Com patrocínio da TecBan,  o quinto dia do Futurecom Digital Summit foi realizado nesta segunda-feira, dia 29, com a palestra “Regulamentação do Open Banking no Brasil: Abrindo Novas Oportunidades”, conduzida por Otavio Damaso, Diretor de Regulação do Banco Central do Brasil. A apresentação marcou a primeira seção da segunda semana do evento virtual sobre tecnologia e inovação.

Iniciando o dia do evento dedicado à trilha de conhecimento do FuturePAYMENT, Damaso falou sobre as expectativas do BC em relação ao importante tema para o avanço na digitalização financeira do Brasil.

“O objetivo do banco central é tornar o sistema mais competitivo e inclusivo, e o mundo digital, na prática, é uma demanda da própria sociedade. No meu ponto de vista, a agenda de inovação ajudou bastante o sistema financeiro a enfrentar esse momento que estamos vivendo com a COVID-19”, afirmou o palestrante.

Ele prosseguiu: “Uma das lições que fica dessa crise é a necessidade de reforçarmos ainda mais isso, termos um sistema financeiro ainda mais digital e inclusivo para toda a popupalação. Nesse período de isolamento vimos que soluções que levariam anos foram implementadas muito rápido. Vimos também que muitas mudanças de hábito foram adotadas.”

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Regulamentação do BC

Após informar que o Banco Central vem pesquisando e trabalhando no tema desde 2017, Damaso falou um pouco mais sobre como funcionará o sistema.

 “A informação pertence ao consumidor, e cabe a ele como bem usar essa informação, compartilhando se acreditar que aquilo puder lhe trazer benefícios como produtos financeiros melhores ou mais baratos”, disse ele, reiterando a importância que a regulação do BC exercerá para que o open banking nacional vise o melhor para a população.

 “O primeiro ponto da regulamentação que acho importante deixar claro é a participação. O Banco Central decidiu que somente podem participar do open banking as instituições autorizadas e reguladas”, explicou, citando o fato de que as regras serão acompanhas pela entidade.

As quatro fases do open banking

“O Banco Central está disposto a ampliar seu perímetro de regulação, e isso deve ser feito já nas próximas com a divulgação de outros tipos de instituições que poderão operar no open banking”, prosseguiu ele, que explicou ainda que a adoção do open banking será dividida em quatro fases:

“A primeira envolve informações básicas das instituições, o que é extremamente importante pois ajuda as fintechs a oferecerem pacotes para seus clientes, que terão acesso a isso, o que facilita a organização para que ele possa entender onde é melhor adquirir certos produtos ou serviços. Agora a informação será padronizada e disponível de forma digital pelos apps”, explicou.

Ele continuou: “A segunda fase, que é o coração do open banking, é o fluxo de informações dos clientes – sejam as de cadastro, quanto as de transações. Você vai poder autorizar o compartilhamento desse fluxo para terceiros que estejam participando do ecossistema do open banking. Lembrando que essa é uma autorização do cliente para que essa informação possa fluir.”

“A terceira fase é iniciação de operações de pagamento e proposta de crédito, o momento em que o open banking se une com pagamentos instantâneos e PIX, e você começa a ter essa fluidez. E a quarta fase é um passo além, quando é iniciada a operação do escopo, incluindo operação de câmbios, seguros, previdência complementar, e outros serviços oferecidos pelos conglomerados financeiros”, complementou Damaso.

“Mesmo com todos os desafios que se apresentam no isolamento social, o open banking não sofreu atrasos em seu andamento. A regulamentação já foi publicada e o efetivamente já se inicia em novembro de 2020, e o processo será concluído com a quarta fase em outubro de 2021”, concluiu.

Benefícios do sistema

De acordo com o palestrante, o novo sistema de open banking a ser implementado no Brasil a partir dos próximos meses trará benefícios aos clientes. Ele explica:

“A jornada do cliente recebeu uma atenção muito atenta para que ela seja segura e eficiente. A partir do momento que eu, cliente de uma fintech, mas que tenho toda minha vida financeiro em outra instituição, e inicio o processo de compartilharmento de dado, eu não posso ter essa jornada dificultada pelo meu banco.”

