Entre promessa e realidade, o que se viu no desenvolvimento da IoT no Brasil foram alguns passos mais lentos do que o esperado — porém, na direção certa.
Agora, com o horizonte de uma nova década pela frente, os setores público e privado buscam entender as próximas etapas para a consolidação da IoT.
Trata-se de uma rede tecnológica emaranhada e complexa, com um enorme potencial de integração. Tudo isso com vazão para um novo ecossistema tecnológico que possibilite, além de velhos sonhos como as smart cities, novos modelos de negócios.
Não à toa, mesmo em um Brasil repleto de burocracias, a expectativa de faturamento do mercado de IoT só em 2019 ultrapassaria os US$ 2 bilhões no país, segundo estudo da Frost & Sullivan.
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Ou seja: há espaço de sobra para crescimento e amadurecimento. Então, como subir de patamar e estimular o desenvolvimento da IoT no Brasil? Afinal, quais são os próximos desafios a serem vencidos?
O panorama atual da IoT no Brasil
A IoT é um movimento que ganha cada vez mais protagonismo no mundo inteiro em várias esferas: nas indústrias, residências e no dia a dia das pessoas.
Como panorama atual, é possível afirmar que a IoT no Brasil ainda busca espaço para amadurecer.
O professor John Paul Hempel Lima, coordenador acadêmico dos cursos de engenharia da Faculdade de Informática e Administração Paulista (FIAP), crê que a IoT não precisará “forçar” a sua entrada no mercado.
Pelo contrário: com o uso de dispositivos como sensores inteligentes e integração de dados via nuvem, os resultados já são vistos.
Entre os principais está a agilidade na tomada de decisão, que guia as empresas a uma maior eficiência produtiva.
Para ele, os segmentos mais impactados pela IoT serão as cidades, as fábricas, a saúde, as indústrias de base e o agropecuário.
Além disso, o acadêmico contextualiza:
“Segundo o Banco de Desenvolvimento InterAmericano, estima-se que até 2023 teremos 416 milhões de dispositivos IoT no Brasil. Sob o ponto de vista do desenvolvimento da IoT, o Brasil tem uma oportunidade grande e única. O governo federal criou o Plano Nacional de Internet das Coisas no ano passado [2019], com o intuito de alavancar o setor, gerando riqueza e protagonismo no cenário mundial”.
Paulo José Spaccaquerche, presidente da Associação Brasileira de Internet das Coisas (Abinc), concorda, e destaca ainda o potencial brasileiro no desenvolvimento da IoT, exaltando como um dos mais desejados do mundo.
“Em uma avaliação geral, podemos dizer que o Brasil é o maior e mais desenvolvido mercado da América Latina. Temos uma legislação considerada avançada e um mercado grande e ávido por inovação”, observa.
E complementa: “Ao mesmo tempo, ainda temos certa imaturidade no que se relaciona às próprias empresas e às pessoas. […] Boa parte das empresas e dos empresários ainda são muito jovens e vão cumprir um ciclo de amadurecimento do negócio, da gestão e também pessoal”.
Os desafios que o Brasil apresenta para a ampla implementação da tecnologia IoT
Há alguns desafios a serem superados. No entanto, talvez o principal deles — o legislativo — já caminha em direção a um desfecho positivo.
É o caso do Plano Nacional de Internet das Coisas, que foi desenvolvido em 2019 e aguarda aprovação.
Segundo Spaccaquerche, o plano foi o resultado de um enorme esforço colaborativo do governo com a sociedade civil, a indústria e o meio acadêmico.
“Agora existe todo um trabalho sendo feito para a tributação e legislação da IoT, que ainda não estão totalmente alinhadas com os projetos que estão surgindo. Com isso, a IoT está, cada vez mais, se ajustando para levar soluções para os negócios, e a pandemia acelera essa maturidade”.
