Você já parou para pensar por onde viajam as informações que chegam à sua tela em poucos segundos? 

A resposta está no fundo dos oceanos: mais de 95% do tráfego internacional de dados — incluindo internet, ligações telefônicas, transmissões de vídeo e serviços em nuvem — é realizado por cabos submarinos de fibra óptica. 

Apesar da popularidade das conexões via satélite, é essa infraestrutura submersa que garante a velocidade, a estabilidade e o volume de dados que sustentam a era digital.

Para entender melhor essa tecnologia crítica, o Futurecom Digital entrevistou Luiz Henrique Barbosa da Silva, presidente executivo da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp).

Ele nos explicou como funcionam esses cabos, onde estão localizados no Brasil e quais são os seus principais desafios. Saiba mais a seguir!

O que são os cabos submarinos de fibra óptica?

“Os cabos submarinos de fibra óptica são estruturas de telecomunicações instaladas no fundo dos oceanos e mares para transmitir dados entre continentes e países, interligando duas estações terrenas distantes centenas ou até milhares de quilômetros uma da outra”, explica Silva.

Esses cabos funcionam como estradas digitais: conduzem sinais de luz através de filamentos de fibra óptica, possibilitando a troca de informações em altíssima velocidade. Sem eles, o mundo conectado que conhecemos seria inviável.

Como os cabos submarinos funcionam e são instalados?

Ainda de acordo com Silva, “esses cabos contêm filamentos de fibra óptica que transmitem dados por pulsos de luz. Para manter a qualidade da transmissão em longas distâncias, sinais são amplificados periodicamente por repetidores instalados ao longo do cabo, a cada 80 km, por exemplo”.

A instalação, no entanto, exige muito mais do que apenas posicionar os cabos no oceano. 

“Antes de qualquer coisa, é preciso realizar estudos de viabilidade econômica-financeira e estudos de engenharia, que incluem mapeamento do fundo do mar para evitar riscos como falhas geológicas ou rotas de navegação”, destaca o presidente da TelComp.

Ele explica que o processo envolve pontos como:

  • Fabricação dos cabos e armazenamento em grandes bobinas;
  • Transporte em navios especializados;
  • Lançamento cuidadoso do cabo no fundo do mar;
  • Enterramento nas áreas costeiras para proteção adicional; e
  • Conexão às estações terrestres (landing stations), onde os cabos se integram às redes nacionais.

Quem é o dono dos cabos submarinos?

Inicialmente, os cabos eram dominados por consórcios de operadoras tradicionais de telecomunicações

No entanto, Silva revela que o cenário mudou: “Nos últimos anos, grandes empresas de tecnologia — conhecidas como Over The Top (OTTs), como Google, Meta, Microsoft e Amazon — passaram a investir fortemente em cabos próprios ou em parcerias com operadoras”.

Conforme o executivo nos explica, a governança desses cabos pode ocorrer de diversas formas, tais como:

  • Controle majoritário por uma empresa;
  • Divisão entre sócios;
  • Acesso por capacidade contratada, através de contratos conhecidos como Direito Irrevogável de Uso (IRU);

Ainda nas palavras de Silva, “a TelComp possui entre suas associadas empresas que são donas e operam sistemas de cabos submarinos interligando o Brasil aos EUA, África e América Central e do Sul”.

Onde ficam os cabos submarinos brasileiros?

O Brasil tem um papel estratégico no tráfego internacional de dados. “O país possui diversos pontos de chegada e saída de cabos submarinos, conhecidos como estações de aterragem, principalmente em Fortaleza (CE), Rio de Janeiro (RJ) e Praia Grande (SP)”, informa Silva.

Essas cidades são verdadeiros hubs de conectividade, conectando o país a diferentes partes do mundo e assegurando redundância para a infraestrutura nacional.

O que são cabos submarinos backbone?

O termo “backbone” frequentemente aparece em discussões técnicas sobre infraestrutura de rede. 

Segundo Silva, “backbone (espinha dorsal) denota que o cabo submarino é central do ponto de vista de rede de uma operadora, interligando países e continentes e funcionando como tronco principal da comunicação internacional”.

Ou seja, são cabos críticos, de alta capacidade e desempenho, fundamentais para o tráfego de grandes volumes de dados.

Quais os riscos dos cabos submarinos serem rompidos ou cortados?

Apesar de extremamente robustos, os cabos submarinos não estão imunes a acidentes ou ameaças. Silva lista as principais causas de rompimentos:

  • Atividades humanas, como âncoras de navios, pesca de arrasto e dragagem;
  • Fenômenos naturais, como terremotos submarinos, deslizamentos de terra e erupções vulcânicas;
  • Sabotagem ou ataques intencionais, que, embora raros, geram preocupações crescentes em termos de segurança cibernética e geopolítica.

Silva também aponta que as consequências de um rompimento podem ser severas, por exemplo:

  • Interrupção de serviços de internet e dados internacionais;
  • Lentidão ou indisponibilidade de serviços em regiões inteiras; e
  • Redirecionamento forçado de tráfego, nem sempre com qualidade garantida.

“Por isso, os cabos são frequentemente redundantes e monitorados 24 horas por dia para rápida detecção e reparo — feitos por navios especializados, o que pode levar dias ou semanas dependendo da localização e profundidade”, enfatiza Silva.

O futuro dos cabos submarinos

Com a contínua explosão do consumo de dados — impulsionada por inteligência artificial, 5G, Internet das Coisas (IoT) e serviços em nuvem —, os cabos submarinos se tornam ainda mais vitais.

A tendência é de crescimento contínuo dos investimentos, seja por operadoras tradicionais, seja por gigantes da tecnologia. 

O objetivo: construir novas rotas, garantir redundância, melhorar a capacidade de transmissão e aumentar a resiliência das redes globais.

Os cabos submarinos são verdadeiras artérias digitais do mundo moderno. São invisíveis para a maioria das pessoas, mas absolutamente essenciais para o funcionamento da nossa sociedade conectada.

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