O blockchain, conhecido por sua capacidade de garantir segurança e transparência nas transações digitais, está passando por uma transformação para atender às demandas globais de sustentabilidade.
Historicamente, esse sistema foi criticado pelo alto consumo de energia, especialmente em redes que utilizam o modelo Proof-of-Work (PoW), como o Bitcoin.
No entanto, a migração para modelos mais eficientes, como o Proof-of-Stake (PoS), tem reduzido drasticamente o impacto ambiental. Esse avanço abre caminho para o conceito de blockchain verde, em que a tecnologia se alinha às metas ESG e aos desafios de um planeta mais sustentável.
No Brasil, iniciativas pioneiras estão surgindo. Uma delas é a B4, primeira Bolsa de Ação Climática do país, que utiliza blockchain para reduzir emissões de carbono e fortalecer o mercado sustentável
Odair Rodrigues, CEO da B4, conversou conosco e compartilhou a sua visão sobre os desafios e as oportunidades desse ecossistema em construção. Leia a seguir!
Blockchain sustentável: além da tecnologia, uma nova mentalidade
No entendimento de Rodrigues, o conceito de blockchain verde está relacionado ao uso de energia limpa e a mecanismos de compensação de emissões.
Isso pode ocorrer por meio de validação de transações com energia solar, eólica e hidrelétrica, além de projetos de reflorestamento ou proteção de biomas.
Sendo assim, “algumas estratégias de blockchains podem se tornar verdes se integrarem mecanismos para compensação de emissões ou apoio direto a projetos ambientais”, complementa Rodrigues.
Além disso, o blockchain oferece transparência imutável para rastrear emissões de carbono, cadeias produtivas e balanços socioambientais. Esse fator é essencial para empresas que buscam credibilidade em seus relatórios ESG.
“Se uma empresa publica seu balanço ESG em blockchain, fraudar números sobre pegada positiva sustentável se torna impossível”, reforça o CEO da B4.
Proof-of-Stake: caminho para eficiência energética
A mudança do modelo Proof-of-Work para Proof-of-Stake tem sido apontada como uma das maiores inovações do setor, por reduzir significativamente o consumo energético.
No PoS, a validação das transações é realizada por participantes que “apostam” seus tokens, substituindo a necessidade de operações computacionais intensas típicas do PoW.
Apesar desse avanço, Rodrigues avalia que ainda há desafios. Ele afirma que, do ponto de vista sustentável, ainda não estamos vendo grandes mudanças.
“O que temos são mais investimentos em data centers, que também consomem energia, impulsionados pela integração da inteligência artificial ao blockchain”, diz o executivo.
Esse cenário reforça a necessidade de políticas energéticas responsáveis e do uso de fontes renováveis, para que a inovação tecnológica não se transforme em um novo vetor de impacto ambiental negativo.
Eficiência energética e geração de empregos verdes
Quando combinados com energia limpa, os modelos atuais de blockchain têm potencial de gerar benefícios econômicos e ambientais.
“O uso de energia renovável no blockchain pode criar empregos na nova economia de baixo carbono e evitar uma quantidade considerável de emissões”, destaca Rodrigues.
Essa perspectiva se alinha às metas globais de transição energética e pode acelerar o desenvolvimento de soluções sustentáveis em setores como logística, agricultura, energia e finanças.
No Brasil, a criação de hubs tecnológicos voltados à energia limpa e blockchain representa uma oportunidade estratégica para o país se posicionar na nova economia digital verde.
ESG: confiança e rastreabilidade no centro da estratégia
As soluções baseadas em blockchain estão se consolidando como ferramentas poderosas para Environmental, Social and Governance (ESG). Na visão de Rodrigues, o registro imutável oferecido por essa tecnologia traz confiabilidade para certificações e auditorias.
“Quando falamos de ESG, a rastreabilidade é essencial. O blockchain elimina dúvidas sobre a origem de créditos de carbono, produtos sustentáveis ou dados socioambientais”, explica o porta-voz da B4.
Essa transparência agrega valor às marcas e fortalece a relação com consumidores cada vez mais atentos ao impacto socioambiental das empresas.
Rodrigues alerta que as “companhias que não entenderem isso correm o risco de perder relevância rapidamente.”

O papel da interoperabilidade para um ecossistema integrado
Um dos desafios para a consolidação do blockchain sustentável é a interoperabilidade entre redes. Essa integração permite que diferentes blockchains se comuniquem, trocando informações e ativos de forma segura e eficiente.
Conforme Rodrigues, vivemos em um mundo no qual confiança, transparência e proteção de dados são valores muito elevados.
Dentro desse contexto, é imperativo que as lideranças empresariais entendam o blockchain e passem a utilizá-lo, ou correm o risco de perder valor agregado em pouco tempo.
Ele acrescenta que o consumidor moderno aprende rapidamente novas tecnologias: “As pessoas já sabem usar inteligência artificial. Aprender a usar blockchain será um passo previsível e inevitável.”
Case brasileiro em Ação Climática
Um dos exemplos de aplicação do blockchain em iniciativas sustentáveis no Brasil é a plataforma B4, voltada para o mercado de créditos de carbono. A solução utiliza tecnologia distribuída para garantir rastreabilidade e segurança nas transações, aspectos considerados críticos para reduzir riscos de fraude e aumentar a transparência em um setor em expansão.
O caso ilustra como mecanismos baseados em blockchain podem contribuir para a integridade de operações envolvendo ativos ambientais, reforçando práticas de governança e confiança entre diferentes agentes do mercado.
O futuro do blockchain sustentável no Brasil
O caminho para um blockchain verdadeiramente sustentável depende de investimentos em energia limpa, inovação tecnológica e políticas públicas de incentivo. O avanço do modelo Proof-of-Stake, por exemplo, aponta para um futuro em que tecnologia e sustentabilidade caminham lado a lado.
A construção desse ecossistema exige colaboração entre empresas, governos e sociedade civil. A interoperabilidade entre redes será fundamental para criar um ambiente integrado, eficiente e capaz de atender às demandas de um mercado cada vez mais consciente e exigente.
Como conclui Rodrigues: “O blockchain sustentável não é apenas uma questão tecnológica, mas também estratégica. Ele representa uma nova forma de pensar negócios, em que confiança, transparência e impacto positivo são os verdadeiros diferenciais competitivos.”
Com o fortalecimento de projetos inovadores e a crescente pressão por responsabilidade socioambiental, o blockchain verde se firma como protagonista na transformação digital, criando um futuro mais justo, eficiente e conectado.