A falta de leitos nos hospitais é uma dor crônica na saúde, especialmente no SUS.
Ele já tomou todos os tipos de remédios e o único tratamento possível parece ser a construção de cada vez mais de leitos. Será mesmo?
Para aumentar a capacidade de absorção de pacientes em um hospital a única solução parece depender de investimentos gigantescos: construir alas, leitos, blocos, contratar equipes, novas infraestruturas e por aí vai.
Mas hoje, com o uso de algumas. tecnologias relativamente baratas, associado à capacitação de equipe multidisciplinar, é possível aumentar virtualmente um hospital sem precisar colocar um único tijolo. Como? Associando o digital à saúde.
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Como os hospitais de hoje funcionam?
A operação de um serviço de saúde hoje é baseada na busca direta pela doença. Exceto ambulatórios, onde vemos sinais incipientes de linhas de cuidados, o restante funciona estruturado sob a doença.
O universo de funcionamento dos hospitais fica restrito a esse perfil de paciente, tendo também a sazonalidade com um inimigo para os bolsos dos serviços privados. Com menos paciente no pronto socorro, a saída acaba sendo a complementariedade inadequada do serviço: manter o paciente mais tempo internado, solicitação excessiva de exames, tratamentos muitas vezes mal indicados… é o moto perpétuo de problemas na saúde privada que, no final das contas, continua entregando uma forma errada de assistência ao paciente .
Ao nível do SUS, o gargalo para acesso ao serviço terciário se torna maior, uma vez que a taxa de esvaziamento hospitalar é baixíssima. Esse represamento gera gastos estratosféricos em todas as esferas da saúde, sobrecarga de serviços e cronificação de situações que seriam sanadas se atendidas no tempo adequado.
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Pensando fora da caixa: os cuidado híbridos
Criar um programa de observação em casa é uma saída simples que, combinando consultas presenciais e telemedicina, é possível fazer com que o sistema de saúde possa atender esses pacientes com segurança em casa.
Veja como:
Um pronto socorro identifica um paciente que normalmente seria internado no hospital para observação e ocuparia um leito. Se esse paciente atender aos critérios estabelecidos pelo programa de vigilância remota, eles iniciam o acompanhamento já no pronto atendimento e o paciente é enviado para casa. Estruturados com uma central de telessaúde, é feito um acompanhamento pela equipe multidisciplinar conforme cada perfil de paciente.
Além desses casos que passaram pela consulta do PA e gerariam “internamento de observação”, os médicos hospitalistas também pode incluir aquele paciente internado que ficaria um ou dois dias a mais somente para o acompanhamento final, aguardando resultado dos exames ou para avaliação de resposta a um novo tratamento.
Com o auxilio de uma central de vigilância, na qual toda a equipe de saúde pode participar, é feito a observação digital em casa desses pacientes que se enquadram no programa. Usando a telessaúde e, em alguns casos, profissionais de visita domiciliar (Tec. enfermagem / Enfermeiro), servidos de equipamentos multiparamétricos, o atendimento ocorreria com segurança no conforto da casa do paciente por meio de uma visita domiciliar que é transmitida em tempo real para a central.
O profissional da saúde que permanece no local, pode ajudar em certos aspectos da avaliação clínica que às vezes não podem ser feitos por vídeo de telemedicina, como auscultar e realizar avaliação física do paciente, podendo ir além, como coleta de exames laboratorias e administrar medicamentos intravenosos e orais, caso necessário.
Não é um serviço de Home-care, mas sim, uma extensão do atendimento hospitalar de forma híbrida, podendo ser usado no lugar da admissão do paciente no pronto-socorro em um leito de observação hospitalar e na alta antecipada. Em um programa como esse, todos os aspectos assistenciais básicos poderiam ser contemplados em até 5 dias.
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Cuidado híbrido é cuidado seguro
Esse sistema de observação em casa é um programa simples que mostra como, por meio de uma combinação de consultas presenciais e telemedicina, o sistema de saúde pode atender uma boa parcela de pacientes com total segurança na questão assistencial em casa.
Sinais de possível sucesso
- Manter o paciente em casa, ao invés do pronto-socorro
- 2. Redução das taxas de readmissão em 30 dias
- 3. Mitigação do problema relacionado a não adesão ao tratamento, um dos principais causadores de reinternamento.
- 4. Aumento da capacidade de atendimento dos hospitais de forma virtual, com crescimento no faturamento, e ROI expressivo.
- 5. Aumento de disponibilidade de leitos de pronto socorro e internamento para casos mais complexos.
- 6. Por meio da coordenação do programa de telemedicina em conjunto com as visitas presenciais, pode-se entregar qualidade assistencial em casa.
- 7. Uso racional de recursos, tornando o programa mais sustentável
Quanto mais o perfil dos pacientes é conhecido pela instituição, mais fácil é fazer campanhas efetivas e oferecer serviços que, realmente, atendem o seu público. O hospital digital exige mudanças importantes nesse sentido, e é preciso existir uma sinergia com a revolução digital na saúde para que os seus benefícios sejam realmente obtidos.
E aí, o que acham da idéia?
* Por Milton Andrade, Médico, Gestor, empreendedor e entusiasta das Healthtech.