Enquanto os países que são potências tecnológicas, como Estados Unidos e China, buscam o protagonismo na utilização e regulação da Inteligência Artificial, o Brasil está tentando encontrar uma forma de aproximar os estudos globais sobre a tecnologia para também desenvolver o mercado nacional.

Esse foi o tema do painel “A Geopolítica da IA e as relações entre as maiores potências mundiais”, realizado durante o Futurecom 2024 com mediação de Valter Wolf, presidente da Associação Brasileira de Inteligência Artificial (Abria).

Segundo o especialista, é preciso encontrar soluções mais éticas e socialmente responsáveis para essa “corrida” pelo domínio da IA, e o Brasil pode ganhar destaque como país com a base de dados mais diversa do mundo.

“Temos trabalhado com todo o ecossistema de IA para desenvolver negócios e um ambiente regulatório juridicamente saudável, para desmistificar essa questão perante a sociedade. Atualmente o mercado é dominado pela América do Norte, com o maior número de modelos criados nos Estados Unidos. Já a Europa saiu na frente como pioneira na regulação da tecnologia, e a legislação brasileira é profundamente baseada nos instrumentos regulatórios europeus”, afirmou o presidente da Abria.

“Então o que sobra para o Brasil? Precisamos encontrar uma forma de dominar a grande quantidade, qualidade e diversidade dos dados captados no nosso país, que é o que vai gerar precisão das máquinas de IA. Só no DataSUS, por exemplo, são 200 milhões de vidas cadastradas, com uma diversidade genética absurda”, completou Valter Wolf.

Como o Brasil pode competir com as “big techs”

Para incentivar o desenvolvimento da IA no país, o governo brasileiro estuda a criação de incentivos fiscais voltados à inovação tecnológica. A ideia é que tanto as startups quanto as grandes empresas possam desenvolver projetos relacionados à IA, ajudando a criar um ecossistema nacional mais competitivo.

Para o sócio fundador da International Association of Artificial Intelligence (I2AI), Alexandre Del Rey, programas de renúncia fiscal, como os já existentes no setor de tecnologia da informação, podem ser adaptados para facilitar o acesso a tecnologias emergentes.

“Se o governo ajudar as empresas a fazerem bom uso dos dados públicos, isso seria como ouro. Essa prática se pareceria mais com o modelo chinês, mas a prática de incentivo fiscal deveria ser similar à dos Estados Unidos, porque temos unicórnios e empresas de tecnologias enormes por aqui, apesar da insegurança do ponto de vista regulatório. Mas para sermos protagonistas, precisamos ir além, o Brasil precisa de empreendedorismo e de olhares diferentes para gerar valor com IA, inclusive a inteligência artificial quântica, a causal, a neuro-simbólica, desaprendizagem de máquina e tudo isso”, explicou o especialista.

No entanto, o Brasil enfrenta um desafio considerável ao competir com as big techs globais. Empresas como Google, Microsoft e Amazon já possuem infraestrutura tecnológica robusta, com recursos financeiros e humanos significativos.

Durante o painel no Futurecom, a superintendente executiva de TI e Portfólio do BB Seguros, Roberta Grünthal, disse que o Brasil precisa focar em suas vantagens comparativas, como a vasta quantidade de dados locais e o mercado emergente de soluções personalizadas, para se destacar no cenário internacional.

“Definitivamente IA não é um tema novo, mas começou a ser mais falado mesmo em 2022, quando a população teve contato com o ChatGPT e sentimos os impactos disso na vida real. O Brasil já estabelece políticas de ciência e tecnologia, diretrizes e investimento pra acelerar o uso nas políticas públicas. Nos próximos cinco anos, a estimativa é de R$ 23 bilhões, e isso não ficará só no ambiente público. Hoje existem regras de governança para empresas atuarem, inclusive as big techs. Apenas a competição que seguirá desfavorável, porque não temos big techs nacionais”, afirmou a superintendente do BB.

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