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O desafio do etarismo no mercado de trabalho de tecnologia

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Mentora de tecnologia com passagens por grandes empresas da área, Marise de Luca nos falou sobre o cenário para profissionais acima de 50 anos no setor. Confira!

Segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2030 o Brasil deverá ter mais pessoas idosas (acima de 60 anos) do que jovens. Porém, atualmente, o IBGE estima que apenas 7,2% dos profissionais no mercado de trabalho são pessoas dessa faixa etária.

Em áreas que demandam inovação constante, como a tecnologia, é menos comum encontrar profissionais com mais de 50 anos de vida, sendo esses em geral pessoas que fizeram carreira no segmento e em determinadas empresas, ocupando cargos de liderança.

Para falar sobre o etarismo no mercado de trabalho de tecnologia e como contorná-lo, conversamos com Marise de Luca, mentora executiva e coach do setor de tecnologia que já atuou em empresas como Ericsson, Accenture, Oi e Claro.

Veja abaixo o que ela nos falou sobre o assunto!

Qual é o atual perfil do profissional 50+ no setor de tecnologia?

Marise de Luca: “Os profissionais em geral e, especialmente na área de tecnologia, estão ficando mais longevos, atuando por mais tempo, seja por necessidade do mercado, devido à escassez de profissionais, seja pela necessidade econômica individual.

No entanto, segundo o Relatório de Diversidade no Setor TIC de dezembro de 2022, da Brasscom, em relação às funções técnicas do setor TIC (software, serviços, indústria e comércio), há apenas 3.933 profissionais com idade acima de 57 anos, sendo 80% homens e 20% mulheres. Esse número representa 1% do total de profissionais em funções técnicas no setor TIC.

Em geral, os profissionais da faixa etária de mais de 50 anos estão em posições executivas e cargos de confiança, ou atuando como consultores em alguma especialidade técnica ou projeto específico. 

A experiência de um profissional com mais idade, que possui um perfil com conhecimento mais amplo e generalista, com utilização de processos e metodologias estruturadas e diversas vivências, pode fazer especial diferença para lidar com problemas / projetos mais complexos, e ainda auxiliar os profissionais mais novos, contribuindo para seu desenvolvimento.

Entretanto, é fundamental que as empresas tenham equipes multidisciplinares e diversas para trazer equilíbrio e resultados, mesclando características essenciais para a inovação e superação de desafios: experiência, estabilidade emocional, energia, ponderação, aceitação de riscos, resiliência, audácia, visão de futuro, dentre outras tantas. 

Embora a experiência e a maturidade profissional do grupo 50+ possa ser um diferencial, isto parece não ser priorizado em grande parte das empresas, cujo foco está muito concentrado em resultados de curto prazo. Isso chega a ser um contrassenso dado que os conselhos de administração costumam ter profissionais 60+ e trazem muito valor à organização, exatamente pelo histórico das pessoas.”

Qual é o papel das empresas de tecnologia na diversificação dos profissionais?

Marise de Luca: “Seguramente diversidade e inclusão são temas presentes nas pautas das empresas de tecnologia, tanto em programas internos quanto na comunicação externa, mas ainda não podem ser considerados amadurecidos; estão em evolução. 

Como parte integrante da agenda ESG, é possível encontrar ações como:

  • Estruturação das áreas de Diversidade & Inclusão, com indicadores e metas definidos;
  • Criação de programas de D&I, com ações de contratação, treinamento, desenvolvimento, sensibilização, engajamento, entre outras;
  • Investimento social privado em ações de educação inclusiva, educação tecnológica e filantropia que possuam D&I como foco ou critério.

Porém também ainda existe preconceito, por exemplo, para contratação do público 50+ ou para entender as políticas de cotas afirmativas das empresas (interna e externamente).

É preciso educar os colaboradores para respeitar as pessoas que entram no mundo corporativo por meio dos programas de diversidade e inclusão. É fundamental a sensibilização de todos, sobretudo das lideranças, transformando o ambiente e a cultura para que sejam efetivamente inclusivos. É preciso conhecer, reconhecer e tratar nossos vieses inconscientes (crenças sobre limitações, agilidade, adaptabilidade). É preciso ter pessoas que falam do lugar dos grupos minoritários; não adianta outras pessoas falarem de um lugar que não é, nem foi, delas.