Para Lima, fora do aspecto legislativo, outro desafio é a viabilidade de compra dos equipamentos e das ferramentas essenciais para a consolidação da IoT no Brasil.
“O custo dos componentes eletrônicos — que são a base das soluções IoT — reduziu substancialmente nos últimos anos. Contudo, com o aumento do dólar em relação ao real, mesmo com preços razoavelmente menores, a implementação de soluções IoT foi freada nos últimos tempos”.
Segundo o acadêmico, o Brasil ainda depende massivamente da China como exportadora de insumos que possibilitem o desenvolvimento da IoT.
Além disso, ele aponta que o país tem um desafio enorme nas mãos: a falta de mão de obra técnica e especializada no setor de tecnologia.
“Com certeza, tivemos um ganho expressivo em mão de obra, mas ainda insuficiente para realmente permitir a implantação de soluções IoT nos diversos setores. Precisamos de mais jovens entrando para o setor de tecnologia, formando uma massa de profissionais em quantidade suficiente para desenvolver soluções IoT”.
As soluções que podem facilitar o desenvolvimento do IoT no Brasil
No rol de soluções à disposição, Lima indica que o próprio Plano Nacional de Internet das Coisas já é uma iniciativa muito interessante.
Ele propõe, entre outras iniciativas, a criação de redes de inovação, o fortalecimento de centros de pesquisa, o apoio ao empreendedorismo e o incentivo à formação profissional.
“Todas essas iniciativas são fundamentais quando pensamos no Brasil como um polo de desenvolvimento e utilização de soluções IoT. Parece ser um caminho certo, começando por uma política nacional que, obviamente, precisa ser materializada e não ficar só no ‘papel’”.
Novamente, o acesso a componentes surge como uma dor desse setor em ascensão. Para Lima, uma solução seria a criação de uma política de renúncia fiscal e outra de subsídios, possibilitando a fabricação de componentes-chave de IoT no Brasil.
Essa ação, de acordo com o acadêmico, estimularia a criação de uma indústria nacional de IoT com o potencial de se tornar competitiva e independente no futuro.
As possibilidades de aplicação da IoT no Brasil
Afinal, como visualizar os avanços da tecnologia de IoT no Brasil? Muitas vezes, falar do assunto pode limitar o entendimento do seu crescimento e da sua adoção em alguns setores da indústria brasileira e mundial.
No entanto, não se engane: há vários exemplos de aplicações por aí que podem inspirar a transformação do mercado.
Para Spaccaquerche, o setor automotivo é um dos que mais mostra adesão à tecnologia, com os seus veículos autônomos que utilizam dos dados de sensores inteligentes para entenderem as condições de estrada e clima, por exemplo, definindo rotas melhores e mais seguras.
“Já na indústria, sensores ultra conectados são utilizados para acelerar processos de fabricação e garantir a segurança do trabalho, além de contribuírem para a automação de atividades de mensuração de indicadores importantes como temperatura, pH e pressão”, analisa ele.
O executivo também explica que os dispositivos conectados oferecem oportunidades inovadoras para que as empresas se engajem cada vez mais com os seus consumidores. Spaccaquerche ainda lembra do potencial da tecnologia para pequenas e médias empresas em outros setores do mercado.
“No comércio, por exemplo, a IoT pode criar lojas e estabelecimentos inteligentes, nos quais sensores serão responsáveis por coletar desde o funcionamento de câmeras de vigilância até o consumo de energia elétrica e a entrada de clientes, dentre outros aspectos”, diz.
Ele ressalta que isso abre um leque infinito de possibilidades de insights para um negócio, potencializando não apenas o planejamento estratégico, mas seu marketing, seus produtos e, consequentemente, seu sucesso.
Estamos no meio de uma jornada rumo ao futuro do desenvolvimento da IoT no Brasil. E a sua empresa, como se posiciona diante das incontáveis possibilidades de um amanhã ultra conectado, repleto de novas oportunidades?
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