O Brasil está às vésperas de uma transformação histórica no setor de radiodifusão. Durante painel realizado no Futurecom 2025, especialistas e autoridades apresentaram os avanços da TV 3.0, tecnologia que promete revolucionar a experiência televisiva brasileira com lançamento comercial previsto para a Copa do Mundo de 2026. Confira os destaques a seguir!
Tecnologia brasileira de ponta
Diferentemente das migrações anteriores, a TV 3.0 representa uma tecnologia genuinamente brasileira. Como explicou Wilson Wellisch, Secretário da Secretaria de Comunicação Social Eletrônica: “diferente até da migração do analógico para digital, onde você tinha uma tecnologia fechada de um determinado país. Agora, não, a gente pode escolher o estado da arte das melhores tecnologias para cada uma das camadas que compõe a TV 3.0.”
A nova plataforma combina o melhor de diferentes tecnologias internacionais, criando um padrão único que atende às necessidades específicas do mercado brasileiro. O sistema utiliza a tecnologia ATSC 3.0 para transmissão, antenas MIMO e incorpora inovações que garantem maior eficiência energética e espectral.
A TV 3.0 traz avanços significativos na qualidade de imagem e som. Wellisch destacou que o novo padrão “sai do padrão Full HD para padrões de resolução 4K, podendo chegar até 8K”. Isso representa um grande salto qualitativo. Além disso, incorpora tecnologia HDR (High Dynamic Range), que melhora drasticamente o contraste, as cores e a qualidade geral da imagem.
No aspecto sonoro, a inovação é igualmente impressionante. Segundo o secretário, a tecnologia permite áudio 3D imersivo, que promete imersão completa, fazendo com que os telespectadores consigam ouvir sons de diversas direções.
A TV 3.0 também promove inclusão digital significativa. Wellisch explicou que o sistema incluirá “um aplicativo de serviços digitais de governo” como primeiro item no mosaico, proporcionando acesso à população a serviços de governo digitais, tanto do executivo, judiciário ou legislativo, a partir da TV.
Interatividade e novos modelos de negócio
Uma das principais revoluções da TV 3.0 é a convergência definitiva entre broadcast e broadband. Wellisch enfatizou que isso representa “o casamento definitivo da TV aberta com a conectividade, somando os mundos do broadband com o broadcast”.
O sistema permitirá comércio eletrônico integrado, conforme explicou Wellisch: “Quando você tem um grande varejista que está fazendo propaganda no espaço publicitário, vendendo algum produto, na programação será possível colocar pop-ups, que permitem fazer a aquisição daquele equipamento, sem a necessidade de um QR Code.”
A programação interativa também será uma realidade. O secretário relembrou o conceito do antigo programa “Você Decide”, explicando que as emissoras poderão aplicar esse modelo de interação. “Com o controle da TV, você vai poder escolher o caminho que aquela série ou aquele determinado tipo de programação vai seguir”, pontua.

Personalização e segmentação avançada
A TV 3.0 introduz capacidades sofisticadas de personalização e segmentação. Wellisch explicou que o sistema permitirá publicidade direcionada geograficamente: “em determinados bairros eu posso fazer um determinado tipo de publicidade, mais focado para um comércio local, e, em outros locais, fazer uma outra propaganda completamente diferente”.
Além disso, será possível gerar alertas de emergência segmentados como, por exemplo, alertas climáticos, avisos de incêndios na região e crianças desaparecidas, sem que isso afete toda programação.
Experiência do Usuário
Vinícius Caram, Superintendente da Anatel, compartilhou sua experiência prática com a tecnologia. Após uma simulação durante uma viagem para Bahia, ele destacou a facilidade do uso: “apertando o botão escrito DTV, se abre um mosaico, facilita o acesso aos canais abertos”, comenta.
Caram destacou que o novo modelo também é mais simples e inclusivo. “Eu, por exemplo, tenho dificuldade, imaginem as pessoas que não têm conhecimento em tecnologia para identificar e encontrar os canais. Com a TV 3.0, o mosaico vai apresentrar todos canais abertos, canais públicos e comerciais, e também terá um botão para os serviços do governo”, reforça.
Desafios Técnicos e Regulatórios
A implementação da TV 3.0 enfrenta desafios significativos de espectro. Caram apresentou dados detalhados: “fizemos uma varredura de todos os canais de VHF e UHF, identificamos em mais de 15.414 canais ocupados e 4.296 canais vagos.” Ele explicou que, para realizar uma paridade entre os canais 2.5 e 2.0, seriam necessários mais de 15.000 canais para viabilizar a TV 3.0.
A solução encontrada foi a destinação da faixa de 300 MHz. Como explicou o superintendente: “depois de 2 anos de longo estudo, nós identificamos que na faixa de 300 MHz, com ela, nós conseguimos disponibilizar 12 canais complementares para a DTV mais.”
Impacto econômico e social
Sérgio Santoro, PMO da SET, apresentou dados econômicos relevantes sobre o setor. Segundo ele, “para cada um real investido em publicidade de forma geral, isso gera R$ 8,54 de PIB” e que “1 real investido em publicidade na TV aberta resulta em 4,70 reais de aumento estimado do PIB.”
Santoro também destacou a relevância da TV aberta no mercado atual: “no share de audiência da Kantar Ibope, de agosto de 2025, considerando todos os dispositivos residenciais, percebemos que a TV tem cerca de 68% de participação da audiência.”

Cronograma e próximos passos
Paulo Castro, presidente da SET, contextualizou a importância do cronograma: “temos que correr para acelerarmos e aprovarmos esse projeto, para que os profissionais fiquem priorizados e para garantir a radiodifusão no primeiro semestre do ano que vem.”
Wellisch confirmou que, no primeiro semestre de 2026, os novos receptores estarão disponíveis para a população. O objetivo é ambicioso: ter a tecnologia pronta para a Copa do Mundo de 2026, aproveitando que “todo ano de Copa do Mundo, a gente tem uma demanda de televisores”, aponta o secretário.
Caram complementou informando sobre os testes em andamento: “temos 3.000 receptores para serem avaliados, distribuídos para uma amostra da população Paulo possa falar melhor para a gente ver a qualidade desse novo modelo da TV 3.0 antes da Copa do Mundo.”
Perspectivas futuras
Castro destacou a convergência entre os setores: “cada vez mais esses dois ecossistemas se conectam. Quando a gente tá falando agora de TV, a TV 3.0 é a inserção definitiva dos radiodifusores nesse novo ecossistema digital.” Ele projetou que estima-se investimentos da ordem de dezenas de bilhões de reais pelas emissoras, pela radiodifusão e infraestrutura para a TV 3.0.
A TV 3.0 brasileira promete não apenas manter a relevância da televisão aberta, mas revolucionar completamente a experiência do telespectador, oferecendo interatividade, personalização e qualidade técnica comparáveis às melhores plataformas digitais mundiais, mantendo o caráter gratuito e universal que caracteriza a radiodifusão nacional.
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