Um dos efeitos esperados da Indústria 4.0 é a modificação das empresas em seu core business, como no caso da engenharia de produtos semiacabados. A onda de mudanças, no entanto, traz dúvidas essenciais aos players do mercado. Afinal, como esse novo movimento — que populariza a customização de produtos — impacta na cadeia produtiva e em toda logística industrial?
Não há dúvidas que inovações como o Big Data e a Indústria 4.0 andam de mãos dadas.
Essa união, em muito possibilitada pelos avanços da Transformação Digital, mudou os processos produtivos da mesma forma que a maneira de consumir mudou. Neste espectro, incluem-se tanto clientes finais, B2C, como os clientes empresas, B2B.
É justamente nessa mudança que nasce a demanda por produtos semiacabados.
Afinal, com a necessidade latente de customização e personalização, as empresas buscam entregar soluções cada vez mais adequadas às dores de cada cliente. É aí que entra a importância da engenharia de produtos semiacabados — e como ela atinge outras camadas produtivas, como a logística.
O que são produtos semiacabados?
Produtos semiacabados são aqueles que ainda não passaram pelas fases finais de acabamento ou não possuem seu formato final.
É muito comum conciliar esse conceito com a indústria siderúrgica, nas empresas que produzem lingotes ou tarugos de ferro.
Ou seja, vendem produtos em um estágio intermediário de fabricação, cujo acabamento ou restante da produção, será executado dentro do cliente.
Esse processo também acontece com muitas fabricantes de carro, em um processo chamado de postponement, onde manufatura e distribuição são feitas de forma descentralizada;
O professor Mauro Sampaio, do departamento de Engenharia de Produção da FEI, acredita que a diferença primordial dos produtos semiacabados com os acabados é o consumidor.
“Produto acabado visa a conquista do consumidor final, já o semiacabado é mais direcionado para o mercado B2B”, explica o acadêmico.
Como mencionado, a customização é o principal motivador por trás da necessidade de uma indústria de produtos semiacabados. Com os consumidores mudando sua forma de investir seu dinheiro, restou às empresas se adequarem da melhor forma.
A dúvida é: como essa nova realidade afeta todo esquema de logística industrial? Como funciona essa rede de abastecimento de empresas que vivem da engenharia de produtos semiacabados?
Os impactos da engenharia de produtos semiacabados na indústria e na logística
Pode-se afirmar que a customização mudou a forma das indústrias de lidarem com matéria-prima ou insumos de fabricação. Uma das estratégias mais conhecidas, o postponement, por exemplo, explica um pouco dos impactos dessa engenharia de produtos no logística.
“O postponement tem o objetivo de manter um produto no estado semiacabado o maior tempo possível, para só então deslocar o produto montado direto para as mãos do consumidor no momento de seu pedido. Neste caso temos o fluxo de produtos semiacabados até certo momento da cadeia, e logo a seguir, o produto acabado”, explica Sampaio.
No caso de fabricantes de carro asiática, o cenário imaginável é o seguinte: as peças e componentes são fabricados na Ásia, exportados ao Brasil e o carro só é montado aqui de acordo com a demanda (os pedidos encaminhados), com as personalizações necessárias para cada caso (AirBag, Bluetooth, vidro elétrico, etc).
Como é de notar, há um intenso contato entre as empresas. A escala B2B do negócio às torna mais próximas, o que fortalece o mercado, no entanto, dá brechas para falhas diversas.
Seja na comunicação, na capacidade de estoque (que pode ser mal mensurada) ou mesmo no tipo de demanda da empresa por um produto semiacabado.
A engenharia de produtos semiacabados exige, em alguns casos, cuidados extras exatamente na etapa de logística. De forma geral, é preciso entender que cada vez mais essa indústria será a base de algo muito maior e importante, que busca atender os clientes da forma que melhor os servirem.
De acordo com Sampaio, apesar das dificuldades, há como confiar numa melhoria de processos.
“Existem muitas oportunidades de melhorias na logística de semiacabados, desde embalagens, logística em si e até a comunicação entre sistemas de empresas. Estamos em tempos de mudanças e oportunidades surgem dia a dia, mas os empresários devem ficar atentos. A tradicional análise, pelo custo benefício, continua válida!” finaliza o acadêmico.