Para Damaso, o processo até o momento tem transcorrido com tranquilidade, e o BC está atento para que o novo passo seja dado de forma cautelosa e regulada:

 “O Banco Central do Brasil vai acompanhar passo a passo todos os desenvolvimentos técnicos, e sempre terá a prerrogativa, se algo sair fora do princípio, de puxar para a regulação. Mas, apesar de divergências que existem entre players que estão já participando do processo, a nossa visão é que tudo tem fluído com tranquilidade e que o processo será concluído com tranquilidade para a implementação do open banking nacional”, explicou ele.

Comparação com a internet

Damaso ainda utilizou uma comparação com a revolução da internet para falar sobre as inovações que o open banking trará ao setor financeiro do País:

“Guardadas as proporções, o open banking se equipara à internet nos seus primeiros dias. No início pode-se achar que é apenas algo para trocar informações entre duas informações, e depois de quarenta anos você vê a revolução que isso representou na economia. No caso do open banking, a expectativa é que em alguns anos possamos olhar para trás e ver como isso mudou a forma de relacionamento financeiro e os benefícios que isso trouxe ao cidadão. O open banking é uma plataforma que estamos criando e o que vai vir na esteira disso são as inovações”, encerrou.

A revolução dos serviços financeiros

Após o representante do BC, o moderador Eduardo Neger, da ABRANET, iniciou o primeiro painel do dia, com o tema “Revolucionando os Serviços Financeiros através do Open Banking”. Prosseguindo na visão de Damaso, Neger aproveitou para introduzir o debate:

“Muitas vezes não temos a ideia clara de como o open banking vai impactar na nossa vida, e o que isso irá gerar, e hoje temos a oportunidde de falar sobre isso com grandes especialistas sobre o tema”, refletou.

Convidado do bate-papo, Tiago Aguiar, Superintendente de Novas Plataformas (Negócios Digitais) daa TecBan, iniciou as conversas:

“Um conceito fundamental do open banking e ponto de partida é que os clientes são donos e vão gerir seus próprios dados. Acho que vamos assistir e participar ativamente  de uma amplicação da distribuição de produtos financeiros. Até pouco tempo o próprio banco desenvolvia e distribuia seus próprios produtos. Acho que a partir do open banking teremos produtos chegando a quem não tem acesso. O grande objetivo é incluir financeiramente as pessoas que não têm acesso a crédito.”

Para o convidado, o sistema representará ganhos de inovação e operação para o sistema bancário do Brasil:

“Numa colaboração entre instituições, bancos grandes e fintechs, isso vai trazer muita inovação, assim como ganho operacional. Eu vejo que o universo financeiro vai se expandir bastante, a gente não consegue dimensionar o que vai acontecer, mas acho que o open banking junto com IoT, IA, blockchain, 5G, tudo isso vai mudar. O campo vai ser ampliado, vamos ter um campo de jogo muito maior, mais player vão entrar mas teremos um mercado muito maior”, afirmou.

Mudanças no sistema financeiro

Conselheiro da ABFintech, José Luiz Rodrigues traçou um panorama nas mudanças dos últimos anos e o impacto que elas estão exercendo:

“Se juntarmos tudo o que aconteceu de 2008 pra cá, essa mudança de tecnologia e postura do sistema financeiro, isso veio caminhando, e o segmento que eu represento era tido como um oponente ao sistema financeiro e hoje é visto como um parceiro. O sistema tradicional vem trabalhando lado a lado com as fintechs para que as coisas aconteçam bem”, analisou.

Ele prosseguiu: “Com a crise que estamos vivendo, tivemos o que é chamado de teste de stress. Um teste diferente, complicado, onde todos olhamos tudo o que estava acontecendo e colocamos em prática aquilo que achávamos ou não que podia funcionar. Acredito que todos tiveram que olhar muito bem pois tudo ocorreu muito rápido.”

Segundo o painelista, as novidades representam vantagens tanto para os clientes quanto para os bancos, que precisarão se reinventar em uma oportunidade de aceleração digital:

 “A junção disso é um grande pacote em benefício do cliente final. Quem souber prestar um bom serviço e atrair os clientes, amanhã olhará pelo retrovisor e verá o resultado”, disse. E prosseguiu: “Os bancos estão se repensando. Não existe exclusão, existe inclusão. É uma oportunidade única de termos um novo sistema financeiro e um produto de forma realmente única.”

