Entrar numa loja modelo de cosméticos e sentir o “cheiro digital” de uma fragrância, tomar água fresquinha de uma geladeira que economiza energia e que contribui para a sustentabilidade do planeta e, por fim, entrar num carro conectado para ir ao trabalho. Tudo isso já existe e poderá ser potencializado com a chegada do 5G no Brasil, segundo os participantes do painel Premium “Adoção de IoT otimizando processos, aumentando competitividade e gerando novas oportunidades”, promovido nesta quarta-feira pelo Futurecom Digital Week, que reuniu Renata Marques, CIO da Natura & Co. na América Latina; Flavio Limãos, vice-presidente de TI da Electrolux, e Djalma Brighenti, diretor de TI da Ford na América do Sul, sob a mediação de Paulo Spacca, presidente da Associação Brasileira de Internet das Coisas, ABINC.
Para todos os painelistas, o propósito do IoT é transformar a vida do consumidor para melhor. “O consumidor deve estar no centro do negócio e o planeta também”, alertou a executiva da Natura. Segundo Flavio Limãos, a Electrolux já trabalha com aparelhos conectados e a tendência é investir cada vez mais na utilização da Internet das Coisas para captar dados que mostrem se as novas funcionalidades de seus produtos estão sendo bem utilizadas, se precisa orientar melhor o cliente, além de atuar de maneira preditiva para suportar o consumidor em toda a sua jornada. “Com o produto conectado, nosso cliente pode definir se quer utilizá-lo como geladeira ou freezer, por exemplo, fazendo a alteração de maneira remota. Também pode gerar lembretes para não esquecer de que precisa preparar o peixe para o jantar em até quatro dias, evitando o desperdício de alimentos”, explica.
Assim como Limãos, Djalma Brighenti, da Ford, acredita que o IoT poderá ajudar as diversas indústrias a compreenderem como os consumidores estão fazendo uso dos sensores, bem como extrair valor desses dados para oferecer uma experiência melhor. “O IoT a vai transformar dados em novas oportunidades, ampliar as possibilidades de negócios em todos os setores, garantindo mais conveniência ao cliente”, destaca. Para Renata Marques, o 5G será o super habilitador de novos modelos de negócios, inclusive na área logística.
Quando se fala em IoT, uma das principais preocupações é a segurança e a propriedade dos dados. No caso da Ford, Brighenti garante que o carro só se conecta se houver o consentimento do cliente, pois existe uma grande preocupação da companhia em manter a confiança das pessoas na marca. Com uma latência menor propiciada pelo 5G, a comunicação tende a ser mais fluida entre as pessoas e as máquinas. “Um veículo poderá conversar com outro. Assim, se eu estiver numa estrada e o carro da frente precisar frear bruscamente, ele pode avisar ao meu para evitar uma colisão. Dentro do conceito de cidades inteligentes, teremos carro falando com carro, com semáforos e faixas de pedestres inteligentes”, prevê o executivo da Ford.
Redes abertas
Como o lançamento comercial do 5G impacta no OpenRAN? Esse foi um dos questionamentos trazidos para o painel que discutiu inovação, competitividade e ofertas de soluções e serviços diferenciados no uso de redes abertas. Com moderação de Eduardo Tude, presidente da Teleco, o debate reuniu Atila Xavier, responsável pela arquitetura e inovação tecnológica na TIM; Augusto Pessoa, diretor técnico global da QMC Telecom, e Andres Madero, CIO da Infinera na América Latina.
Com a chegada do 5G, haverá um incremento de projetos de Internet das Coisas (IoT), que demandarão um volume maior de dispositivos. Atila Xavier lembra que as soluções monolíticas, que criam um lock-in com os vendors, podem trazer um incremento no custo de propriedade (TCO) das soluções, o que levou a operadora a buscar alternativas como o OpenRAN capaz de separar não só hardware e software, mas também as funções. Essa separação consegue endereçar o problema de soluções monolíticas e incentivar mais empresas a entrarem no mercado. “Isso foi o que nos motivou a seguir rumo ao OpenRAN, pois acreditamos que é uma tecnologia que veio para ficar”, ressalta o executivo da TIM.
