Num país em que o agronegócio representa mais de 24% do PIB e movimenta bilhões todos os anos, o campo nunca esteve tão digital. Estão se tornando cada vez mais comuns soluções como monitoramento de lavouras por sensores, tratores autônomos, estações meteorológicas conectadas, entre outras.

A transformação tecnológica no setor é irreversível, e tudo isso depende de um insumo essencial: conectividade. Mas como levar internet de qualidade a regiões remotas, nas quais muitas vezes nem o sinal de celular chega?

É aí que entram os ISPs, os pequenos provedores de internet regionais, que têm se revelado protagonistas na revolução do agro digital. Atuando onde as grandes operadoras não chegam ou não oferecem soluções viáveis, essas empresas têm construído pontes invisíveis entre a tecnologia e a produção rural.

Para entender melhor esse cenário, conversamos com Wellington Rosa, proprietário da SafeTech Consultoria, empresa especializada em TI, com 25 anos de atuação no setor.

Com olhar atento e conhecimento de quem acompanha o avanço da tecnologia no campo desde os primeiros modens, Rosa explica por que os ISPs estão ganhando espaço e confiança no agro. Acompanhe!

Soluções sob medida para o campo

Enquanto grandes operadoras oferecem pacotes padronizados, os ISPs estão desenvolvendo serviços sob medida para o campo.

“Eles têm know-how para entender as particularidades do agronegócio. Oferecem Wi-Fi de longo alcance com rádios ponto-a-ponto, cobertura para grandes áreas, e suporte a dispositivos de IoT agrícola como sensores, câmeras e tratores autônomos”, afirma Rosa.

A customização vai além da tecnologia. Muitos provedores oferecem planos flexíveis conforme o calendário agrícola, com mais banda durante o plantio e colheita, e redução nos períodos de entressafra.

“Esse tipo de personalização só é possível porque os ISPs conhecem a rotina das propriedades e das comunidades agrícolas que vivem ao redor delas”, destaca o consultor.

Atendimento agrícola personalizado

O nível de serviço (SLA) e o custo dos serviços também se destacam. Por estarem sediados nas próprias regiões que atendem, os ISPs conseguem prestar suporte técnico ágil, inclusive fora do horário comercial, algo impensável com grandes operadoras.

“Não dá para esperar até segunda-feira para resolver um problema de conexão quando o trator autônomo precisa entrar na lavoura no domingo à tarde”, exemplifica Rosa.

Além disso, o custo operacional mais enxuto permite aos pequenos provedores oferecer preços competitivos, mesmo com entregas altamente personalizadas. “A escala é menor, mas o foco é muito mais preciso: eles conhecem o cliente, o terreno, a estação do ano e o que cada lavoura precisa. Isso gera valor”, avalia o especialista.

Conectividade rural

Um dos grandes desafios da conectividade rural é viabilizar infraestrutura em áreas remotas. E é justamente aí que os ISPs mostram criatividade e resiliência. “Eles combinam fibra óptica com rádio, para cobrir grandes extensões sem perder qualidade de sinal”, explica Rosa.

Segundo ele, muitos firmam parcerias com os próprios produtores para instalar torres e repetidoras em terrenos privados, o que reduz custos e agiliza processos.

Há também acordos de compartilhamento de infraestrutura entre vizinhos e o uso crescente de energia solar, o que barateia e sustenta a operação em locais onde a rede elétrica é instável ou inexistente.

Parcerias que impulsionam o agro digital

A expansão dos ISPs no agro está diretamente ligada à capacidade de formar alianças estratégicas. Parcerias com cooperativas agrícolas, associações de produtores e grandes grupos do setor têm se intensificado.

“O agronegócio entende que sem conectividade não há eficiência. E os ISPs são os únicos, em muitos casos, capazes de entregar isso com agilidade e personalização”, afirma Rosa.

O movimento também chama a atenção de investidores atentos ao crescimento do agro digital.

Segundo o consultor, há um número crescente de fundos e empresas interessadas em apoiar a infraestrutura de rede no campo. “O futuro é de sinergia. A conectividade rural virou peça-chave na estratégia de qualquer cadeia produtiva”, resume o nosso entrevistado.

ISPs prontos para o futuro do campo

Mas será que os ISPs estão realmente prontos para acompanhar a digitalização acelerada do agro?

Rosa garante que sim: “Eles estão antenados. Hoje, já vemos pequenos provedores oferecendo backbones escaláveis, redes otimizadas para IoT com baixa latência, edge computing e caches locais para resposta em tempo real.”

Essas soluções, antes restritas aos grandes centros urbanos, agora se aproximam das lavouras.

“Gerenciamento inteligente de tráfego, segurança da informação e estabilidade de conexão passaram a fazer parte do vocabulário técnico rural”, afirma o consultor.

Para ele, o sucesso dos ISPs no agro não é um acaso, mas uma resposta natural à demanda por conectividade eficiente, econômica e personalizada.

“Eles venceram o desafio da geografia e entenderam o tempo do campo. E quem entende o tempo do campo, sempre colhe bons frutos”, sintetiza Rosa.

A nova fronteira da internet brasileira

A presença dos ISPs no agronegócio representa uma mudança estrutural no modo como o Brasil conecta a sua principal força econômica.

Enquanto as grandes operadoras seguem focadas nos grandes centros urbanos, os pequenos provedores transformam a realidade rural com criatividade, parceria e proximidade.

Se a conectividade é o novo arado da agricultura digital, os ISPs são os novos agricultores da infraestrutura.

Com raízes firmes nas comunidades que atendem e visão de futuro, eles estão pavimentando a estrada da produtividade com fibra, rádio, antenas e, principalmente, comprometimento com quem vive da terra. Afinal, como diz Rosa: “A conectividade deixou de ser um luxo. No agro, ela é insumo básico. E os ISPs entenderam isso melhor do que ninguém.”