Ao contrário do que a realidade pode aparentar, o número de pessoas sem uma conta no banco só aumenta. Os desbancarizados, como são conhecidos, são um grupo considerável: cerca de 60 milhões de brasileiros, que movimentam R$ 665 bilhões ao ano, segundo dados do IBGE.
Esse valor, por si só, é maior que o PIB da Colômbia e Chile somados.
Ou seja, uma grande fatia do mercado que escolheu se afastar dos bancos e apostar em métodos mais práticos de pagamento (à vista, com cartões pré-pagos) e poupança (em residência, em cofres pessoais).
Desbancarizados: por que as pessoas se afastam dos bancos?
Os motivos vão muito além da falta de dinheiro. Na verdade, os desbancarizados consideram tudo, como as taxas cobradas por bancos tradicionais, como anuidade e as tarifas de cada transação feita.
Experiências ruins são grandes influenciadoras dessa decisão, como a demora nas filas. Ingrid Barth, diretora da ABFintechs (Associação Brasileira de Fintechs), elenca outros motivos:
“Falta de praticidade é apenas uma das justificativas. Muitas pessoas não têm conta bancária, pois não se sentem bem recebidas, não sentem que os produtos foram feitos para o seu perfil (ou foram feitos para uma classe social acima), não veem valor nos custos de se manter uma conta, não se sentem bem atendidas”
Mas nem sempre cabe às pessoas intitularem-se de desbancarizadas. São várias condições que as influenciam. Muitos deles, por exemplo, sequer contam com uma agência bancária em sua região. Além disso, os bancos tradicionais não costumam facilitar a abertura de contas à pessoas endividadas (inadimplentes) ou com crédito negativo.
Tecnologia: o meio para resgatar os desbancarizados
Com a ampla democratização de smartphones e acesso à internet, a tecnologia aparece como uma salvadora para que instituições financeiras recuperem a confiança dos desbancarizados.
Com um produto totalmente digital e a filosofia de cobrar poucas (ou nenhuma) taxas, o serviço já atrai a atenção daqueles que ansiavam por algo que operasse de forma mais flexível que bancos tradicionais. Esses últimos, na verdade, não estão atrás na corrida. Muitas das fintechs atualmente contam com a parceria de grandes bancos e empresas financeiras, que buscam incrementar seus produtos principais.
Como foi mencionado em um artigo anterior, a Visa conta com plataformas de desenvolvimento espalhadas pelo mundo, dedicadas a criar e prototipar soluções tecnológicas para seus produtos, entre outras funções.
O meio online, aliás, já se configura como um facilitador para esse grupo, que costuma concentrar seu consumo nesse ambiente.
Com as praticidades oferecidas nos e-commerces, os desbancarizados já realizam várias compras em sites, optando por pagamentos à vista (transferência ou boleto) ou em poucas parcelas.
Por isso, aplicativos e soluções digitais de pagamento alternativo (e móvel) começam a se popularizar.
Em um mercado tão efervescente, soluções não faltam — e principalmente, oportunidades para inovar, como Ingrid Barth avalia. Para a executiva, atingir os desbancarizados é, também, pensar em sua experiência e fazer parte dos mesmos ambientes digitais que eles. “Com relação ao atendimento via aplicativos e redes sociais, o setor tecnológico pode prover uma melhor e mais rápida experiência aos clientes. Além de muitas vezes possibilitar redução de custos e uma melhor análise do perfil do usuário, que será a chave para a construção de novos produtos e serviços inovadores” afirma Barth.
De forma geral, o desafio é reverter questões centrais que estimulam o aumento do número de desbancarizados: taxas, distância e burocracia.
Soluções fora do ambiente digital, existem?
De um ponto de vista mais tradicional, grandes lojas e varejos também exploram o nicho. A solução? Os cartões de loja, que ficaram mais comuns nos últimos anos. Barth considera essa uma alternativa bastante válida para se relacionar com os desbancarizados.
“[A solução] ajuda também a entender o perfil de consumo e que conversa melhor com o público. Cria um link mais completo com o cliente, e a partir do momento que a pessoa se identifica, isso pode também ajudar na conversão de novas vendas e relacionamento” completa a diretora.
Alcançar os desbancarizados é um grande desafio, mas que pode ser feito de uma forma pragmática: analisando as brechas de atuação dos bancos tradicionais e criando soluções efetivas para resolvê-las.
Cada vez mais, as Fintechs trabalham para democratizar o acesso às soluções bancárias, levando mais pessoas à inclusão financeira.