Com patrocínio da CSG e da Angola Cables, a última seção do oitavo dia marcou o encerramento do 1º Futurecom Digital Summit. Com o tema “O Ecossistema de Telecomunicações como plataforma habilitadora da Revolução Digital”, a conversa foi moderada por Alexandre Bicalho, Diretor de Regulação e Auto Regulação, Sinditelebrasil.
Iniciando o papo, o EVP & Presidente de Tecnologia e Produtos da CSG, Ken Kennedy, apresentou algumas observações sobre o tema.
“Nós percebemos que o tráfego de dados passou a crescer e que a digitalização passou a estar presente em todos os segmentos. O que vejo é que isso já é uma realidade, veja por este painel, por exemplo. Vejo que as operadores fizeram investimento para sustentar esse crescimento no uso”, explicou Kennedy.
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“Isso também forçou com que as companhias se adaptassem, e agora é o momento para que elas tomem ações. Veremos dois tipos de empresas: aquelas que vão culpar a pandemia por sua performance, e aquelas que irão investir para crescer e transformar sua organização para que cresça e se aproveite do cenário digital”, prosseguiu o especialista.
Potencial da América Latina
O representante da CSG também apontou o potencial de conectividade da América Latina como fator que está ajudando a impulsionar as mudanças digitais catapultadas pela pandemia.
“Se olharmos para a América Latina, 68% das pessoas tem acesso a um celular, e 60% desses tem acesso à internet. Existe uma oportunidade para inovar, trazer novos serviços digitais e ganhar uma fatia maior do mercado. A pandemia está criando uma grande oportunidade para negócios digitais. Existem negócios que estão fechando fiscamente e indo para o online, e os consumidores estão começando a preferir essa modalidade”, observou.
E completou:“Precisamos de modelos de negócios ágeis e propícios para esses novos negócios. Acho que isso é algo que a pandemia está acelerando.”
Infraestrutura nacional
Na sequência foi a vez de Carlos Eduardo Medeiros, Diretor de Regulamentação e Assuntos Institucionais da Oi, opinar sobre o assunto. Para ele, alguns fatores ainda atrapalham o pleno desenvolvimento do potencial das telecomunicações no Brasil.
“Quando a gente fala de infraestrutura, a gente também tem que olhar um ambiente menos restritivo para poder atrair investimento e dar o retorno para esse investimento, que vai por sua vez financiar essa estrutura. Esse é um negócio de escala, de capital intensivo, então a gente precisa ter uma redução das barreiras de entrada para que a população possa aproveitar dessa estrutura”, analisou.
Segundo o representante da Oi, fatores como carga tributária e um viés mais voltado ao investimento e menos à arrecadação podem beneficiar o país.
“O Brasil está no topo do ranking de cargas tributárias no setor de telecomunicações. E falaria também de aplicações de fundos setoriais. A gente vê casos de sucesso em outros países, e não só para construir infraestrutura em áreas mais carentes, mas também para que a população possa usufruir dela”, explicou.
E prosseguiu: “Também falamos do licenciamento e regulamentação dessa infraestutura, e vemos que ainda é um ambiente restritivo na realidade brasileira. E falando de 5G, estamos abordando leilões com cifras bastante expressivas, então ele deveria ter um viés menos arrecadatório e mais voltado aos investimentos.”
A digitalização em números
Outro convidado que deu sua contribuição ao painel foi António Nunes, CEO da Angola Cables. Em su fala, Nunes mostrou dados observados pela empresa africana que revelam que as mudanças causadas pela pandemia do coronavírus são reais e palpáveis.
“O processo de digitalização é algo específico que tem a pandemia como pano de fundo. Nós já vinhamos percebendo e promovendo um avanço no caso da digitaliação, e o Brasil é um desses casos. Eu posso dizer que o custo por megabytes desde que a Angola Cables iniciou suas operações diminuiu muito, o que mostra um aumento no consumo e da oferta de dados”, iniciou.
“No Brasil eu posso dizer que o tráfego que processamos aumentou seis vezes mais nesse período. Na África o aumento foi de cerca de duas vezes, e a nível global, cerca de três vezes mais. Então sem dúvidas que a forma como nós iremos manter os negócios fundando serão muito mais digitais”, disse.
Mudança cultural
Quem também dividiu seu conhecimento durante o painel de encerramento do evento digital foi Leonardo Capdeville, CTIO da TIM. Em sua visão, a pandemia acelerou uma mudança cultural, o que está se refletindo em diversos aspectos e deve ser observado pelas operadoras.
“Na hora que a necessidade entrou por uma porta, a antiga cultura saiu pela outra. Então vimos que era hora de acelerar, de investir em infraestruturas que já existiam. Então nós conseguimos ver o tráfego sair das áreas comerciais, do centro da cidade, e ir para as áreas residências. Também vimos mudança no uso de apps, com aplicativos de mobilidade dando mais vazão a aplicativos de streaming. Vimos também o uso de aplicativos colaborativos, e um aumento grande na rede fixa, no wifi. Na rede móvel, o interessante é que ela não diminuiu, mas não cresceu”, observou.
