A criptografia, através do NFT (sigla para non-fungible token, que em português significa token não-fungível) está revolucionando o mercado de arte digital. De músicas a memes, a produção artística e intelectual na era da tecnologia vem ganhando status, tornando esse mercado mais seguro e, consequentemente, mais rentável. 

Mas afinal, no que consiste o NFT? O termo “não-fungível” se apoia na ideia de que determinados bens são ou não fungíveis. O conceito aplicado pela economia trata bens fungíveis como aqueles que não são únicos, apesar de intercambiáveis. 

Por exemplo: se você trocar uma nota de 20 reais por outra igual, ela continua equivalente ao seu valor. No caso de um bem, como uma obra de arte, elas são consideradas “não-fungíveis”, pois, ao trocá-la por outra, você fica com algo diferente, já que uma obra nunca será igual a outra.

Assim, essa tecnologia utiliza recursos avançados de criptografia como o blockchain, que também é utilizado na criptomoedas, para o registro de propriedade de um objeto digital. Dessa forma, artigos puramente digitais, como documentos, códigos e imagens, passam a ter um único dono. 

“Ao ser registrado como um NFT, o arquivo adquire características de autenticidade e propriedade, estimulando uma economia bilionária de bens digitais. Ou seja, é algo que não pode ser trocado, por conta de suas especificações individuais”, afirma Vitor Magnani, presidente da Associação Brasileira Online to Offline – ABO2O.

Impactos do NFT no mercado de arte

A extensa gama de obras digitais que integram o universo da arte inclui vídeos, música, jogos, GIFs, ilustrações e até os populares memes. Com o NFT, é possível que qualquer artigo digital “assinado” pelo seu autor seja vendido globalmente em mercados descentralizados. 

Nesse processo, o detentor dos direitos autorais da obra recebe uma porcentagem cada vez que o NFT é vendido ou sua propriedade é transferida. Trocando em miúdos, é como se a construtora de um imóvel continuasse recebendo um valor por ela a cada vez que fosse vendida para terceiros.

“Quando criptografamos uma arte digital, é como se ela fosse ‘embaralhada’, transmitida e, depois, ‘desembaralhada’ por quem a recebe, de modo a impedir que outras pessoas abram a mensagem. É como atribuir uma marca ou um código, que passa a ser uma assinatura única a qualquer trabalho digital”, explica Marisa Melo, curadora artística, especialista em arte e fundadora da UP Time Art Gallery, galeria de arte itinerante que busca democratizar a arte contemporânea.

Segundo Marisa, o projeto, que surgiu bem antes da pandemia, nasceu com a visão de que o futuro seria muito mais virtual do que presencial. 

“Nós já tínhamos o conceito de democratizar a arte e deixá-la mais acessível para todos os públicos ao redor do mundo. Portanto, essa tecnologia vem para, além de manter padrão de qualidade e confiança entre nossos artistas e clientes, quebrarmos mais paradigmas. É um caminho sem volta e as galerias que mais rapidamente se adaptarem, terão um futuro melhor”, acredita a curadora.

NTF e direitos autorais

Não é raro que artistas digitais e produtores de conteúdo, por exemplo, encontrem dificuldade para registrar suas obras e proteger seus direitos autorais no universo online. Nesse sentido, o NFT surge como uma possível solução para os autores. 

“Ao utilizar a ferramenta, em parceria com contratos inteligentes que permitem incluir atributos detalhados como identidade do proprietário, metadados e link seguro, o NFT torna o processo mais simples, sendo possível identificar o autor e proprietário. Além disso, ao invés de comercializar várias cópias, o artista digital venderá menos itens com um valor ainda maior para os dedicados fãs”, enfatiza Magnani. 

No caso das obras de arte físicas, sua originalidade é garantida por experts que se dedicam à tarefa de analisar minuciosamente cada peça, a fim de confirmar sua autenticidade. Através do conhecimento profundo do estilo do artista, esses especialistas conseguem identificar, por meio de um traço ou uma pincelada diferente, se o quadro é original ou uma falsificação. 

Mas como garantir a autenticidade no mundo digital? Para a especialista em arte Marisa Melo, a criptografia é a tecnologia que permite a identificação e proteção da arte digital. 

“Com este recurso, a arte digital sobe mais um degrau rumo ao reconhecimento de seu valor, sem nada dever às modalidades artísticas convencionais”, explica.

Exemplos famosos de NFT

Um dos exemplos mais famosos de NFT é o “Everydays: The First 5000 Days”, que foi arrematado num leilão, em março deste ano, por US$ 69 milhões. A arte reúne uma coleção de desenhos e animações digitais feitas durante 5 mil dias consecutivos pelo artista Beeple.

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Outro exemplo é um GIF de fantasma da Gucci, que foi arrematado por US$ 3.600. Já uma coleção de móveis digitais, de Andrés Reisinger, rendeu U$ 450 mil em menos de 10 minutos. E o Twitter, que vendeu o primeiro tuíte de sua história por US$ 2,9 milhões.

E, para citar um artigo digital bastante conhecido, temos a fotografia da criança de sorriso sarcástico em frente a uma casa pegando fogo: um meme que roda a internet mundo afora. A imagem foi leiloada em abril deste ano por US$ 473 mil, e quem a vendeu foi a própria menina da foto, Zoe Roth, hoje com 21 anos de idade.

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A foto, que foi tirada pelo pai da garota em 2005, quando a família morava próxima a uma unidade do Corpo de Bombeiros, na Carolina do Norte, irá render 10% do valor toda vez que o meme for comprado em sites especializados.