A adoção de tarifas adicionais pelo governo Trump sobre produtos brasileiros impõe um cenário de incertezas e pressões sobre a economia nacional. Em agosto, deve entrar em vigor uma tarifa de 50 por cento sobre diversos bens exportados pelo Brasil.

A ação está inspirando fortes reações de instituições setoriais e provocando debates sobre os impactos econômicos e políticos dessa medida.

Neste conteúdo, vamos explicar o que são essas tarifas de Trump, como elas repercutem diretamente em setores estratégicos, com destaque para a indústria, os efeitos sobre a indústria tecnológica e digital, além de possíveis desdobramentos para a inovação nacional. Boa leitura!

O que são as novas tarifas de Trump?

As chamadas novas tarifas de Trump referem-se a uma tarifa de 50 por cento sobre produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos, anunciada em julho de 2025 com vigência a partir de 1º de agosto. 

Diferentes da tarifa base de 10 por cento, essa medida especial foi qualificada como “reciprocal tariff“, modalidade que visa punir políticas comerciais ou judiciárias do Brasil. 

Segundo o governo norte-americano, a motivação está ligada a ações judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, parceiro político de Trump. A vigência da tarifa foi confirmada por fontes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelo governo, que alertam para a elevada magnitude dos impactos no PIB e no mercado de trabalho.

Impacto direto em exportações e setores estratégicos da economia

A imposição da nova tarifa coloca diversos segmentos das exportações brasileiras em risco. A CNI prevê uma retração de R$ 52 bilhões nas exportações e de R$ 33 bilhões nas importações, com perda de 110 mil empregos. 

Ainda, segundo dados oficiais, os Estados Unidos absorvem cerca de 12 por cento dos produtos brasileiros, perdendo apenas para a China, com 28 por cento.

Queda de competitividade e aumento de custos para exportadores

As tarifas elevam o custo dos produtos brasileiros em território norte-americano, tornando-os menos competitivos. Inclusive, setores com margens apertadas sofrem ameaça real de deslocamento das cadeias de fornecimento. 

No caso de produtos que dependem de insumos locais e processos com alto valor agregado, o efeito é ainda mais severo, podendo gerar perda de fatia de mercado.

Indústria e manufaturados

Os setores industriais e de manufaturados serão especialmente atingidos. A seguir, são examinadas indústrias de alto impacto, continue acompanhando.

Embraer e setor aeroespacial

A Embraer representa um dos principais exemplos de como as tarifas de Trump afetam a indústria. Cerca de 63 por cento dos aviões fabricados pela empresa têm os Estados Unidos como destino. 

O CEO da Embraer declarou que cada aeronave exportada aos EUA poderá encarar uma sobretaxa adicional de até 9 milhões de dólares, tornando inviável a entrega de modelos como o E175. 

A associação internacional de transporte aéreo IATA advertiu que incertezas tarifárias podem atrasar ou cancelar entregas para companhias americanas. O resultado pode ser comparado ao baque provocado pela pandemia de Covid-19, com perdas de receita e demissões em cadeia.

Máquinas, motores e eletrônicos

Outro segmento de relevância é o de máquinas industriais, motores e componentes eletrônicos. Aproximadamente 60 por cento dessas exportações brasileiras dependem do mercado norte-americano. 

A WEG, atuante nesses setores, já sinalizou que será diretamente afetada pela medida. A perda de competitividade também pode levar à queda na produção e no faturamento, resultando em cortes de pessoal e paralisia de investimentos.

Papel e celulose: Os EUA importam 82,5% da celulose brasileira

Já no setor de papel e celulose, os Estados Unidos importam cerca de 12 a 15% de celulose brasileira. Embora empresas como Suzano tenham margem para redirecionar parte da produção para outros mercados, esse movimento não será suficiente para compensar completamente o choque nos preços e a eventual retração de volumes. 

Ademais, a dependência de um único mercado expõe vulnerabilidades estruturais, intensificadas pela política tarifária externa. 

Quais são os reflexos indiretos na indústria tecnológica e digital?

Além dos impactos diretos nas exportações, as tarifas de Trump afetam a indústria de forma mais ampla, influenciando a cadeia tecnológica e digital no Brasil. Acompanhe abaixo.

Redução no investimento em inovação e automação

Empresas pressionadas por custo e queda de receita tendem a adiar ou cancelar investimentos em inovação e automação. 

Isso reduz a capacidade industrial brasileira de modernização, diminui a competitividade internacional e postergam serviços sofisticados. Investimentos em tecnologia fabril, modernização de plantas produtivas e adoção de soluções digitais podem ser retraídos como forma de contenção de gastos.

Risco de expansão das tarifas para equipamentos de alto valor agregado

O pacote inicial já inclui aeronaves e máquinas industriais. Ainda, existe um risco real de extensão dessas tarifas para equipamentos de telecomunicações, internet das coisas e outros bens de tecnologia avançada. 

Caso isso ocorra, ficarão em planos de expansão de infraestrutura digital, aquisição de hardware e desenvolvimento de soluções de conectividade. Além do mais, a cadeia nacional de TI também poderá ser forçada a revisar projetos e estratégias de internacionalização.

Menos comércio global estimula mais inovação dentro do país

Em paralelo aos efeitos disruptivos do fechamento relativo do mercado externo, surgem também reações que podem estimular a inovação interna, fortalecendo a indústria tecnológica nacional.

Produção local ganha força

O encolhimento do comércio global tende a incentivar a produção local. Sendo assim, algumas organizações que antes terceirizavam funcionalidades ou hardware podem buscar fornecedores brasileiros, gerando demanda por conectividade nacional e infraestrutura autônoma. 

Isso cria nichos para que startups e empresas de tecnologia de infraestrutura envolvidas com nuvem, redes privadas, segurança digital e automação ganhem fôlego.

Oportunidade para 5G privado, redes OT e soluções nacionais

A necessidade de infraestrutura própria abre brechas para o fortalecimento de ecossistemas de 5G privado, redes OT, que são tecnologias operacionais, e soluções nacionais endógenas. Ambientes industriais e rurais, por exemplo, podem adotar redes privadas como alternativa aos equipamentos importados. 

Esse cenário favorece o incremento de pesquisa aplicada, desenvolvimento de projetos piloto e constituição de cadeias de valor locais em telecomunicações, sensores, softwares de gestão e automação.

Como vimos, as tarifas de Trump representam um golpe significativo para a indústria brasileira. Como vimos, elas elevam custos, diminuem a competitividade e ameaçam mercados estratégicos, como o aeroespacial, tecnologia, papel e celulose. 

Ao mesmo tempo, podem impulsionar oportunidades para a inovação doméstica, desde que o setor público e privado acelerem investimentos em infraestrutura e tecnologia nacional. Lembrando que empresas e profissionais envolvidos com digitalização, automação, internet das coisas, redes e conectividade devem estar atentos a essa mudança de panorama. 

Para se preparar e traçar estratégias eficazes, inclusive em ambiente de incerteza, vale continuar acompanhando a Futurecom, referência em tecnologia e inovação!