Para muitos especialistas, trata-se de um mito acreditar que existam os nativos digitais. Apesar desse termo ter encontrado campo para a sua consolidação na mídia, cientistas dizem que acreditar que essa geração apresenta habilidades e talentos diversos aos das gerações anteriores é um erro.

Inclusive, existem pesquisas que mostram que a habilidade de navegar na internet e de uso de gadgets eletrônicos está muito mais associada aos níveis de renda e educação do que à idade. Além disso, mesmo os jovens nascidos em famílias de alto nível de renda, com acesso aos meios digitais desde o nascimento, não pensam nem aprendem de forma diferente.

Essa questão, inclusive, invalidaria o recorte tradicional dos nativos digitais, principalmente no Brasil, uma vez que a idade no país é pouco relevante sobre o acesso às tecnologias, muito mais ligadas a questões socioeconômicas.

Outro fator que parece corroborar com a visão de mito sobre os nativos digitais está na revelação de que a maioria desta geração ainda hoje consome informação na internet igual às gerações anteriores, ou seja, passivamente. E mais, conteúdos majoritariamente produzidos em massa.

Um estudo feito em 2011 na Europa mostrou que apenas 1 criança em cada 5 usava site de compartilhamento de arquivos e 1 em 10 tinha blog, desconstruindo o mito de que atuam diferentemente dos demais recortes geracionais no meio online.

Por fim, a imaginada habilidade dos nativos digitais em se relacionar com a tecnologia, não se confirmou em nenhum estudo realizado até hoje. Nem a capacidade de ser multitarefa encontrou respaldo científico, que mantém o entendimento de que o ser humano é capaz de realizar tarefas simultâneas, desde que uma delas seja automatizada, porém, esta costuma ter a sua eficiência prejudicada.

Para aprofundar um pouco mais nesse tema e discutir como as empresas deveriam se preparar para atender às demandas dos nativos digitais, conversamos com o coordenador de Pós-Graduação em Computação Aplicada da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Alexandre Graeml.

Futurecom – Os nativos digitais são diferentes entre si quando avaliamos a renda?

Alexandre Graeml – Existe uma tendência de que usuários com um menor nível de educação formal não consigam ir muito além do uso das TICs (Tecnologia da Informação e Comunicação) para entretenimento e comunicação, enquanto os mais bem formados consigam perceber o potencial de obtenção de informação e conhecimento a partir dessas novas tecnologias.

É uma falácia afirmar que a exclusão digital acaba quando se percebe que mesmo os mais pobres conseguem adquirir um smartphone. A questão é que eles não conseguem fazer dele o mesmo uso que aqueles que tiveram uma boa educação para saber como usá-lo sabiamente.

Quais são as principais necessidades de serviços dos nativos digitais? Como atendê-las?

As gerações de nativos digitais parecem ir se tornando cada vez mais imediatistas na sua necessidade de interação. Como desenvolveram capacidade de trabalhar em múltiplas tarefas ao mesmo tempo, não conseguem mais se focar tanto em uma única atividade a cada momento.

Portanto, para conseguir manter o seu interesse, os eventuais serviços devem envolver pouco esforço, para que possam ser concatenados com uma série de outras atividades sendo realizadas em paralelo.

Isso cria problemas ou oportunidades para a atuação das indústrias?

Toda mudança cria oportunidades, porque há novas demandas a serem atendidas e ninguém ainda capaz de fazê-lo. Contudo, oportunidades só se convertem em resultados interessantes se forem bem aproveitadas e, para isso, é importante que se compreenda de que forma as novas gerações são diferentes das anteriores, não só no que sabem fazer, mas também na forma como percebem o mundo em que vivem. E compreender isso pode ser um problema para muitos.