A inteligência artificial deixou de ser tendência para se tornar infraestrutura estratégica em praticamente todos os setores. De algoritmos que otimizam operações a sistemas generativos que criam conteúdo e descobrem novas soluções, a IA está redefinindo negócios, profissões e modelos de gestão. Mas, junto com essa revolução, surge um risco silencioso: a atrofia do pensamento crítico.
Segundo o Gartner, até 2026, metade das organizações sofrerá perda significativa dessa habilidade devido à dependência excessiva de IA. Em um cenário onde decisões rápidas e complexas são a norma, pensar criticamente é mais do que uma competência, é um superpoder corporativo.
Foi com essa provocação que Martha Gabriel, referência em inovação e transformação digital, conduziu sua palestra “Pensamento Crítico: o superpoder na era da IA” durante o RD Summit, durante a última semana, em São Paulo. O Futurecom Digital acompanhou de perto e trouxe os principais insights para líderes e especialistas.
Por que o pensamento crítico é vital na era da IA?
“Decisão boa depende de pensamento crítico bom. Decisão ruim é consequência de pensamento crítico ruim”, afirmou Martha. A inteligência, por si só, não garante escolhas acertadas. “Inteligência é como um processador poderoso, mas sem um software adequado, o pensamento crítico, ela só amplifica erros”, pontua.
Essa habilidade é o que permite enxergar múltiplas perspectivas, superar vieses e tomar decisões estratégicas em cenários ambíguos. Sem ela, líderes correm o risco de navegar em um mar de informações irrelevantes, onde, Martha relembtrou uma frase de Barack Obama, “clareza é poder”.
O risco da dependência tecnológica
Estudos do MIT mostram que usuários que recorrem à IA sem reflexão apresentam menor atividade cerebral e ausência de senso de autoria. Martha alerta: “Delegar o cérebro à IA é como ir à academia e assistir os outros se exercitarem. Você não vai evoluir.”
Esse comportamento não apenas compromete a capacidade de inovação, mas também cria vulnerabilidade estratégica. Empresas que usam IA como piloto automático perdem agilidade e adaptabilidade, fatores críticos para competir em mercados dinâmicos.
Realidades sintéticas e desafios de confiança
Com a evolução das IAs generativas, distinguir o real do artificial tornou-se quase impossível. Martha trouxe um dado alarmante:
“As quatro imagens mais confiáveis em um estudo eram de pessoas que não existem, criadas por IA. As menos confiáveis eram seres humanos reais.”
Esse fenômeno reforça a necessidade de líderes desenvolverem discernimento para navegar em ambientes digitais cada vez mais complexos, onde percepção e confiança estão em jogo.
5 pilares para desenvolver pensamento crítico
Martha apresentou um framework prático para fortalecer essa competência:
- Ceticismo amável – Perguntar com empatia para entender a realidade. “Quem não pergunta está sendo manipulado pela informação disponível.”
- Superação de vieses – Reconhecer limitações cognitivas e buscar diversidade. “Equipes diversas têm melhores resultados porque são menos enviesadas.”
- Lógica e argumentação – Estruturar raciocínio e comunicar com clareza.
- Repertório – Ampliar conhecimento para análises comparativas. “Sem repertório, você só tem opinião, e todo mundo tem.”
- Valores humanos – Garantir que decisões tecnológicas respeitem princípios éticos. “Razão sem humanidade é perigosa. Toda solução deve passar pelo filtro dos valores humanos.”
O papel estratégico dos líderes
Em um cenário onde a IA já opera com 70% da expertise de um PhD em qualquer área, a vantagem competitiva não está em competir com máquinas, mas em complementá-las com habilidades humanas: pensamento crítico, criatividade e adaptabilidade.“Não é sobre novas profissões, é sobre novos profissionais”, reforçou Martha.
Para C-levels e especialistas, a mensagem é clara: a tecnologia não tira relevância das pessoas, a falta de adaptabilidade sim. Usar IA como copiloto, e não como piloto automático, é a chave para transformar abundância de dados em decisões inteligentes. Em tempos de hiperaceleração, pensamento crítico é o verdadeiro superpoder corporativo.