Desenvolvido pelo Ministério das Comunicações com o Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD), o projeto da chamada TV 3.0 promete marcar uma nova fase da transmissão de canais abertos de televisão no Brasil.
Iniciado a partir de estudos e levantamentos que datam de 2021, o conceito tem previsão de começar a ser colocado em prática em 2024, mas deve levar mais alguns anos até sua transição completa, assim como ocorreu com o sinal digital.
Para sabermos mais, conversamos com Carlos Fini, presidente da SET – Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão, entidade que está envolvida nas discussões e avanços do conceito. Confira a entrevista completa abaixo!
Quais são as características de transmissão da TV 3.0?
Carlos Fini: “Esse processo encontra-se em andamento, e ainda estamos, via FSBTVD (Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital), realizando testes em etapas importantes da especificação. A iniciativa da TV 3.0 tem duas abordagens técnicas importantes :
- Evolução da qualidade entregue via antena, exploração de maior qualidade de vídeo 4K, HDR – high dynamic range, codificação de vídeo moderna e mais eficiente, além de áudio imersivo, closed captions e alarme de emergência;
- Integração com internet, uma evolução da atual especificação, que aproveita características de distribuição via web através das quais são possíveis a personalização de conteúdo e a flexibilidade de se ter aplicativos (APPs) em várias situações, permitindo novos modelos comerciais e interação com telespectador .
Esse é um resumo básico da especificação que está em andamento. Existem muito mais detalhes no site do FSBTVD ( Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital) e no portal da SET, que tem um grupo de trabalho que discute e esclarece em detalhes esse assunto.”
Quais são as expectativas de implantação da TV 3.0 no Brasil?
Carlos Fini: “As normas e direcionamentos foram publicadas no D.O.U. (Diário Oficial da União) de 6 de abril de 2023. O projeto entrou na 3ª e última fase de testes complementares, pesquisa e desenvolvimento. Em 2023 e 2024, serão realizados testes complementares e atividades das especificações técnicas.
Segundo o FSBTVD, estão planejadas demonstrações parciais da TV 3.0 em duas ocasiões: em agosto, no SET Expo 2023, e em dezembro, para o Ministério das Comunicações. É importante salientar que, por se tratar de radiodifusão, todo o processo decisório e de utilização do espectro passa pelo Ministério das Comunicações e pela Anatel.
A expectativa anunciada é concluir as normas da TV 3.0 em agosto de 2024 e realizar uma demonstração do sistema no SET Expo 2024.
Após a regulamentação e planejamento da canalização da TV 3.0, a operação deve ser iniciada em meados de 2025, e, a exemplo do que aconteceu na implantação da TV 2.0 em 2007, será feita de forma gradativa e coordenada .
Durante esse período, a indústria de receptores de TV e demais equipamentos, que participam amplamente da especificação, devem se adequar e disponibilizar os novos modelos ao mercado. É muito comum esse processo para tudo que envolve tecnologia atualmente.”
Quais são as novas oportunidades e modelos de negócios com a TV 3.0?
Carlos Fini: “Na minha visão, esse é o ponto principal. Seja no caso do projeto da TV3.0 no Brasil, quanto no do ATSC 3.0, que é o novo padrão híbrido em implantação nos EUA, haverá aumento de qualidade e novas oportunidades de negócios aos broadcasters (radiodifusores), que passarão a atuar distribuindo o sinal de suas redes também via aplicativos (APP) e streaming, disputando espaço de distribuição com as plataformas digitais.
Tudo isso altera o ambiente de negócios. A TV aberta atualmente é direcionada para distribuição de conteúdo em massa de forma gratuita, e é reconhecidamente a melhor tecnologia disponível para essa finalidade.
As plataformas digitais têm restrições para distribuição em massa em real time, mas têm evoluído muito e ganhado relevância para distribuição personalizada e na criação de meios de monetização mais apurados para produtores e anunciantes.
Modelos de vídeo ‘on demand’, personalização de conteúdo e comerciais e streaming em celular se tornaram hábitos e só são possíveis atualmente no ambiente digital .
Com a implantação da TV 3.0, as redes de TV abertas e convencionais poderão utilizar essas tecnologias simultaneamente ao sinal pela antena.
Fora do Brasil, nos locais onde esse modelo (chamado de híbrido: ar + web) começa operar, iniciam-se novos modelos de operação e monetização com diferenciação de comerciais, oportunidade de segmentação geográfica, além do elevado nível de qualidade de som e imagem, oferta de uso de dados, interatividade nas residências e sinal de emergência em caso de catástrofes .
Além de tudo isso, pela estrutura da TV 3.0 ser baseada em aplicativos (software), isso permite uma flexibilidade e muitas oportunidades. As universidades brasileiras estão participando do processo e com muita competência apresentando propostas inovadoras de interação junto a telespectadores.”
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