Atualmente, vivemos em um mundo hiperconectado, em que os negócios de todos os setores dependem de dados digitais para operar e crescer. Por conta disso, a segurança cibernética se tornou um fator estratégico. 

Proteger informações sensíveis, garantir a privacidade dos usuários e manter a continuidade operacional são desafios diários para empresas que enfrentam ataques cada vez mais sofisticados e frequentes.

Conversamos com Priscila Meyer, especialista em cibersegurança e CEO da Eskive, para entender como as organizações podem adotar uma abordagem preventiva e eficiente. 

Ela destaca que tecnologias como inteligência artificial, autenticação contínua e metodologias avançadas, como o Zero Trust, são fundamentais para criar uma verdadeira arquitetura de confiança digital. 

Continue acompanhando e veja como esses aspectos podem ajudar em sua proteção digital.

Zero Trust: nunca confiar, sempre verificar

Priscila explica que o conceito de Zero Trust não se trata de uma tecnologia isolada, mas de uma abordagem estratégica que integra diferentes ferramentas e políticas de segurança.

“O slogan do Zero Trust, ‘nunca confiar, sempre verificar’, resume bem a filosofia por trás dessa arquitetura. Cada solicitação, conexão ou transferência de dados deve ser tratada como potencialmente maliciosa até que se prove o contrário”, afirma a especialista.

Essa visão é necessária diante de ecossistemas corporativos cada vez mais complexos, que envolvem ambientes híbridos, multinuvem, dispositivos IoT, home office e integrações com serviços externos.

Até alguns anos atrás, a segurança de dados baseava-se na ideia de que tudo dentro do perímetro da rede era confiável. Hoje, esse modelo se tornou obsoleto. 

O Zero Trust parte do princípio de que a rede já foi comprometida por um invasor e, por isso, adota uma postura 100% preventiva, reduzindo ao máximo os privilégios de acesso.

Cibersegurança em ambientes hiperconectados

Com a transformação digital acelerando processos, novos dispositivos e aplicações são constantemente integrados às operações empresariais. Isso aumenta a superfície de ataque, tornando mais difícil proteger os dados corporativos.

“Os profissionais de segurança precisam rever o que sabiam sobre proteção de dados. Estratégias antigas já não são suficientes para lidar com o ritmo de evolução do cibercrime”, alerta Priscila.

Ela reforça que não é necessário criar ambientes desnecessariamente complexos com soluções “milagrosas”. 

A base de uma boa estratégia ainda está em auditorias constantes, gestão eficiente de riscos e na execução bem-feita dos processos fundamentais de segurança. 

No entendimento de Priscila, o diferencial está na capacidade de adaptação rápida e na combinação dessas práticas com novas tecnologias.

Privacidade de dados e conformidade regulatória

As legislações de proteção de dados, como a LGPD no Brasil e o GDPR na Europa, trazem desafios adicionais para as empresas. Garantir compliance com múltiplos frameworks regulatórios tornou-se uma tarefa complexa, mas essencial.

Nas palavras de Priscila: “O cumprimento das normas não deve ser visto como uma obrigação operacional, mas como um guia estratégico. Quando a alta diretoria está envolvida, a segurança digital se torna parte da cultura da empresa, reduzindo riscos financeiros e fortalecendo a reputação da marca”.

Ela também chama atenção para o fenômeno do cyber washing, quando empresas atendem apenas formalmente aos requisitos legais, sem elevar de fato os níveis de segurança. Essa postura pode gerar uma falsa sensação de proteção e expor o negócio a incidentes graves.

Autenticação contínua: vigilância em tempo real

Um dos pilares da arquitetura Zero Trust é a autenticação contínua, que vai além de logins e senhas tradicionais.

“Atores maliciosos já conseguem driblar fatores clássicos de autenticação, como senhas e tokens. A autenticação contínua utiliza algoritmos que analisam constantemente o comportamento do usuário para confirmar sua identidade”, explica a CEO da Eskive.

Essa tecnologia considera variáveis como geolocalização, padrões de navegação, ritmo de digitação e atividades rotineiras. Se algum comportamento anômalo for detectado, o sistema avalia o risco em segundos e pode bloquear o acesso imediatamente.

Exemplo prático: se um colaborador normalmente acessa um sistema pelo notebook às 10h, mas em determinado dia tenta logar via smartphone às 17h com uma navegação atípica, o sistema identifica o desvio e exige validação adicional. Essa abordagem reduz drasticamente as chances de ataques bem-sucedidos.

Inteligência artificial na cibersegurança

A inteligência artificial (IA) tem se tornado uma aliada estratégica no combate ao cibercrime. Inicialmente recebida com cautela, hoje ela é vista como uma ferramenta indispensável para as equipes de segurança digital.

“A IA automatiza tarefas repetitivas, identifica falsos positivos e fornece insights valiosos, aliviando a carga de trabalho das equipes, que muitas vezes são reduzidas diante da alta demanda”, comenta Priscila.

Além disso, a IA tem a capacidade de aprender novas táticas utilizadas por invasores, reagindo de forma rápida a ameaças emergentes. 

Esse modelo supera métodos tradicionais como assinaturas de malwares conhecidos, que se tornaram insuficientes diante da sofisticação dos ataques modernos. 

A tecnologia também é fundamental para suportar soluções como a autenticação contínua e análises preditivas.

Ransomware: ameaça crescente

Entre os ataques mais temidos atualmente está o ransomware, em que criminosos sequestram dados e exigem resgate financeiro. 

Com a digitalização crescente, esse tipo de ataque tem se tornado mais frequente e devastador, atingindo empresas de todos os portes.

“Com a abordagem Zero Trust e autenticação contínua, conseguimos reduzir significativamente os riscos de invasões desse tipo. Mas é fundamental também ter planos de resposta a incidentes e políticas claras de backup e recuperação de dados”, destaca Priscila.

Além do impacto financeiro, um ataque de ransomware pode comprometer a confiança de clientes e parceiros, prejudicando a imagem da marca no longo prazo.

O futuro da confiança digital

Novas tecnologias estão surgindo para reforçar a arquitetura de confiança digital, tornando os ambientes corporativos mais seguros. Entre elas estão blockchain, computação quântica, criptografia homomórfica e gêmeos digitais para simulações preditivas.

“A forma como entendemos a confiança dentro das redes corporativas mudou para sempre. Agora, cabe às empresas analisar e adotar gradualmente essas inovações, garantindo que a segurança acompanhe a evolução do negócio”, conclui Priscila Meyer.