E prosseguiu: “Isso porque, se por um lado quem tinha o wifi passou a usar mais a rede fixa, quem só tinha a rede móvel passou a usá-la com mais intensidade. E para isso precisamos preparar alguns ajustes na rede, como diminuir a latência, fazer deslocamento para as áreas residenciais, e de certa maneira eu diria que as redes se comportaram muito bem e isso foi uma surpresa positiva para as operadoras e para os consumidores. Existem desafios, um monte, mas vemos como de fato telecom é um importante motor para essa mudança da sociedade.”
Impactos da crise
CMO da Claro, Márcio Carvalho foi mais um a corroborar a visão dos impactosda crise e dos aspectos para os quais as empresas de telecomunicação devem se atentar para se adequar aos cenários que se desenham para o presente e futuro.
“Esse é um momento de estar com sensibilidade máxima ligada, entendendo todas as alterações, entendendo os impactos que o vírus está trazendo para a saúde e economia, e ajudar a fazer do digital um habilitador para a sociedade, corrigindo uma série de distorções que ainda temos”, explicou.
“Citamos aa questão de impostos, de infraestrutura, e vemos que ainda temos muitas coisas a corrigir para incentivar a iniciativa pública e ao mesmo tempo fomentar o desenvolvimento da infraestrutura para as áreas remotas. E para chegar a todo o Brasil ainda temos muito para refletir, corrigir e acelerar. Os novos ciclos de investimento de tecnologia são portunidades de corrigirmos certas políticas públicas e acelerar a digitalização do país como um todo”, completou.
Jornada do cliente
De acordo, Kennedy afirmou que esses avanços devem ser realizados buscando compreender e melhorar a jornada do cliente, como explicou:
“Você pode, por exemplo, otimizar cada interação do seu cliente, automatizando processos variados e mapeando a jornada do seu consumidor e como melhorá-la. É o que chamamos da orquestração da jornada do cliente, entender e permitir inteirações melhores, guiando seu cliente por diferentes canais. E por fim, temos também a análise dessa jornada, aprendendo com o que estou funcionando ou não está, realizando testes A/B e seguir aprimorando essas inteirações.”
Já para Carlos Eduardo, uma verdadeira revolução demandaria outras ações. Para ilustrar seu pensamento, ele apontou o exemplo da Estônia:
Olhando essa questão por uma agenda positiva de desburocratização, o exemplo da Estônia, eles tem lá em torno de 98.2% da população com um RG digital com chip que garante acesso a mais de 500 serviços do governo. E isso tudo traz um impacto digital no PIB e nas reduções. Com essa digitalização eles chegaram a poupar 2% do país, o que é muito expressivo, e o Brasil tem que colocar isso na pauta. Quando a gente fala em revolução, tem que ser uma coisa estrutural, para que seja daqui a 20 ou 30 anos, não conjuntural”, analisou.
Papel dos governantes
Nunes prosseguiu o debate, levantando o fato de que, mais do que a digitalização, é preciso de uma mudança de pensamento nos governantes.
“Para o ecossistema funcionar precisamos que as infraestruturas estejma prontas, que as pessoas possam usar essas infraestruturas e que a regulamentação seja adequada. Em muitos países da Europa o e-government é algo que trouxe muitas vantangens aos próprios governos, mas é preciso também que os próprios governantes estejam preparados para isso”, afirmou.
“Mas acredito que ainda levará um tempo para que países emergentes, como a Angola e o Brasil, cheguem nessa fase da verdadeira digitalização que poderá impactar em suas economias.”
Setor logístico
De acordo com a opinião de Leonardo, outro aspecto evidenciado pela crise e que deve ser trabalhado é o setor logístico.
“Tivemos uma migração de fluxo pro comércio eletrônico, e é interessante porque vemos a infraestrutura de telecom, e talvez outra infraestrutura que sofreu muito com o aumento de demanda foi a de logística. A gente acaba vendo como as coisas estão entrelaçadas, pois com o fechamento dos pontos físicos as pessoas recorreram à internet, e aí vimos que ainda existem gargalos que precisam ser vencidos”, opinou.
A força dos pequenos
Para Márcio, a digitalização também deve ser feita visando a forma de ajudar os pequenos e médios empresários, que, em termos práticos, oferecem enorme contribuição para a capilaridade do ecossistema de telecomunicação e negócios do país.
Na conversa, os painelistas também abordaram as mudanças que devem surgir com o chamado “novo normal”, assim como as novas relações dos consumidores com os canais digitais, que serão reformulados para acompanhar essa transição.
Quer conferir a palestra e o painel na íntegra? Assista tudo o que rolou no 1º Futurecom Digital Summit gratuitamente em: https://videos.netshow.me/informa.