De carros sem motorista a drones médicos e inteligência artificial (IA), tecnologias avançadas estão aprimorando o campo da medicina de emergência. Ainda temos muito para melhorar sem precisar implementar grandes mudanças tecnológicas na saúde. Mas é extremamente útil ter uma visão melhor de como essas novas tecnologias podem influenciar o atendimento de emergência e melhorar ainda mais o serviço.
Pacientes para o hospital ou hospital para o paciente?
Apesar de ser descrita como uma especialidade tradicional, a medicina de emergência é relativamente nova, sendo um produto do mundo acelerado em que vivemos. Estimativas datam o desenvolvimento de serviços médicos de emergência modernos nos Estados Unidos no início dos anos 1960 . Isso aconteceu em resposta ao aumento do número de acidentes de trânsito resultantes do boom de carros nas recém-construídas rodovias americanas.
O atendimento de emergência tradicionalmente procura prestar um serviço ágil para encaminhar o paciente ao pronto-socorro o mais rápido possível. Tempo, neste caso, não é dinheiro….é vida!
Mas esse fluxo pode estar se invertendo ou, pelo menos, tentando diminuir a necessidade de depender do hospital para prestar atendimento. Com auxilio das tecnologias digitais mais recentes, a medicina de emergência está sendo empurrada na direção da abordagem “do hospital para o paciente”.
Veja alguns exemplos:
1. Inteligência artificial para otimizar a logística e alocação de capacidade
Que a IA veio para mudar a saúde já não há dúvidas. Agora é uma questão de tempo para vermos as grandes mudanças que ela pode trazer na prática. Desde a descoberta de medicamentos a auxílio para diagnóstico, a tecnologia também está encontrando uma nova oportunidade no departamento de emergência. Um exemplo está no serviço húngaro de emergência, o Organisation médico-sociale de ziguinchor (OMSZ), que está usando IA para otimizar a logística e alocação de capacidade em sua operação diária. Segundo levantamento, são 3.000 atendimentos/dia, com as ambulâncias percorrendo um total de 40 milhões de quilômetros por ano! Quanto disso não pode ser otimizado (e economizado) com a IA. Pois foi justamente isso que analisaram e colocaram em prática. E funcionou!
Em 2020, a empresa de software Hexagon Manufacturing Intelligence também apresentou sua solução de IA para serviços de emergência. O portfólio é grande, com o sistema HxGN MSC Software Iberia OnCall (Smart Advisor), extrai e analisa dados operacionais das ocorrências prévias -emergência, bombeiros, polícia-, e compara, em tempo real, com as atuais para detectar padrões e identificar eventos importantes. Como as anomalias são identificadas mais cedo, os insights permitem que as equipes de emergência reajam e se coordenem mais rapidamente e saibam focar em quais são as reais prioridades. Um grande exemplo disso é a otimização na alocação de recurso – saber horários e dias específicos que tem maior movimento.
2. Aplicativos que simplificam o atendimento de emergência
De acordo com algumas análises, até 80% dos erros clínicos são devidos à falta de comunicação entre a equipe médica. No atendimento de emergência, tais erros devem ser minimizados tanto quanto possível e novos programas de software podem ajudar.
Com sede em Montana, nos EUA, Pulsara é a desenvolvedora de uma plataforma compatível com HIPAA para serviços de emergência, ambulância e gerenciamento de equipes. Seu aplicativo móvel conectado permite que os paramédicos alertem um departamento de emergência antes da chegada do paciente para que a equipe do pronto-socorro se prepare com antecedência. Ele faz isso não apenas calculando o tempo estimado de chegada com base no GPS, mas também permitindo que os usuários compartilhem detalhes importantes, como o ECG ou imagens de campo . Alguns levantamentos relatam uma diminuição média do tempo de tratamento de quase 30% ao usar o Pulsara.
Atendimento colaborativo? Sim, para ganhar mais tempo, existem voluntários próximos ao local da emergência que também podem realizar RCP até a chegada de uma ambulância. Este é o aplicativo Szív City, lançado na Hungria, ele explora uma abordagem que pode salvar vidas. O aplicativo alerta os usuários voluntários sobre qualquer evento de reanimação na rua a menos de 500 metros de sua localização. Com mais de 30.000 voluntários usando o app, o OMSZ dobrou o número de RCPs de rua bem-sucedidas em apenas um ano!
Outro grande exemplo lançado pela American Heart Association, está o aplicativo gratuito, Full Code Pro . É uma ferramenta de rastreamento e auxílio nos eventos de RCP em tempo real, permitindo que os usuários documentem suas ações. Com um único toque, os socorristas podem registrar a medicação administrada, iniciar a contagem dos ciclos e até ter acesso a um metrônomo para otimizar o ritmo das compressões torácicas. Os dados coletados podem ser revisados posteriormente para que a equipe também possa aprender após com a sua performance. É o foco no paciente, sem perda de tempo.
E as emergências aéreas? As emergências médicas a bordo são muito frequentes e nem sempre existe um profissional da saúde no voo para poder auxiliar. O aplicativo gratuito airRx contém as 23 situações de emergência médica mais comuns que orientam os médicos a bordo para ajudar os viajantes com problemas de saúde. Para a tripulação de cabine, o recente aplicativo MedAire Aviation da International SOS conecta tripulantes a médicos para avaliação guiada do passageiro. Recentemente, foi integrado aos voos comerciais da Icelandair.
3. Videogame para praticar
A influência dos jogos está se expandindo para a medicina de emergência. A start-up Level Ex, da Levelex, com sede em Chicago, desenvolve videogames para treinar profissionais médicos. O aplicativo Airway Ex, por exemplo, oferece cenários realistas para médicos e enfermeiros se prepararem melhor para o gerenciamento desafiador das vias aéreas.
