A resiliência e a dedicação do agricultor continuam fundamentais para o sucesso das atividades milenares de cultivar, colher e preparar os campos para a próxima safra, porém com o advento da “Internet das Coisas”, ou simplesmente IoT, foi aberto um amplo espectro de possibilidades para que o homem do campo tenha mais capacidade de coletar as informações do ambiente, analisá-las além da sua percepção sensorial, para reduzir desperdícios e aumentar a produtividade.
As Nações Unidas projetam que a população mundial chegará a 9,7 bilhões em 2050, o que impõe aumentar a produção agrícola global em pelo menos 70% até 2050. Para atender a essa demanda, agricultores e empresas agrícolas estão recorrendo à Internet das Coisas pelo seu poder de gerar análises para ampliar a produção e garantir a sustentabilidade do crescimento agrícola.
Uma pesquisa da “Business Insider Intelligence” mostra que a adoção de dispositivos IoT tem crescido a taxas de dois dígitos ao ano e o tamanho do mercado global de agricultura inteligente deverá superar US$ 15 bilhões até 2025.
Nos últimos 40 anos, o Brasil saiu da condição de importador de alimentos para se tornar um grande provedor para o mundo. Foram conquistados aumentos significativos na produção e na produtividade agropecuárias, resultado de uma combinação de fatores, desde a abundância de recursos naturais aos investimentos em pesquisa agrícola, além da competência e postura empreendedora dos agricultores, com investimentos em terra, equipamentos, gestão, trabalho e conhecimento.
Segundo dados do censo econômico do IBGE, entre 1975 e 2017, a produção de grãos, que era de 38 milhões de toneladas, cresceu mais de seis vezes, atingindo 236 milhões, enquanto a área plantada apenas dobrou. Cabe destaque para os aumentos de rendimento de 346% para o trigo, de 317% para o arroz e de 270% para o milho. Soja e feijão praticamente dobraram o rendimento no período analisado.
Estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), “Visão 2030 – o Futuro da Agricultura Brasileira”, conclui que o futuro será conectado e baseado em informação.
Veículos aéreos não tripulados (drones), sistemas de coleta/atuação (IoT), soluções de armazenamento em nuvem e a revolução dos aplicativos móveis são elementos significativos para que o agronegócio alcance novos saltos de produtividade e eficiência.
Em linha com estas conclusões e ao Plano Nacional de IoT, Governo e Setor Privado unem forças na recém-instalada “Câmara Agro. 4.0” visando propor estratégias de implementação de tecnologias digitais com foco em IoT no campo, com a intenção de fomentar a inovação no segmento e vencer o maior inibidor na aplicação extensiva de tecnologias disruptivas (Big Data/Analytics/IA): a CONECTIVIDADE.
O desafio da conectividade no campo, foi tema de intensos debates no Futurecom 2018, onde nasceu a ideia de se reunir empresas dos setores de agro e telecomunicações para enfrentá-lo, dando vida ao ConectarAgro, lançado na Agrishow 2019: AGCO, Climate Field View, CNH Industrial, Jacto, Nokia, Solinftec, TIM, BR Fibra e Trimble, trabalhando juntas com a missão de promover uma solução tecnológica aberta e estimular a expansão do acesso à internet para o campo brasileiro, com impactos em toda a cadeia produtiva e logística.
É certo que a contribuição humana permanecerá fundamental na pesada e contínua rotina do agronegócio, quaisquer que sejam as distintas características do tipo de cultivo ou pecuária, porém munido de conectividade, dados e automação, o homem do campo cumprirá a sua nobre missão de alimentar o mundo, produzindo mais em cada hectare de terra, e ainda garantindo a preservação dos recursos naturais.
*Engenheiro Eletricista, Economista e Mestre em Administração de Empresas. Executivo sênior com larga experiência na resolução de problemas complexos, gerenciamento de projetos e desenvolvimento de sistemas de comunicação, tendo atuado por mais de 25 anos na Divisão de Telecomunicações da Siemens em diversas áreas multifuncionais de infraestrutura e segmentos de negócios. Atualmente, responde como Diretor Geral do Núcleo Tech&Infra (Technology & Infrastructure) para a América do Sul no grupo britânico Informa.