Para o grande público, a palavra Metaverso teria surgido em outubro de 2021, na ampla divulgação de uma apresentação por vídeo do Mark Zuckerberg, do Facebook. Ele anunciou que o grupo, que compreende também o WhatsApp e o Instagram, passaria a se chamar de Meta Plataforms Inc. Muitos acham que o Zuckerberg foi o criador do vocábulo. Na verdade, o escritor de ficção científica, Neal Stephenson, cunhou o termo Metaverso em seu livro “Snow Crash” (no Brasil: Nevasca), em 1992. Desde então muito desenvolvimento em tecnologia vem sendo criado, para que se torne viável a ideia. O Facebook adquiriu uma empresa de óculos e softwares de realidade virtual em 2014, o que significa que há muito a ideia circula na empresa. A própria Google havia investido em uma tecnologia de óculos de realidade virtual. O que se constata hoje é que após o anúncio do Facebook, as atenções para investimentos nesta área, em todo o mundo, está, figurativamente, na pista olímpica dos 100 metros, a mais importante prova do atletismo mundial. O presente artigo é fruto de uma imaginação fértil, resumindo tudo o que tenho lido, escutado e visto, recentemente. Ao certo, ninguém pode afirmar o que ocorrerá, mas que o Metaverso tende a transformar a sociedade, com impactos radicais em nossas vidas, sendo a próxima fase da Internet, não é de se duvidar.

Mas o que significa o Metaverso, a próxima coqueluche a dominar a evolução da Internet nos próximos anos?

O seu entendimento é algo um tanto complexo, pois não existe ainda na forma como se imagina que vá ser em poucos anos. Vídeos e matérias a respeito, que chegam a assustar muita gente, permeiam a mídia no dia a dia. São incontáveis as publicações sobre o que se crê que vá acontecer com a Internet. É difícil para o ser humano se identificar em um mundo que não o real, o do nosso Universo, onde nascemos, nos criamos, vivemos e nele vamos morrer. O conceito do Metaverso é uma realidade paralela, resultado da mistura de dois mundos, o real e o virtual. Neste novo universo, há ambientes virtuais em três dimensões, que precisam de dispositivos apropriados para se ter acesso. Os conhecidos óculos e fones de ouvido já estão disponíveis e são usados há alguns anos, em jogos, principalmente. Mas há outro pilar tecnológico a se integrar com a realidade virtual neste universo: a realidade aumentada. O que fascina a imaginação é, justamente, a fusão das duas tecnologias.

Para que servirá o Metaverso?

Seguramente, não só para jogos, mas na maneira como vamos nos relacionar nas redes sociais, que estarão moldadas em novas plataformas das redes sociais. As atuais não terão mais sentido. Os negócios do varejo serão direcionados para o Metaverso. Quem estiver interessado em reunir seus diretores e gerentes corporativos, que vivem bem longe, talvez em outros continentes, poderá alugar uma sala comercial dentro do Metaverso, enviar seu avatar – uma personificação da “própria pessoa”, em um ambiente virtual – e lá fazer o encontro. Nesta realidade paralela, pode-se entrar em um shopping virtual e fazer compras de objetos virtuais únicos, através de NFT (tokens digitais não-fungíveis). O comprador será a única pessoa a ter aquele objeto, pois é o dono da NFT. O código é baseado na tecnologia do “blockchain”. As criptomoedas vão dominar a nova tecnologia, já que são virtuais. Os bancos centrais estão de cabelo em pé, ao que se sabe. As grandes marcas de bens de tênis, para dar um exemplo, já estão investindo em tecnologia do Metaverso, para vender seus produtos, não apenas no mundo real, mas também no mundo paralelo que estamos falando. Afinal, um avatar vai querer estar vestido com os itens da moda. Para ficar mais claro, se pode comprar um terreno virtual, usando-se criptomoeda e os valores chegarem a milhões de dólares. Um determinado terreno virtual em um bairro só pode ter um dono e ele terá uma NFT dele, ou seja, é seu, exclusivamente. Se outro quiser aquele terreno, deverá comprar do atual proprietário. A prática já acontece e muitos negócios têm sido feitos neste mundo paralelo. Dentro do Metaverso, há aplicações onde se compra e vende simples figurinhas de coleção por um Ethereum (a segunda maior criptomoeda), o que representa cerca de R$ 14.000,00 na cotação atual, no caso. Este tipo de aplicação financeira está crescendo a olhos vistos.

Por que podemos acreditar que esta tendência do Metaverso venha, de fato, penetrar nas nossas vidas, dentro de poucos anos?

Primeiramente, em razão de já existir várias aplicações. Vários jogos virtuais empregam os recursos desta nova tecnologia. O mais popular, o Fortnite, tem centenas de milhões de usuários, os quais entram em batalhas com seus avatares. O jogo vai além, ele serve também como meio de comunicação em tempo real entre os jogadores, um tipo de rede social. Muitos ouviram falar do jogo Second Life (2003). Em seu ambiente virtual, era possível trabalhar, estudar, namorar… Pode estar aí uma oportunidade para o game ser reinventado e abocanhar um grande público, que outrora já tinha. Em segundo lugar, pode se apostar no Metaverso em função de haver uma corrida entre as Big-Techs, com milhares de engenheiros sendo contratados para desenvolver a tecnologia da “nova internet”. Mas não apenas estas grandes empresas, como Facebook, Apple, Microsoft e Google. Centenas de outras empresas estão nesta verdadeira corrida do Metaverso, com investimentos vultuosos.

Quais os impactos que podem ser gerados?

Certamente, uma reviravolta nos modelos de negócios atuais. As Universidades, os Bancos, o Varejo, as Igrejas, o Showbusiness e tudo mais, terão outra “cara”, muito distinta do que conhecemos hoje. Será desnecessário ter um ambiente físico em muitos casos, já que existirá outro mundo para se estar, para se divertir, para fazer muita coisa que se faz no mundo real. Terá sentido se mudar para outra cidade, outro país, para frequentar aulas em uma Universidade, podendo participar em salas de ensino dentro do Metaverso? Parece que esta será a nova maneira de vivermos. Muitos empregos tradicionais perderão lugar para empregos relacionados com a nova tecnologia. Talvez um impacto de difícil solução, será o comportamental. Nós, seres humanos, poderemos não querer mais sair do Metaverso e desfrutar de uma vida real, assim como os viciados em jogos de hoje em dia, que passam a maior parte do tempo em frente aos seus computadores e periféricos. Alguns especialistas têm mencionado esta preocupação. Para muitos, o universo paralelo pode ser uma fuga aos problemas existenciais e do cotidiano real. Outra grande preocupação é com a perda de privacidade. Se hoje as redes sociais sabem muito de nós, é de se esperar que as próximas plataformas venham saber mais a nosso respeito do que nós mesmos.

Espero que o meu avatar, que me dará uma vida dupla, não se torne autônomo, pois seria algo perigoso demais. Minha identidade seria confusa. Afinal, quem predominaria nas decisões? Parafraseando William Shakespeare, sou eu mesmo, ou é o meu avatar? Eis a questão! Talvez, valerá o que meu avatar decidir. Mas, sejamos otimistas e acreditemos que o mundo tenda a melhorar. Será isto tudo ainda, uma obra de ficção, como a do Stephenson?

Marco Juarez Reichert – Escritor, Palestrante, Conselheiro de Administração e Consultor de Empresas. Bacharel de Administração de Empresas, MBA em Finanças e Governança Corporativa, PÓS-MBA em Inteligência Empresarial e Pós-Graduando em Negócios Inteligentes e Indústria 4.0.