A combinação de tecnologias como 5G, Inteligência Artificial, Big Data e Internet das Coisas (IoT) forma a base para transformar profundamente a sociedade como a conhecemos. Se por um lado as soluções disruptivas abrem caminho para uma nova economia, onde várias tarefas repetitivas serão assumidas por robôs, amplia-se a discussão sobre o futuro do trabalho. O homem realmente será substituído pelas máquinas? Quantos desempregos poderão ser gerados com o crescimento da automação?

Como em todas as revoluções anteriores, sempre há medo do desconhecido. Os mais alarmistas dizem que a maior parte da força de trabalho será substituída pela robótica avançada. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) acredita que a tecnologia eliminará cerca de 14% dos postos de trabalhos atuais e que dificilmente os ocupantes serão requalificados em tempo hábil. Já a vertente mais otimista defende que algumas profissões serão extintas, mas que tantas outras deverão surgir para atender as demandas do mundo 4.0.

Peter Diamandis, cofundador da Singularity University, defende a teoria da abundância, em que tecnologias transformadoras podem solucionar vários problemas que enfrentamos quanto à utilização e recursos. Segundo ele, a tecnologia tem o potencial de elevar substancialmente os padrões de vida básicos de todos os habitantes do planeta. “Por volta do ano 2040, seremos capazes de fornecer bens e serviços antes reservados para uma minoria rica, a toda e qualquer pessoa que precisar deles. Ou que os desejar.”

Num mundo cada vez mais incerto e volátil, é possível que tenhamos um cenário muito diferente do atual, embora não consigamos prever os impactos reais. Para acompanhar as transformações, as pessoas terão que desenvolver novas habilidades, que incluam mudança de mindset, cooperação, empatia, resiliência e muito aprendizado. A educação tradicional não será mais suficiente diante de tantas mudanças. O aprendizado deverá ser contínuo, durante toda a vida, para suprir lacunas técnicas e comportamentais.

Neste cenário, é importante que representantes do Executivo e do Legislativo brasileiro também estejam envolvidos, juntamente com a iniciativa privada, nas discussões sobre empregabilidade, formação da nova força de trabalho, migração dos atuais profissionais e, principalmente, como prepará-los para o futuro. As escolas e universidades terão que se adaptar, investindo cada vez mais na criatividade. A inovação, as atividades de programação e o estímulo para experimentar devem entrar com força nas novas agendas curriculares.

Outras profissões que deverão ganhar maior importância são aquelas associadas à construção de relações humanas sofisticadas e interpessoais, tais como enfermeiras, médicos, engenheiros de aplicação, vendedores consultivos ou internacionalistas. Não acredito que a robótica consiga substituir, no curto prazo, profissões que envolvam habilidades de destreza e de rápida adaptação a ambientes novos e desconhecidos. Eletricistas, mecânicos, encanadores e muitas das profissões que exijam tais habilidades deverão ainda ser valorizadas por mais uma ou duas gerações, até que um R2-D2 deixe o âmbito da ficção científica. Entretanto, não podemos pensar apenas na “empregabilidade”, mas como podemos nos posicionar como vencedores neste novo mundo 4.0, de conectividade inteligente e novos paradigmas econômicos.

A competitividade entre os países entra em uma nova etapa, tão relevante como foram as revoluções industriais passadas, em que o controle dos meios de produção, da eletricidade e das tecnologias de automação foram preponderantes para o balanço do poder. O novo elemento de diferenciação será com qual eficiência e amplitude as ferramentas de inteligência artificial poderão ser usadas com sucesso para a sociedade e a economia de cada país. E, historicamente, já vimos que isto não passa apenas pelo domínio da tecnologia, mas como as empresas e os governos se posicionam quanto ao seu uso.

De forma antecipada e planejada, a China já está se preparando para este novo mundo. Estados Unidos e Europa buscam recuperar o tempo perdido. As Nações que sairão vitoriosas da Revolução da Inteligência Artificial serão aquelas que tiverem um plano estruturado e eficiente para gerir as disrupções na sociedade que a tecnologia trará.

Enquanto Nação, temos vantagens competitivas enormes no que tange ao Agronegócio e demandas gigantescas em termos de Logística, Saúde, Comunicações e Serviços. Assim, cabe ao Brasil preparar seus jovens, por meio de novas estruturas curriculares, mas também atualizar os nossos mecanismos regulatórios e tributários para modernizar as relações entre o Estado e a Iniciativa Privada e viabilizar eticamente investimentos.

Muito a fazer, mas com a certeza de que se não o fizermos, perderemos mais um “bonde” da história, talvez o mais importante e mais disruptivo de todos os tempos.

(*) Hermano Pinto Júnior é diretor do Futurecom.