aprovado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em 2021. Na época, o relator dessa versão final do processo, Carlos Baigorri, afirmou que a decisão alinhada “a requisitos técnicos mundiais para que o Brasil aproveite do estado da arte do uso dessa faixa” possibilitaria o Wi-Fi 6E em todo seu potencial. Havia no momento a preocupação da indústria automobilística em relação a uma eventual interferência no ITS (sigla em inglês para sistema de transporte inteligente). Como solução, a definição prevista, com limite de emissão em -27 dbm/mhz, é adequada e se optou por alertar a área técnica para acompanhar o impacto efetivo, tarefa à cargo da Superintendência de Outorga e Fiscalização.
E já em 2022 foram realizados os testes da primeira conexão Wi-Fi 6E outdoor da América Latina; próximo ao Aeroporto de Congonhas, em São Paulo (SP). “Tínhamos a preocupação se esse ponto provocaria interferência em outros canais. E para testar a possibilidade, se decidiu pela região do aeroporto, pois se não causasse interferência ali, não haveria em nenhum outro lugar”, explica o diretor da Abranet (Agência Brasileira de Internet), Eduardo Neger. A solução deu tão certo que o prefeito da cidade, Ricardo Nunes (MDB-SP), a percebeu como oportunidade de expansão dos pontos de Wi Fi da capital de 1088 pontos de internet livre para 20 mil até 2024.
De acordo com notícia da Agência Nacional de Telecomunicações naquele ano: “No início das operações alcançou-se uma velocidade de download de 910,65 Mbps e uma velocidade de upload de 610,91 Mbps com latência de 5,24 ms. Para a instalação da tecnologia, foi concedida pela Anatel uma autorização de uso temporário de espectro”.
Os testes realizados próximo do aeroporto, um dos mais movimentados do País, jogam luz sobre o uso outdoor do 6GHz, afinal, a eventual interferência em faixas é uma preocupação. A líder do conselho da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), Cristiane Sanches, compara que Europa, a faixa dos 6GHZ é também utilizada pelos sistemas de metrô das cidades: “Isso (capilaridade e utilização da rede de metrô) é altamente relevante lá, mas no Brasil isso não acontece”.
Para o diretor de negócios enterprise da CONNECTOWAY, Paulo Frosi, verificado o nível de segurança para aplicabilidade metroviária, é possível expandir a faixa para os trens. Neger vai além afirmando que o metrô pode ter sua própria rede, sensores de trens que usam faixa não licenciada de 2.4. “ É um caminho, mas temos que observar o uso com rigor”, ressalta o diretor da Abranet. Mas para o membro do comitê técnico de tecnologia da Fiber Broadband Association, Rodrigo Haidar, um controle mais restrito e especifico é, sim, possível.
Desafios e oportunidades do 6GHz outdoor no mercado brasileiro
“A não interferência é uma premissa. Hoje se fôssemos implementar o 6GHz, o gap é o aspecto urbanístico de localidade. Mas temos um universo de possibilidades para democratizar o Wi Fi e gerar volume de uso”, afirma o presidente da Teleco, Eduardo Tude, moderador do painel “Wifi 6E Outdoor e operadores AFC na faixa” realizado durante o Futurecom 2023, do qual participaram Cristiane, Neger, Frosi e Haidar.
Frozi ressalta que essa democratização do Wi Fi abre caminho para oportunidades de negócios já tornando o mercado competitivo: “acompanhamos no último semestre o aumento de diversificação de equipamentos Wi Fi 6 e agora com Wi Fi6E indoor a competitiva é cada vez maior”. Ainda de acordo com o diretor de negócios enterprise da CONNECTOWAY a expectativa com a promoção de novas tecnologias é que clientes tragam novas receitas usando infraestrutura já existente.
“Atualmente tivemos o planejamento de cidades inteligentes utilizando o Wi Fi5.Também realizamos a cobertura de quatro eventos usando o Wi Fi6, que está muito próximo do que o 5G representa para a telefonia móvel. E hoje, o investimento no Wi Fi6 acaba sendo menor”, ressalta Frozi; assim como é mais viável o valor de equipamentos outdoor, de acordo com o o diretor da Abranet, Eduardo Neger.
Entretanto, ainda que o Wi Fi6 já esteja em funcionamento há algum tempo, a discussão atual sobre ele é o seu nível de frequência e a regulamentação que depende da Anatel, de acordo com Frozi. “O grande debate regulatório de 2023 é a faixa de 6GHz. E a decisão da Anatel está em consonância com outros 68 países do mundo”, complementa Cristiane.
Ainda em fevereiro deste ano o presidente da Agência, Carlos Baigorri, declarou durante o Mobile World Congress 2023, realizado em Barcelona, Espanha, que o Brasil “vai manter os 1.200 MHz de capacidade para a faixa de 6 GHz” e que “vamos ter o WiFi 6E outdoor antes dos Estados Unidos, é a meta do Abraão [Balbino, superintendente executivo da agência]”.
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