Na verdade, na sociedade como um todo os temas de diversidade e inclusão ainda estão em evolução. Empresas são feitas de pessoas e pessoas ainda estão em processo de aprender a entender e aceitar a diversidade em todos os seus aspectos.”

Como as empresas e os profissionais podem atuar para reduzir essas lacunas etárias?

Marise de Luca: “As empresas precisam trabalhar, discutindo e eliminando vieses inconscientes, atraindo, dando espaço e visibilidade aos diversos grupos. Os países precisam criar políticas que corrijam os desequilíbrios de oportunidades para todos. Todos nós precisamos trabalhar juntos nessa pauta de diversidade e inclusão, todos os dias.

Quanto aos profissionais 50+, sem dúvida, a idade do profissional pode encarecer os benefícios para as empresas, entretanto, essa é uma visão de curto prazo, de usabilidade das pessoas. 

A empresa deve entender as prioridades e valores dos profissionais 50+ e dos mais jovens, e adaptar a cesta de benefícios de acordo com a necessidade desses públicos: bônus, assistência médica, viagens, previdências, subsídio de carros, trabalho híbrido, etc. Rever a composição de benefícios periodicamente pode ser uma forma de retenção.

Um desafio importante para os profissionais 50+ é a atualização tecnológica. Na verdade, é um desafio para todos os profissionais de tecnologia. É uma verdadeira corrida quando se trata de avanços tecnológicos. Manter-se atualizado não é algo simples e custa caro, num momento da carreira com remuneração descendente. 

Cabe ao profissional se manter atualizado, na sua área e em outras que tenha interesse, especialmente em novas metodologias; as linguagens de desenvolvimento se atualizam, bem como os hardwares, mas a lógica se mantém. Life long learning deve ser o mote e pode, inclusive, possibilitar novas oportunidades de trabalho.”

Como o etarismo é um obstáculo para superar a falta de mão de obra especializada?

Marise de Luca: “Apesar de toda a contribuição dos profissionais 50+ já mencionada, há discriminação com relação a esses profissionais. Etarismo, preconceito por idade, tem sido um obstáculo para empresas de tecnologia. Mesmo considerando o problema real de vagas não preenchidas, não há muitas oportunidades concretas para profissionais 50+. Os programas de contratação para profissionais dessa faixa etária são escassos.

As empresas precisam reconhecer o valor para o negócio das entregas feitas por equipes mistas compostas por diversidade de gerações (e outros grupos minoritários). É preciso enxergar os profissionais 50+ como oportunidade para preencher a lacuna da falta de mão de obra especializada, e promover programas internos de aceitação da diversidade, que tratam os vieses inconscientes e propiciem a integração, visando evitar o conflito de gerações. 

O desafio é instituir espaços culturais intencionais para a convivência da diversidade – etária, gênero, raça etc. É promover uma cultura considerando as mudanças e complexidades do mundo contemporâneo. É saber reter e aproveitar a expertise e experiência dos profissionais mais maduros.

Os programas de mentoria organizacional interna podem ser boas oportunidades para que profissionais jovens e maduros se revezam no papel de mentor e mentorado, estimulando a troca e o aprendizado mútuos.

A agenda de diversidade e inclusão é um instrumento, é um caminho para suprir a carência de mão de obra em tecnologia. Vamos olhar pelo lado da oportunidade.

Em 2017, o Brasil possuía 32 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Em 2050, espera-se ter 64 milhões. A população acima dos 50 anos representa 42% do poder de consumo, segundo pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offer Wise Pesquisas.” 

Como os processos de transformação digital estão cuidando desse público? 

Marise de Luca: “A resposta passa pela contratação de profissionais 50+ que podem auxiliar no processo de tornar a transformação digital mais acessível. São profissionais que vêm com bagagem de anos de experiência e conhecimento que agrega, inclusive, na definição de produtos.

A população está envelhecendo progressivamente e as empresas que tiverem visão de longo prazo e se interessarem em investir efetivamente na diversidade podem desenvolver um diferencial competitivo. Tanto para consumidores nessa faixa etária, como para os profissionais. É pauta da agenda ESG.”

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Continue aprendendo mais sobre inclusão no setor tecnológico. Leia agora nosso conteúdo sobre mulheres na tecnologia: avanços e desafios.

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