Para Augusto Pessoa, da QMC Telecom, o potencial de reduzir o TCO é um dos grandes drivers para a evolução do OpenRAN. Hoje, 1% das redes globais utiliza a arquitetura, mas a projeção é de que, em 2025, pelo menos 10% das redes façam uso dela. O movimento OpenRAN começou há três anos e, nos testes feitos com redes não tão maduras, já demonstra a redução de CAPEX na ordem de 30% a 40% e de OPEX de 40% a 50% para redes greenfield – como o caso da Hakuten, no Japão, e da Dish, nos EUA. Dentro do CAPEX, com um número muito maior de fornecedores, o preço dos componentes da arquitetura OpenRAN tende a cair. Um exemplo é o programa Evenstar, do Facebook, esforço colaborativo da Facebook Connectivity e dos parceiros globais do setor para acelerar a adoção da tecnologia OpenRAN, a partir do desenvolvimento de rádios macro avançados e de alta potência.
Andres Madero, da Infinera, defende que a criação de um lock-in não é mais economicamente viável para prestadores de serviços. O vasto ecossistema das telecomunicações faz com que a tecnologia seja cada vez mais complexa de se alcançar, e por isso, existem cada vez menos competidores. “O OpenRAN aponta a necessidade de um funcionamento especializado na rede, em que os provedores escolhem quem faz melhor”. O alcance desse ecossistema proporciona inovações e reduções de custos, uma vez que é desagregado. Nesse sentido, o que realmente importa é quem tem a melhor tecnologia”, ressalta.
Sobre aplicações das redes neutras com o 5G, Atila Xavier disse que a TIM iniciou, em 2021, o projeto Open Field, aberto para as operadoras e vendors, com participação da Inatel e Telecom Infra Project, que trabalham na validação das soluções OpenRAN disponíveis para o 5G. “Outro fator importante do projeto é o desenvolvimento de recursos humanos, pois a sociedade vai precisar de uma nova classe de engenheiros, de equipes dentro das operadoras, que sejam capazes de identificar e trabalhar com essas soluções desagregadas de redes”, destaca.
Para Andres Madero, o 5G não é só mais velocidade no celular, mas um mundo de diferentes aplicações que já foram e ainda serão descobertas. “A infraestrutura compartilhada e as redes neutras estão se sobressaindo no ecossistema porque existem melhores maneiras de construir as redes e chegar ao ponto comercial”, complementa o CIO da Infenera na América Latina.
Empresas são os novos bancos
A plenária ‘Embedded Finance: Transformando empresas em “bancos”’ contou com a participação de Mauricio Santos, Financial Products and Solutions Director da Claro; Leandro Vilain, diretor de Inovação, Produtos e Serviços da Febraban; Carlos Augusto Canevassi Leoni, diretor de Cartões, Inovação e Meios de Pagamento da Via; e Thiago Rolli, sócio da prática de Financial Services Consulting da KPMG, com a mediação de Giovanna Sutto, repórter do Infomoney.
O assunto que envolve Open Banking, PIX, fintechs e finanças embutidas – em tradução livre de embedded finance – trouxe representantes de diferentes setores envolvidos nessas mudanças do ecossistema financeiro no Brasil. Todos concordam que o Embedded Finance é uma vantagem para as marcas melhorarem a jornada do consumidor ao adquirir determinado produto ou serviço. Como é o caso da Claro, que criou o Claro Pay, sua conta digital, mas que já tem serviços de seguros, crédito, marketplace e facilidades de pagamento de conta e de recarga de celular. “A Claro é forte no relacionamento com o cliente e é um papel que ganha mais força com o conceito de Embedded Finance”, afirma Santos.
Para a Via, que acaba de passar por uma transformação estrutural, se tornando uma plataforma de relacionamento com o cliente de todo o Brasil, o processo é similar. “Colocando o cliente no centro, a gente quer que ele possa se relacionar conosco, como, quando e onde ele queira. Queremos uma jornada que seja fortalecida pelo cliente e isso é possível pelo Open Banking e Embedded Finance. Isso gera inclusão digital e financeira para o cliente”, completa Leoni.
Segundo Vilain, da Febraban, o Embedded Finance é visto com bons olhos. O incentivo à competitividade é bom para o mercado e para a economia. “O sistema bancário no Brasil é um sistema de ponta. Biometria, tokenização, o sistema de segurança e benefícios para o cliente. O mobile banking no Brasil é um dos mais modernos do mundo, da mesma forma que o internet banking. A Febraban tem investido R$ 20 bilhões por ano em tecnologia. Por isso, há vantagens e uma longa caminhada ainda pela frente nesse processo de modernização do mercado financeiro.”
Thiago Rolli, da KPMG, defende que o processo de plataformização no sistema financeiro é muito benéfico, pois gera competitividade e fluidez na jornada do cliente. “O objetivo do Embedded Finance é trazer mais inclusão e competitividade. Banking as a Service gera novas linhas de pesquisas, se tornando um hub de serviços”, finaliza Rolli.
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