Acompanho o Mobile Word World há mais de duas décadas e, a cada edição, os debates sempre surpreendem pela qualidade das apresentações, pela abordagem das tendências e das responsabilidades das empresas que compõem o vasto ecossistema de telecomunicações no mundo. Na sessão inaugural do MWC 2023, o presidente da Telefónica e da GSMA, José María Álvarez-Pallete, apresentou a iniciativa GSMA Open Gateway, que busca unir empresas de telecomunicações, indústria, big techs e desenvolvedores para criarem juntos o futuro digital. A expectativa é resgatar o mesmo papel de liderança da telefonia móvel na disseminação do padrão GSM e das gerações 3G e 4G.

Compartilho da visão de Álvarez-Pallete de que é preciso unir todo mundo para gerar oportunidades para toda a indústria e valor para os consumidores. A ideia é fomentar um modelo de padronização para acesso às redes. Ou seja, a partir das APIs (as oito primeiras já foram apresentadas durante o evento), os desenvolvedores poderão criar aplicações capazes de acessar recursos das redes de telefonia móvel e de se conectarem com todas as operadoras no modelo de um supercomputador global. Sob a liderança do GSMA, 21 operadoras se uniram para alavancar o projeto: América Móvil, AT&T, Axiata, Bharti Airtel, China Mobile, Deutsche Telekom, e& Group, KDDI, KT, Liberty Global, MTN, Orange, Singtel, Swisscom, STC, Telefónica, Telenor, Telstra, TIM, Verizon e Vodafone.

Grandes empresas de tecnologia como a Ericsson, Nokia e Huawei, por exemplo, também destacaram oportunidades adicionais de crescimento de receita com o 5G para provedores de serviços, seja estendendo o alcance da conectividade principal para novos segmentos, como redes de missão crítica para serviços e segurança pública, ou por meio da oferta de futuros serviços premium baseados em realidade estendida (XR), que combina realidade aumentada, virtual e mista (AR/VR/MR) e os primeiros pilotos de 5,5G e 6G.

Também são destaques no MWC 2023 temas como eficiência energética (presente nas discussões da maioria das operadoras), serviços dedicados e diferenciados para a ponta, aplicações dedicadas e inclusivas para o 5G (projeto para deficientes da T-Mobile), além de um show de automação, uso de inteligência artificial, IoT extensivo, Metaversos interativos, mobilidade do futuro e muito mais. O estande da Softex e da Apex Brasil reuniu um grupo de empresas brasileiras habilitadas para o mercado internacional. A Agile inc. apresentou excelentes soluções para o desenvolvimento sistematizado (via Agile, Scrum) com algumas importantes referências.

Durante o evento, acompanhei algumas provas de conceito na direção da “internet dos sentidos”, com sistemas de altíssima frequência (90GHz), tecidos perceptivos (sensíveis à pressão e ao movimento) e ainda sistemas de “colheita de energia”, fazendo uso de vibrações a ondas de rádio. Também chamam atenção os sistemas tecnológicos para a aceleração das redes com o uso de IA e digital twins (gêmeos digitais), seja em termos de planejamento de arquitetura de rede, como de eficiência e segurança estendidas.

Novos modelos de monetização se abrem com sistemas de realidade mista, turbinados por alta capacidade de processamento e baixa latência, dando espaço à imaginação das equipes de marketing, como a demonstração que assistimos de um jogo de hóquei no estádio de Tampere.

Os cães robôs roubaram a cena para demonstrar a capacidade dos gêmeos digitais em replicarem digitalmente um ativo físico em um ambiente virtual. Os sensores inteligentes coletam dados do produto, em tempo real, e os transportam do físico para o mundo virtual.

Da mesma forma, as discussões sofre o metaverso e o 6G, padrão de sistema móvel em desenvolvimento, causaram burburinho no maior evento de telecomunicações do mundo. Enquanto o 5G é mais voltado para aplicações corporativas, a próxima faixa terá um foco muito maior na experiência do consumidor, podendo transmitir sensações e movimentos ao corpo humano. É a tecnologia criando sensações táteis.

Não poderia deixar de mencionar a participação do Futurecom na reunião da Delegação Setorial Brasileira em Barcelona, em que buscamos avançar em pautas extremamente relevantes para o mercado brasileiro das telecomunicações: reforma tributária, inclusão digital e isonomia entre os serviços de telecomunicações e de plataformas. Outras pautas muito relevantes e complementares, como a questão do custo e gestão de postes, foram tempestivamente trazidas, a partir da apresentação dos eixos estratégicos do Ministério das Comunicações: a) conectividade significativa e universal e b) letramento digital e habilidades digitais – um grande desafio capaz de trazer inúmeras oportunidades para colocar o Brasil em um novo patamar na economia digital.

(*) Hermano Pinto é diretor do Portfólio de Tecnologia e Infraestrutura da Informa Markets, responsável pelo Futurecom, maior evento de tecnologia, telecomunicações e transformação digital da América Latina.