Cautela para a transição

Outro dos participantes do importante painel foi Leandro Vilain, Diretor de Políticas e Negócios e Operações da FEBRABAN. Para ele, apesar da empolgação que a novidade causa, é preciso ter cautela e analisar situações já ocorridas no passado para tomar as decisões:

“Como tudo que é transformacional, assim como a internet foi nos anos 80, é preciso tomar cuidados. A ideia é boa, e por isso mesmo é preciso cuidar. Para quem se lembra da década de 1990, a internet ainda era discada, fazia-se muita pesquisa, mas ainda poucas transações. Hoje temos mundialmente um mercado de e-commerce, o sistema financeiro se apoiando fortemente em cima das transações digitais, e toda uma mudança comportamental que a gente observou”, observou.

Para ele, a velocidade dos tempos atuais exigirá dos bancos atenção, mas ele observa que o open banking deve trazer uma série de mudanças benéficas para o setor bancário brasileiro:

“Tivemos vários percalços pelo caminho e algumas lições aprendidas. Acho que o open banking não será diferente. Hoje, diferentemente da década de 1990, a velocidade com que as coisas acontecem é muito mais rápida”, analisa. “O setor bancário é que mais tem interesse em ver o open banking dando certo, pelas milhões de horas e esforços colocados. Esperamos que isso funcione e traga todos os benefícios esperados. Estamos bastante entusiasmados com o projeto e as perspectivas que temos em frente”, completou.

Benefícios para a sociedade

Sócio-Lider da Indústria de Financial Services da Deloitte, Sergio Biagini apontou também para a flexibilação que o open banking trará aos clientes como uma de suas grandes vantagens:

“Se olharmos o mercado financeiro nos últimos anos, vemos operaçõas bastante verticalizadas. Quando olhamos o advento do open banking, vemos uma desintegração disso. Você dará o direito ao consumidor de que, dentro da plataforma que ele escolher, agrege serviços e produtos”, explicou.

E continuou:“E isso também dará às instituições financeiras a possibilida de agregar outros produtos aos seus negócios, o que possibilita o surgimento de um novo ecossistema, e isso é incrível. E as instituições financeiras podem criar novas estratégias simultâneas, pois não existe uma única.”

Superintendente de Open Banking & Instant Payments do Itaú, Ivo Mósca foi em uma linha similar, apontando o fato de que a adoção do sistema é a derrubada de uma barreira no setor:

“Não há uma clareza ainda de um produto vencedor. Vemos produtos que vão para os dois lados. Quando a gente olha para o open banking, o que vemo como principal no momento é a derrubada de uma barreira, a questão dos dados e informação”, explicou.

Diminuição da burocracia

Para ele, o controle dos dados cadastrais por cada cliente ajudará a diminuir com a burocracia que tanto incomoda os brasileiros quando falamos de operações financeiras. Ele analisa:

“Os dados cadastrais dos clientes, por exemplo, uma vez que eles ficam de fácil acesso aos próprios clientes, isso ajuda a derrubar uma barreira de onboarding de produto de uma instituição. Vamos lembrar que, até recentemnete, quando queríamos abrir uma conta ,tinhámos que levar uma série de documentos até o banco.”

“Agora, vamos para um novo nível: se você quiser abrir uma conta no open banking, basta você autorizar o acesso aos seus dados, o que permite que você não precise movimentar qualquer documentação. Com a barreira de onboarding caída, você conhecer o cliente torna-se mais fácil”, dissse ele, que apontou ainda as vantagens para os clientes com o formato.

Outras vantagens

 “Em relação aos benefícios para o cliente, além da redução de custos, ficará muito mais fácil trocar de instituição se você não estiver feliz com a sua atual. Isso vai ajudar e muito na digitalização e redução de custos em forma geral, e vamos aguardar agora os próximos passos. A primeira fase se inicia ainda em 2020, e temos toda uma camada de autoregulação para colocar de pé e explicar os próximos passos, então estamos todos ansiosos aqui”, concluiu.

Ao longo da conversa, os convidados falaram ainda sobre outros temas de grande importância para o avanço do setor bancário do País, como as diferenças regionais de um país continental como o Braisl, que demandarão estratégias diferentes daquelas aplicadas em países menores que já aderiram ao open banking.

Os painelistas analisaram ainda a oportunidade que a revolução traz para que a educação financeira da população siga sendo implementado, caminhando assim para uma economia mais sólida com operações bancárias mais claras, baratas e vantajosas para a sociedade.

Veja as palestras do Futurecom Digital Summit em: https://videos.netshow.me/informaInscreva-se no evento para acompanhar os painéis dos outros dias desta imperdível realização.