A cibersegurança depende da colaboração e das alianças formadas entre entidades governamentais, o setor privado e profissionais especializados em segurança da informação. 

Por isso, é fundamental criar políticas de segurança transparentes, trocar dados sobre perigos e fragilidades no sistema, e trabalhar conjuntamente na detecção e redução de riscos.

Para abordar esse assunto, o Futurecom 2023 promoveu o debate “Cidades conectadas e cybersegurança”, mediado por Thiago Tavares, presidente da Safernet. Participaram do evento, os seguintes especialistas:

  • Fabio Rivelli: pesquisador da PUC-SP, membro da Comissão de Privacidade e Inteligência Artificial (IA) da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP);
  • Guilherme Aquino: professor do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel);
  • José Luiz Marques: gerente de Arquitetura e Soluções de Segurança da Embratel; e
  • Simone Ferreira: diretora-adjunta da Divisão de Tecnologia da Polícia Civil do Distrito Federal.

Acompanhe, a seguir, um compilado com as informações trazidas pelos especialistas nesse interessante debate!

O papel crítico das telecomunicações na infraestrutura e cibersegurança no Brasil

Guilherme Aquino, professor do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), destacou o papel crítico das telecomunicações na infraestrutura e cibersegurança do País. 

“Ela é a infraestrutura crítica de um país que dá suporte à conectividade, todas as outras infraestruturas críticas de um país,” explicou Aquino, enfatizando a importância da segurança no setor. 

Ele também abordou os desafios e inovações trazidos pelas novas tecnologias, como o 5G e a Internet das Coisas (IoT): 

“Com o advento de novas tecnologias, como 5G, a gente vê também um grande desafio pela frente,” disse ele, referindo-se às potenciais vulnerabilidades de segurança.

Além disso, Aquino destacou a evolução da pesquisa e educação na área, com foco em segurança e uso de inteligência artificial para detecção de ameaças. “Também vejo muita utilização de IA para aumentar a nossa percepção do ataque,” afirmou.

Desafios enfrentados pelas empresas na implementação de medidas de segurança

José Luiz Marques, gerente de Arquitetura e Soluções de Segurança da Embratel, destacou a complexidade e os desafios enfrentados pelas empresas na implementação de medidas de segurança. 

“As empresas precisam entender que esses processos são grandes,” afirmou, indicando que muitas ainda lutam para compreender o valor e a necessidade de investir em segurança. 

Ele também mencionou a dificuldade em discutir orçamentos para segurança, observando que muitas empresas veem a segurança como um custo adicional, em vez de uma necessidade crítica.

“Estamos na frente de uma guerra, que do lado de lá a gente tem criminosos estruturados,” alertou Marques, ressaltando a urgência e a seriedade da situação. 

Ele concluiu falando sobre o conceito de cidade inteligente, relacionando-o com diferentes infraestruturas, como hospitais e sistemas de água, e a necessidade de integrar inteligentemente a segurança da informação nessas áreas.

Desafios e abordagens da polícia na era digital

Simone Ferreira, diretora-adjunta da Divisão de Tecnologia da Polícia Civil do Distrito Federal, discutiu os desafios e as abordagens da polícia na era digital. 

“Nós temos na polícia duas vertentes distintas,” explicou a policial, destacando a dualidade entre o suporte corporativo interno e a apuração de crimes, inclusive cibernéticos. 

Ela ressaltou a importância do apoio institucional nas investigações de crimes cibernéticos, enfatizando a necessidade de uma resposta eficiente a incidentes e de uma governança robusta em segurança da informação.

Ferreira também abordou o desafio de lidar com criminosos que operam sem restrições legais, em contraste com as limitações enfrentadas pela polícia. 

“É um cenário em que o criminoso não tem lei,” disse ela, destacando a concorrência desleal enfrentada pela polícia. A diretora-adjunta enfatizou a importância da inteligência e do desenvolvimento pessoal na luta contra o crime cibernético, reconhecendo a necessidade de adaptação rápida às novas ferramentas e tecnologias.

Além disso, Ferreira comentou sobre a evolução do crime durante a pandemia, que forçou a polícia a adaptar-se a novos métodos de investigação. “O crime foi para dentro de casa”, afirmou, referindo-se à necessidade de os policiais se adaptarem ao trabalho com análise de dados e inteligência artificial. 

Ela destacou a importância de parcerias com o setor privado e de capacitar os policiais para utilizar eficientemente as ferramentas e bancos de dados disponíveis. 

“Hoje já não é mais só uma arma, a arma dele hoje é um e-mail e um WhatsApp,” concluiu Ferreira, sublinhando a mudança no panorama do crime e a necessidade de adaptação da polícia a essa nova realidade.

Proteção de dados: um direito garantido na Constituição

Fabio Rivelli, pesquisador da PUC-SP e membro da Comissão de Privacidade e Inteligência Artificial da OAB-SP, abordou como a digitalização trouxe novos desafios e elementos, muitas vezes invisíveis, como a proteção de dados, que agora é considerada um direito fundamental na Constituição. 

Além disso, ele destacou a importância da colaboração interdisciplinar e internacional no combate à criminalidade relacionada à informação. 

Rivelli elogiou o trabalho da polícia, mencionando sua eficiência e a necessidade de reconhecimento público. “O trabalho que a Polícia faz é sensacional,” afirmou, destacando a eficácia da inteligência policial.

Rivelli concluiu abordando a necessidade de vigilância pessoal em relação à segurança da informação, citando sua própria experiência com vazamentos de dados e monitoramento de atividades suspeitas em seu nome. 

“Como eu tenho muito processo no meu nome, no escritório, eu fico monitorando para ver se ninguém está comprando uma moto com meu CPF,” exemplificou, enfatizando a importância da conscientização sobre segurança de dados pessoais para os cidadãos comuns.

Para quem gosta do tema, sugerimos também a leitura do nosso artigo que apresenta o debate sobre lawtechs e legaltechs, e como conseguem mitigar a lentidão no processo judiciário.