Semana retrasada, estive na Agrishow – Feira de Tecnologia Agrícola em Ação. É a principal feira do setor agropecuário no Brasil. Para cada lado que eu olhava via algo muito interessante.

Do micro ao macro: desde o Uber das abelhas até uma colheitadeira gigante de alguns milhões de reais. 

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Uma das cenas que mais me chamou a atenção foi a fila de pessoas em cada stand de maquinários para subir em suas cabinas e experimentar, mesmo que por alguns segundos, a sensação de ocupar o assento de piloto daquelas máquinas imensas. O paralelo que fiz naquela situação foi a vontade das pessoas de assumirem a posição de piloto em um carro esportivo numa feira de automóveis. 

Será que elas estavam ali pelo prazer de sentar ao volante daquele enorme bólido? Tive a impressão de que sim! Mas além de apreciar a vista do cockpit dessas máquinas, percebi que o objetivo dessas pessoas era apreciar toda a tecnologia que estava embarcada nelas. Joysticks eletrônicos, muitas telas com ajustes, câmeras e até comunicação via satélite para georreferenciamento. 

Mas voltando ao micro, em outros estandes vi muita tecnologia em análise de solo, consumo de água e defensivos agrícolas, rastreamento de animais, pessoas e veículos, enfim: uma infinidade de casos de uso envolvendo tecnologia. 

Um dos assuntos que mais discuti no evento foi a demanda por conectividade no campo. O assunto estava realmente quente, seja através das redes públicas ou por meio de redes privativas.  

No meu artigo do Agrofy News, escrevi que não existe uma solução que atende todos os casos de uso. E nós, consultores de tecnologia, temos um papel importante para esse setor: o de trazer conhecimento de maneira precisa e ética para contribuir com o debate tecnológico. 

Qual é a tecnologia que vai resolver o problema de conectividade do Agro.jpg

Eu me preocupo quando vejo pessoas, na ânsia por vender seus produtos, dizendo que a sua solução é a salvação para determinado segmento. Além de confundir a opinião daqueles que estão buscando conhecimento para avançarem em suas jornadas de evolução tecnológica, pode criar uma imagem errada sobre outras soluções. Soluções diferentes exigem requisitos de conectividade diferentes. Para explicar, trago dois casos de uso voltados ao agro: 

  • Um proprietário de uma fazenda que precisa monitorar abertura e fechamento de diversas porteiras em uma propriedade extensa. O alarmar de um sensor de abertura de uma porteira pode significar muitas coisas: fuga de gado, invasão de propriedade e até o controle de fluxo de máquinas ou pessoas. Por estar localizado em uma parte tão remota de uma fazenda, a fonte de energia pode ser o “calcanhar de Aquiles” do proprietário.
  • Nesse caso, o problema é como melhor posicionar um sensor que tenha um consumo baixo de energia, leia-se menos troca de baterias ao longo do tempo, e uma rede que trafegue as informações em uma baixa taxa de dados. Pode ser o suficiente para a pessoa que vê um grande valor na informação de uma porteira aberta.

Vamos pensar em uma câmera que monitora, em tempo real, bovinos em um pasto. A análise das imagens geradas por essa rede de câmeras pode trazer diversas informações sobre o gado: a quantidade, se algum deles se desgarrou e fugiu, a temperatura por uma câmera térmica, se está deitado há muito tempo, pode ser um sinal de doença. A questão aqui é substituir pessoas monitorando o gado por um algoritmo de inteligência artificial e um sensor térmico que podem monitorar de maneira autônoma e alarmar somente quando necessário.

Tecnicamente falando, o problema aqui é a necessidade de mandar uma quantidade de dados muito grande da câmera até o servidor onde as imagens são processadas por IA. Nesse caso, a solução seria uma rede robusta, sendo a velocidade do link muito importante. Contar com uma fonte de energia 100% do tempo é mandatório para essa câmera.

O importante é que os que buscam soluções tecnológicas para o Agro, pesquisem bastante e construam casos de negócio que atendam as suas necessidades antes de comprar uma solução. Dessa forma, vejo que uma abordagem consultiva, capitaneada por um especialista que entende o problema antes de dar a solução, é mais vantajosa para o produtor do que uma simples venda de soluções.

E isso vale para qualquer setor. É muito importante entender o negócio e o resultado esperado antes de dizer que a solução A ou B não funciona, concorda?

* Mauro Periquito é Diretor Especialista de Prática na Kyndryl Brasil, aborda temas relacionados à Conectividade, Indústria 4.0, Saneamento Digital e IoT. 

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