É uma grande honra figurar entre os colunistas da Futurecom. Minha história com as feiras de telecomunicações no Brasil vem lá da minha época da faculdade, quando visitei pela primeira vez um evento desses. Eu não poderia imaginar o quanto este tipo de evento faria parte da minha realidade, tantos anos depois, ao poder contribuir com a minha visão sobre o setor.

Nesse artigo de estreia, gostaria de discutir um pouco sobre as redes privativas e como sua chegada está mudando o protagonismo das redes móveis.

Até pouco tempo atrás, ao pensar em redes móveis, a primeira associação que fazíamos era com as operadoras de telecomunicações. Presentes no mercado desde a época das teles estaduais nos anos 90, essa dinâmica mudou um pouco com a privatização. Elas foram reorganizadas, mas seguiram capitaneando o crescimento das redes móveis Brasil afora.

O primeiro serviço que massificou o uso das redes móveis para transmissão de dados foram as icônicas maquininhas de cartão, ou POS como são conhecidas no mundo técnico. Também vimos muitos projetos de rastreamento de ativos usando as redes celulares em complemento às redes satelitais, formando uma poderosa e assertiva dupla.

Diversas outras soluções foram implantadas usando redes móveis e o caminho natural sempre foi usar as operadoras de telecomunicações como canal, pois eram as únicas que conseguiriam prover esse tipo de comunicação sem fio. Esse status quo permaneceu válido até o surgimento das redes privativas ainda no 4G.

Com a chegada das redes privativas, somada a evolução da tecnologia de transmissão de dados em redes móveis, leia-se 4G / 5G, as organizações começaram a avaliar a viabilidade de montar suas próprias redes em diversos segmentos de negócio: agro, indústria, saúde, educação, saneamento etc. Os fabricantes de equipamentos, acompanhando essa tendência, lançaram linhas de produtos para atender as necessidades do mundo empresarial.

Hoje já temos cerca de 1000 organizações com redes privativas em funcionamento pelo mundo. A arquitetura de redes privativas possibilitou que as organizações avaliassem qual o melhor modelo de negócio a seguir e passassem a dividir o protagonismo das redes móveis com as tradicionais operadoras de telecomunicações e integradores de solução.

Com a flexibilidade da topologia, diversos modelos de negócio são possíveis e quem ganha é o cliente que tem a possibilidade de escolha avaliando os benefícios de se ter uma rede privativa:

  • Cobertura otimizada apenas para a área requerida;
  • Rede dedicada, com recursos próprios e com a possibilidade de gestão independente das operadoras;
  • Segurança com nível de redes celulares. Como não há exposição externa, os dados confidenciais permanecem dentro da organização;
  • Desempenho otimizado considerando os casos de uso necessários: baixa latência, prioridade de tráfego, alta velocidade, densidade de dispositivos etc;
  • Resposta a incidentes e falhas geridas diretamente pela organização, o que pode abreviar o tempo de reestabelecimento do serviço.

As redes privativas vieram para ficar e estão habilitando diversos casos de uso nas organizações que estão na vanguarda da implantação dessas soluções.  Elas não devem competir com as redes públicas e sim complementar o portifólio de soluções. Afinal de contas não existe uma solução “one size fits all”, concorda?

* Mauro Periquito é Diretor Especialista de Prática na Kyndryl Brasil, aborda temas relacionados à Conectividade, Indústria 4.0, Saneamento Digital e IoT.