O blockchain ainda é ficção ou já é possível encontrar resultados palpáveis de seu uso? Com esse questionamento, Raul Miyazaki, diretor de consultoria da Deloitte, abriu o painel temático do Auditório Segurança na Transformação, dentro do FutureCongress da Futurecom 2019. “Hoje, esse painel trará um panorama sobre o uso real do blockchain nas empresas”, comentou.
Iniciando a conversa, Miyazaki compartilhou com os presentes os resultados de uma pesquisa recente da Deliotte sobre blockchain no mundo e no Brasil. De acordo com ele, entre as empresas que já tem um plano de blockchain em execução chega a 65% no mundo, mas no Brasil esse número chega a 90%. “O Brasil está num nível de adoção bastante acelerado no que diz respeito a essa tecnologia”, comentou. 79% das empresas entrevistadas no Brasil colocam o blockchain entre suas 5 principais prioridades para os próximos dois anos – contra 53% dos dados globais. Nesse cenário, quais as possibilidades para essa tecnologia no Brasil? Que abordagens já surgiram?
Para Lívia Brando, head de inovação & ventures da EDP, o setor de energia pode se beneficiar muito dessa nova maneira de desenvolver soluções. “Hoje, não podemos escolher de quem a gente compra nossa energia. Esse é um cenário que já foi vivido pelo setor de telecom, e acreditamos que, assim como ele, o setor de energia caminha para um futuro pulverizado”, defende. A empresa implantou, com uso de blockchain, uma solução piloto que permite comprar cotas de energia solar de fora da sua cidade, usando a rede de distribuição atual. A solução envolve, portanto, os três players: a distribuidora de energia, a usina solar e o consumidor final. “O blockchain entra para garantir a segurança em torno dessas relações, de uso da rede distribuidora, compra da energia da usina e assinatura dos planos pelo usuário”, comenta. “Independentemente da aplicação, entender o funcionamento da tecnologia exige um aprendizado coletivo que gera muito conhecimento para a empresa e pode resultar em novas competências internas e abrir margem para outros cases, outras possibilidades”, defende.
Otávio Soares, diretor de relações institucionais da ABOTT’S, comenta, porém, sobre a dificuldade de implantar esse tipo de solução quando é necessário envolver representantes governamentais. “No governo, ainda é muito forte discutir tecnologia no papel, mas de fato implementar essas soluções é muito difícil”, comenta. Mas o painelista destaca, também, que já existem aplicações possíveis em andamento. “A ANAC tem um trabalho de excelência em cima do diário de bordo da avião, por exemplo, que era feito em papel”, exemplificou.
Capacitação e colaboração ainda são desafios para popularizar blockchain
Para Marcelo Eisele, Account Manager da Microsoft, a educação sempre foi o grande desafio de implantação para o blockchain. “Precisamos principalmente nos educar para entender o que é blockchain, para que serve e, mais importante, para que não serve”, comenta. Ele destaca ainda que essa é uma tecnologia muito recente, cujas primeiras aplicações para empresas datam de 2015 – apenas 4 anos atrás. “É tudo muito novo. Me surpreende positivamente com a presença dessas pessoas formando esse painel. Sinto que finalmente saímos de um momento de hype, em que se achava que blockchain resolveria tudo, e chegamos ao ponto das aplicações efetivas”, aponta.
“Trata-se de uma tecnologia para uso de comunidade, que nasceu para ser aberta e rastreável, com acesso para todos os membros dessa comunidade. A aplicação é difícil em empresas e governos justamente porque não é fácil convensar todos os players a engajarem em uma conversa e concordarem sobre uma solução. E sem envolver as comunidades, outras empresas e usuários, o blockchain não atinge seu potencial e se torna meramente uma tecnologia de troca de dados”, diz.
Cases reais – Instituto Alinha e Plataforma Verde
Ilustrando os usos e aplicações reais do blockchain, representantes do Instituto Alinha e da Plataforma Verde dividiram com os presentes um pouco de sua experiência.
Dari Santos, fundadora do Instituto Alinha, comenta sobre a atuação do instituto, que permite a rastreabilidade da cadeia produtiva nas indústrias da moda, para evitar ocorrências de casos de situações análogas à escravidão. “Nem sempre as empresas têm controle sobre sua cadeia, que é pulverizada e conta com muitos intermediários. A plataforma de blockchain da Alinha une o offiline e o online para resolver esse problema”, comenta. A solução conecta as marcas e os fornecedores, eliminando os intermediários para garantir uma rastreabilidade real de cada peça. “De forma aplicada, estamos falando de um impacto real em qualidade de vida, remuneração e empatia entre quem produz e quem compra. A marca ganha em usar isso como forma competitiva, como diferencial de mercado por usar uma solução inovadora, e ganha também na eliminação de intermediadores e no maior controle da produção. Inovação não é uma roupagem bonita e tecnológica, mas de fato gerar valor e impacto com isso”, defende.
Chicko Sousa, CEO e Fundador da Plataforma Verde, que gerencia online a geração e coleta de resíduos sólidos. “O blockchain começa, a princípio, com uma arquitetura. É preciso escolher que tecnologias serão envolvidas no processo”, comenta. “Os dados estão aí, o Big Data já existe. O que o blockchain faz é centralizar todos os dados, de todos os envolvidos, que hoje estão espalhados”, explica. A Plataforma Verde, por exemplo, utiliza dados de GPS para identificar em tempo real onde estão os caminhões de coleta de lixo. “Reunir essas informações ajuda a reduzir custos e a ter maior controle da operação”, comenta. Essa abordagem precisou ser pensada em conjunto com as prefeituras, envolvendo também mudanças na legislação. “Quando a tecnologia vem e causa questionamentos sobre sua legalidade, gerando de fato um impacto legal, isso é disrupção”, finaliza.
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