O aplicativo pontua a velocidade do profissional, danos causados , sangramento e também monitora os sinais vitais do paciente virtual enquanto o procedimento ocorre. Além disso, pode ser usado em qualquer lugar.
4. Dispositivos portáteis de diagnóstico no local de atendimento
Até alguns anos atrás cogitar fazer um ultrassom na ambulância era impossível. Hoje, com ajuda da tecnologia, muitos dos grandes aparelhos de antigamente, cabem no bolso do jaleco. Não importa se é ultrassom, ECG ou testes de laboratório, as máquinas gigantes são coisas do passado. Hoje em dia, os médicos podem literalmente carregar ferramentas de diagnóstico que valem por uma sala de emergência inteira.
Embora alguns anos atrás o diagnóstico por ultrassom fosse privilégio dos radiologistas, os especialistas médicos de emergência agora têm a oportunidade de usar dispositivos de ultrassom no local de atendimento (PoCUS) a beira do leito. Dispositivos de ultrassom portáteis, como o Clarius e o Philips Lumify, permitem que médicos e socorristas avaliem facilmente um paciente, não importa onde estejam.
Quando os primeiros programas de ECG no celular apareceram foi algo deslumbrante, mas pouco útil. Fazer um ECG de uma derivação não ajuda muito na maioria das vezes. Mesmo que mostrasse o ritmo, não era capaz de substituir o ECG padrão de 12 derivações. Agora, o Smart Heart Pro permite que os usuários façam um ECG de 12 derivações com um smartphone ou tablet sem fio com a mesma qualidade e confiabilidade que um exame padrão hospitalar.
E os exames de sangue? As longas horas de espera pelos resultados terminarão em breve. Dispositivos portáteis e leves de teste, como o equipamento de teste i-STAT da Abbott , tornarão isso possível . O analisador de sangue rápido e preciso da Abbott permite que os profissionais da saúde avaliem a amostra de sangue do paciente no local e transmitam sem fio os dados à equipe. Outra grande empresa que vem apresentando projetos sensacionais é a Hilab. Ganho de tempo inestimável durante situações de emergência! Pense: ECG portátil + Laboratorial rápido: todo infarto atendimento na rua vai diretamente para o hospital de referência ao invés de ir até um pronto socorro.
5. Drones médicos para prestação de cuidados do ar
Outro potencial para drones no cenário de atendimento de emergência é fornecer desfibriladores externos automáticos (DEA) diretamente para pessoas que acabaram de sofrer um ataque cardíaco. Esse conceito já foi explorado por pesquisadores na Holanda pela START-TUDelft e no Canadá, pela UFD. Também foram testados drones com DEA em Estocolmo, e os resultados são incríveis; eles chegaram ao paciente em um quarto do tempo que a ambulância demorou para chegar!
Além disso, esses drones não servem apenas para transporte, eles podem dar instruções aos espectadores sobre como realizar a RCP, instalar o DEA e também permitem que a equipe de despacho forneça feedback por meio de sua própria conexão de vídeo. Em 2019, o desenvolvedor sueco de drones Everdrone AB anunciou sua parceria com o Karolinska Institutet para investigar entregas de emergência de remédios e equipamentos para pacientes, onde quer que estejam.
6. Facilitando o transporte e a era das ambulâncias sem motorista
A falta de transporte adequado é uma barreira significativa para o acesso aos cuidados de saúde. Todos os anos, cerca de 3,6 milhões de pessoas faltam às consultas médicas devido a algum tipo de problema relacionado ao transporte. Mas com serviços de carona como Uber e Lyft, os problemas de transporte na área da saúde podem ter uma saída.
De fato, a Uber lançou o Uber Health, seu serviço para transporte médico não emergencial. A Lyft também expandiu a área de saúde para reduzir as consultas perdidas. Outras startups de carona como Circulation , Kaizen Health e Veyo também se ramificaram para ajudar os pacientes a chegar aos hospitais de maneira segura e confiável. A circulação ainda afirma reduzir os no-shows em 68%. (eu paro e penso: não seria interessante os hospitais fazerem parceria com essas startups de transporte?)
E se os carros autônomos também entregassem algum tipo de suporte médico? Pense uma ambulância autônoma, equipada com dispositivos de dados vitais integrados, serviço de telemedicina e equipamentos básicos para garantir um atendimento adequado. Isso poderia aliviar um pouco a pressão dos serviços de emergência. O paciente poderia ser atendido na rua, sem a necessidade de ir até um pronto-socorro. Essas ambulâncias funcionariam como “táxis médicos” . Se o caso fosse um pouco mais complicado, eles pegariam pacientes de baixo risco e os transportariam para o hospital ou clínica mais próxima para continuar a avaliação e tratamento.
Uma emergência do futuro, não tão distante
As tecnologias digitais não apenas ajudam os pacientes a receber atendimento de forma mais rápida e eficiente, mas também podem ajudar as unidades de emergência a lidar com situações de forma mais segura. Com a ampla adoção dessas ferramentas, os pacientes podem receber assistência em tempo hábil, o que antes não era possível. E com o surgimento de tecnologias avançadas, os serviços de emergência se tornarão mais eficientes e focados no paciente.
O futuro dos serviços de emergência será mais simplificado, baseado em dados, eficiente e rápido do que nunca, levando em consideração as necessidades do paciente e as limitações dos profissionais da saúde. Dentro de alguns anos (espero que não muitos), ninguém terá que esperar por um tempo desnecessariamente longo até receber os cuidados adequados.
* Por Milton Andrade, Médico, Gestor, empreendedor e entusiasta das Healthtech.