No final do primeiro dia de Futurecom, os congressistas puderam prestigiar um painel comemorativo da 30ª edição do evento. O palco do Future Congress deu espaço para a programação “Futurecom: celebrando a (re)volução das telecomunicações em mais de três décadas”, que resgatou a história das telecomunicações brasileiras e na própria trajetória do evento que se tornou referência no setor.
Com depoimentos emocionados e bem-humorados de Laudálio Veiga, fundador do evento, Hermano Pinto, diretor de relações institucionais da Informa Markets, Hélio Graciosa, Wilson Cardoso, Nily Geller e Vander Stephanin, o encontro revelou bastidores, desafios, conquistas e momentos decisivos que marcaram a evolução da feira e do mercado.
Futurecom: um limão que virou limonada
A origem do Futurecom remonta a 1989, quando Laudálio Veiga, então gerente de projetos na Telepar, foi deslocado para o centro de treinamento da empresa em meio ao processo de politização das estatais. “Foi um limão que virou limonada”, disse, ao lembrar que, sem função definida, propôs a realização de um seminário interno — o embrião do Seminte.
O primeiro evento, realizado em Curitiba em 1991, foi bem recebido. Em 1993, com apoio da Fundação Telepar e da Abinee, o seminário ganhou força e trouxe nomes de peso da indústria. “O Dr. Roberto Esnaider me abriu as portas para o setor”, contou Laudálio, referindo-se ao então presidente da Abinee e vice da Alcatel.
A edição de 1993, realizada em Foz do Iguaçu, foi um divisor de águas. O evento recebeu sua primeira atração internacional, a partir dali passou a atrair atenção no Brasil e no mundo.
Em 1995, o evento mudou para o Hotel Rafain Palace e passou a acontecer a cada dois anos. A articulação política foi intensa, envolvendo nomes como Luiz Eduardo Magalhães e Antônio Carlos Magalhães, além do presidente da FCC, Reed Hunt, que veio ao Brasil após convite pessoal entregue por embaixadores e ministros.
A edição de 1997 foi marcada pela privatização das telecomunicações. “Foi o evento da privatização”, afirmou Laudálio. Na ocasião, foram nomeados os primeiros conselheiros da Anatel, incluindo Renato Guerreiro. O evento contou com a presença de figuras internacionais como o secretário-geral da UIT e o presidente mundial da Protel.
Durante esse período, Laudálio recebeu uma homenagem especial: um medalhão da UIT, entregue por um representante europeu. “Só duas pessoas no Brasil receberam: o presidente Fernando Henrique e eu”, revelou, emocionado.
O nascimento do Futurecom
Com a privatização em curso, Laudálio decidiu empreender. “Um telefone fixo custava cinco mil reais, a demanda era brutal, e as empresas estavam cheias de dinheiro para investir. Resolvi criar o evento sozinho”, contou. Inspirado na globalização, criou a marca Futurecom, com as cores azul e verde.
A primeira edição foi desafiadora. “O diretor me disse: ‘Esqueça, não vai dar certo’. Mas eu segui em frente”, disse. Com apoio de amigos, registrou a marca, e, o evento nasceu oficialmente. “Foi a segunda melhor decisão da minha vida. A primeira foi casar com a Janete, minha esposa”, brincou.
Missões internacionais e disputas tecnológicas
Em 1999, o Futurecom recebeu uma missão europeia em meio à disputa entre as tecnologias GSM e CDMA. “Foi uma guerra tecnológica”, lembrou Wilson. As discussões influenciaram diretamente a densidade celular brasileira, hoje superior à média latino-americana.
A busca por patrocínios foi intensa. “O gerente da Alcatel fugia de mim como o diabo da cruz”, contou Laudálio. Foi Luiz Antônio de Oliveira, então presidente da empresa, quem apostou no projeto. “Você fez tão bem até agora, por que não faria no setor privado?”
Empresas como Siemens, Nokia e Motorola passaram a apoiar o evento, consolidando sua relevância no cenário internacional.
Curiosidades e bastidores
Em 2001, em Florianópolis, a abertura na segunda-feira à noite pegou os restaurantes fechados. “A Janete teve que negociar com os estabelecimentos para que abrissem. Foi um trabalho de fôlego”, relembrou Laudálio.
Em 2003, o evento enfrentou o apagão energético. “Conseguimos dois geradores, um de Joinville e outro de Curitiba, para amenizar o problema”, disse.
O papel estratégico do Futurecom para a indústria
Hélio Graciosa, ex-líder do CPqD, destacou o papel do Futurecom na transformação da entidade. “Tivemos que virar uma organização de mercado. E foi aqui que conseguimos visibilidade para exportar software”, afirmou. Ele também relembrou a missão de tornar o Seminte uma iniciativa nacional: “O presidente da Telebras me deu a missão de controlar o Laudálio — uma tarefa impossível”, brincou.
Wilson Cardoso reforçou a importância das discussões técnicas promovidas pelo evento. “Sem ISPs, talvez não tivéssemos estudado na pandemia ou feito telemedicina”, disse. Ele também mencionou a evolução da infraestrutura: “Hoje temos uma densidade de fibra maior que a Alemanha e a França”.
Rio de Janeiro, São Paulo e a transição para a Informa Markets
Em 2012 e 2013, o Futurecom foi realizado no Rio de Janeiro, aproveitando a demanda tecnológica gerada pela Copa do Mundo e Olimpíadas. “Foi um sucesso, mas a parte de serviços era mais complexa”, avaliou Laudálio.
Em 2014, o evento voltou para São Paulo, onde permanece até hoje. “Apesar da resistência das equipes de marketing, São Paulo se mostrou mais estruturada”, disse. Nesse ano, surgiu a proposta de aquisição pela Informa. “Negociamos com o compromisso de continuar gerenciando por mais três anos”, contou.
Reflexões sobre o futuro
Ao final do painel, os participantes refletiram sobre o futuro das telecomunicações. “Em telecom, não dá para prever. Ninguém imaginava redes sociais, criptomoedas ou comércio eletrônico como temos hoje”, disse Hélio. Wilson complementou: “Pessoas espertas não cometem os mesmos erros duas vezes. Que os acertos e erros do passado sirvam de legado”.
O painel encerrou com uma mensagem de gratidão e esperança. “O Futurecom existe por causa das pessoas”, afirmou Nily Geller. “A genialidade do organizador e da equipe é o que mantém esse evento vivo e relevante”, finaliza.
Sobre o legado do evento, Hermano destacou: “O que não falta nessa relação de 30 e tantos anos é história. Algumas a gente pode contar, outras não. Mas o importante é que o Futurecom sempre foi um espaço de articulação, de encontro e de construção”, conclui o diretor de relações institucionais.
Continue acompanhando a cobertura do 30º Futurecom aqui, no Futurecom Digital.
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