Fazendo uma retrospectiva dessas últimas três décadas, volto quando criança que sonhava em ser astronauta, explorar o universo e trabalhar para grandes descobertas por meio da ciência e da tecnologia.
Minha inspiração era o desenho “Os Jetsons”. Aquela vida futurista, inimaginável, era a minha motivação. Sonhava em inventar tudo aquilo, o que na época eram coisas impossíveis! Imaginem, há 50 anos, no desenho já existia celular, vídeo chamada, reuniões por vídeos, microondas, máquinas de lavar louças etc. Só faltam os carros voadores e teletransporte que espero, ansiosamente, vivenciar isso também.
Na época do vestibular, ainda insistindo em ser astronauta, meu pai sugeriu que fizesse uma avaliação vocacional. Foi uma semana integral de testes, entrevistas, avaliações e lembro que no final todos me desencorajaram alegando que não existia mulher astronauta e muito menos brasileira. Por que eu não poderia ser a primeira? Como sonhava também com a independência financeira, optei por fazer engenharia de telecomunicações, me especializando em satélites na faculdade.
Confesso que minhas decisões profissionais sempre foram pautadas nas minhas habilidades e motivações, e nunca pelo meu gênero ou pelas dificuldades que isso poderia acarretar. Durante toda a minha carreira, me posicionava sempre como profissional e sempre afastada dos receios de ser mulher num mundo de tecnologia. Obviamente, isso não me impediu de sofrer diversos tipos de assédios, e algumas vezes até perdas de oportunidades, mas ainda assim, não me sentia fragilizada, nem intimidada. Seguia sempre com postura firme, defendendo minhas ideias, conquistando o meu espaço e fazendo ser ouvida a minha voz num mundo onde os homens na sua maioria dominavam.
Há 35 anos quando entrei na faculdade, numa turma de 50 alunos, éramos 5 mulheres, o que para época era um fenômeno.
Em 2021, por um levantamento do IBGE, foi apontado que as mulheres brasileiras têm mais acesso ao ensino superior, mas ainda são minoria em áreas ligadas às ciências exatas, como engenharia e tecnologia da informação, representando apenas 13,3% dos alunos de Computação e Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e 21,6% dos cursos de engenharia e profissões correlatas. Aumentou a participação das mulheres nestas áreas, mas num crescimento ainda muito modesto.
Recentemente li uma matéria sobre os requisitos necessários para as mulheres atuarem nesta área tecnológica e destacaram o autoconhecimento, pois dados apontam que a maioria desiste, ou na faculdade, ou nos primeiros empregos. Achei curiosa a abordagem, pois de fato sempre soube o que queria. Muitas histórias eu teria para contar, de clientes homens que não só me respeitavam, mas que confiavam em mim durante negociações e implementações de projetos. Conquistei um espaço de muito respeito, mesmo sendo mulher num mundo de homens. Tive o privilégio de trabalhar com mulheres engenheiras e executivas incríveis que, também, são muito respeitadas e admiradas no mercado.
Uma bela história para mulheres na área tecnológica é sobre as três cientistas negras (Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson) que fizeram a diferença na agência espacial norte-americana NASA durante a corrida espacial, permitindo que o astronauta John Glenn fosse o primeiro americano a orbitar ao redor da Terra em 1962, é, sem dúvida, inspiradora. Mesmo com todos os preconceitos e dificuldades, elas não desistiram, e conseguiram através dos seus conhecimentos e habilidades conquistar os seus espaços, ainda limitados, sem dúvida.
Também sempre fui a minoria por todos os lugares que trabalhei, principalmente como mulher em posições de destaque. Aos 27 anos fui desafiada para coordenar um projeto extremamente relevante na Alemanha, principalmente, pela minha experiência na área de software. Assumi a posição executiva em uma multinacional com 29 anos, o que pela idade já era raro, e sendo mulher então, só conheci uma outra grande engenheira e executiva.
Aos 33 anos assumi posição de Diretoria em Multinacional e sempre mantendo a ascensão na carreira. Em 2014, montei uma empresa de telecomunicações para um grupo de investidores e hoje sou a proprietária desta empresa.
Ainda sobre autoconhecimento, uma vez fui provocada a fazer uma palestra para RH sobre liderança feminina. Tive dificuldades em elaborar o tema, pois nunca tinha parado para avaliar se a minha liderança tinha gênero, mas o que entendi com este convite é que mesmo sendo engenheira e executiva no mundo de tecnologia, o mercado me percebia com energia feminina. Como então eu pude conquistar esse espaço? Foi quando para elaborar essa palestra eu constatei que em toda a minha carreira profissional, eu sempre utilizava, além do Amor, estas três habilidades cuja essência é completamente feminina: Empatia, Intuição e Saber Ouvir.
Sim, sempre amei o que fiz e faço. Não conseguiria conceber trabalhar em algo, ou em algum lugar, que não fosse por amor. Dinheiro sempre foi para mim a consequência. E, que bom que deu certo!
E, assim, percebi que quando utilizamos destas características na nossa carreira, mesmo na área tecnológica, um mundo predominantemente masculino, conseguimos nos destacar. E sabem por quê? Porque esta é a nossa essência!
E ao olhar para esses 30 anos, sou feliz e grata por ter feito parte da evolução das telecomunicações no Brasil, onde pude atuar em todas as tecnologias desde fax, linha discada, banda larga, IPTV, redes celulares analógicas 1G até 5G, exercendo altos cargos executivos em multinacionais e, atualmente, empreendendo na área onde iniciei: satélite!
E se eu disser que além de me dedicar à carreira, consegui criar sozinha dois filhos incríveis que estão prestes a completar 22 e 18 anos? Heroína? Claro, que não. Só quero demonstrar que por mais difícil que a vida seja para as mulheres, e é mesmo, o que faz a diferença é lutar pelo lugar que queremos ocupar.
Se eu pudesse ficar de frente para minha criança que amava tecnologia e perguntasse: “Feliz com o que se tornou profissionalmente?” O que ela responderia? Certamente ela daria um sorriso com muito orgulho e diria: “Obrigada, por conquistar o Espaço!”
Antonina Buriti – Engenheira de Telecomunicações, com 2 MBAs em Planejamento estratégico e Gestão de negócios, Advogada, Executiva com 30 anos em empresas multinacionais e familiares, Empresária na HCS Telecom e Conexões Buriti, mãe de um casal de filhos e recentemente escritora, com seu primeiro livro: A Jornada do Despertar – Minha história de Amor, Fé e Espiritualidade com Andre Luis.