Popularizada com a pandemia da Covid-19, a telemedicina está ganhando cada vez mais espaço no cotidiano dos brasileiros. Por meio dessa tecnologia, pacientes podem ter acesso à auxílio médico sem sair de casa.
Vale notar, no entanto, que telemedicina e telessaúde são coisas distintas. Enquanto a primeira se refere ao uso da medicina propriamente dita, como consultas médicas, o segundo engloba todos os serviços de saúde que podem ser realizados de forma remota, como serviços de telecirurgia, telemonitoramento, teletriagem, entre outros.
Também é importante lembrarmos que, para que a telemedicina seja bem-sucedida, é preciso que esta seja acompanhada pelas evoluções tecnológicas existentes e pelo cuidado na segurança digital segundo os preceitos da LGPD.
Ex-CIO do Grupo NotreDame Intermédica e associada à MCIO Brasil, Nancy Abe falou com o Futurecom Digital sobre o assunto. Acompanhe!
Um breve histórico da regularização da telemedicina no Brasil
Abe lembra que, apesar de ter se popularizado com a pandemia, a telemedicina já existia antes, mas a situação sanitária fez com que a legislação sobre o tema avançasse para permitir que mais pacientes tivessem acesso ao recurso.
“Antes mesmo da pandemia, em dezembro de 2018, o CFM havia publicado a Resolução 2.227/2018 permitindo o exercício da medicina mediado por tecnologia. Mas, como não houve consenso entre os médicos do Brasil, a resolução foi revogada em fevereiro de 2019, pela Resolução 2.228/2019”, comenta.
Ainda nas palavras de Abe, “a prática da telemedicina foi autorizada pela Portaria 467 de 20 de Março de 2020, do Ministério da Saúde, ratificada pela Lei 13.989 em 15 de abril de 2020 especificamente para o período da crise sanitária provocada pelo coronavírus, e definitivamente pelo CFM com a Resolução 2.314/2022 em maio de 2022, sendo regulamentada no Brasil em suas várias modalidades.”
Como a telemedicina evoluiu nos últimos anos?
Conforme verificamos na prática, a Covid-19 fez com que os serviços de atendimentos de saúde à distância se tornassem mais frequentes. Mesmo com a pandemia controlada como atualmente, esse segmento segue progredindo para disponibilizar mais facilidades aos que necessitam.
“Durante a pandemia, o grande objetivo foi mitigar o risco de contaminação do paciente e também dos profissionais de saúde. A grande maioria dos atendimentos no início foram na modalidade de pronto atendimento, caminhando depois nas consultas eletivas, de home care e consultas assíncronas”, diz Nancy Abe.
Segundo ela, “em hardware o que evoluiu também foram devices médicos para a captura de sinais vitais e exame físico como o Tytocare.”
Dessa forma, a tecnologia continua se aprimorando para que os serviços médicos feitos por vídeo e conectividade sejam mais estáveis e eficazes.
Quais os públicos auxiliados pela telemedicina na acessibilidade dos cuidados com a saúde?
Questionamos Abe sobre quais os principais grupos que estão se beneficiando desses avanços da tecnologia para a telemedicina. Ela explica:
“Atualmente todos os pacientes atendidos através de um convênio médico ou plano de saúde ou seguro saúde, que oferecem esta modalidade de atendimento.”
A executiva continua: “Já no sistema público, a implementação já foi realizada nos grandes centros, mas sua totalidade depende da esfera municipal e estadual, ou seja, se a unidade de saúde tiver os recursos tecnológicos para o atendimento nesta modalidade.”
Quais os principais desafios de segurança e conectividade para a implantação da telemedicina brasileira?
Também perguntamos à Abe sobre os principais obstáculos que a telemedicina enfrenta hoje. De acordo com ela, há alguns pontos que ainda carecem de análises e ações para que a prática seja cada vez mais assertiva. Ela elenca:
- “Primeiramente a privacidade e confidencialidade dos dados, sejam garantidas quando do armazenamento e manuseio dos dados e imagens dos pacientes, constantes no registro dos prontuários;
- A integridade e integralidade dos dados, garantindo que os dados armazenados sejam do corretamente do paciente e que todos os registros possam ser recuperados;
- Sendo o Brasil um país de dimensões continentais, não podemos ignorar que a capilaridade do atendimento via telemedicina depende da disponibilidade de equipamento com conectividade nas duas pontas, nas unidades de saúde e população/paciente;
- O uso de plataformas e não apenas aplicativos de mensagens instantâneas é também um grande desafio, sendo necessário que as plataformas se adaptem para ter uma melhor experiência e uptime.”
Quais são as perspectivas de tecnologia e inovação para a telemedicina?
Por fim, Abe nos falou sobre as novidades tecnológicas que devem se consolidar e surgir neste segmento. Ela pontuou as novas funcionalidades que deverão fazer parte da telemedicina nos próximos anos. São elas:
- “Conectividade com wearables e IoT vão disponibilizar dados de monitoração por exemplo que aumentarão a eficiência de um atendimento via telemedicina;
- Prescrições digitais integradas com farmácias já são uma realidade, mas a intensificação via marketplace e realização de exames são tendências;
- Triagem qualitativa e agendamento inteligente para evitar que pacientes específicos que não tenham condição de serem avaliados por telemedicina e vice-versa tenham o correto direcionamento para o modelo adequado de atendimento;
- IA na saúde pode apoiar diagnósticos e agilizar direcionamentos de um atendimento realizado através da telemedicina;
- A interoperabilidade, onde seja possível a visão 360 do paciente, com todos os registros de seus prontuários, independente da entidade (pública e/ou privada) em que tenha feito seu atendimento ou procedimento. O que aumentará a qualidade e assertividade do atendimento via telemedicina.”
Para saber mais sobre o tema, confira também nosso conteúdo que trata das implementações do 5G na saúde e na medicina!