O Brasil enfrenta uma escalada preocupante de crimes que ameaçam tanto as redes físicas de telecomunicações quanto a infraestrutura digital. Em 2023, foram mais de 5,4 milhões de metros de cabos de telecomunicações furtados ou roubados, um aumento de 15% em relação a 2022, segundo levantamento da Conexis Brasil Digital.
Esses crimes afetaram diretamente 7,6 milhões de pessoas, que ficaram sem serviços de internet, telefonia ou TV por assinatura, e geraram prejuízos milionários para empresas e governos estaduais e municipais .
Além do impacto econômico, os crimes trazem riscos à segurança pública. O furto de cabos pode interromper serviços de emergência, como 190, hospitais e sistemas de transporte, além de prejudicar empresas e usuários, de modo geral, que dependem da conectividade.
Continue lendo e saiba mais sobre roubo de cabos e sequestro de redes, bem como os principais modos de proteção.
Crimes digitais e o fenômeno do “sequestro de redes”
Se nas ruas os cabos desaparecem, no mundo virtual cresce um outro tipo de ameaça: o sequestro de redes. Facções criminosas vêm dominando áreas urbanas e rurais, exigindo pagamento de mensalidades de provedores que atuam legalmente ou instalando suas próprias redes clandestinas.
Segundo a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), esse tipo de crime, antes concentrado no Rio de Janeiro e no Ceará, agora já atinge Bahia, Pará, Espírito Santo e Amazonas .
Por conta disso, o Governo Federal prepara um programa piloto, em parceria com a Anatel e operadoras, para retomar territórios dominados por facções, a exemplo do que ocorreu no Rio Grande do Norte em 2024.
Na esfera digital, os números também preocupam. Um relatório da Sophos revelou que 68% das empresas brasileiras foram vítimas de ataques de ransomware em 2024, com crescimento de 13% nos casos em relação ao ano anterior .
Prejuízos crescentes para o setor
O impacto financeiro desses crimes é significativo. Em 2024, segundo a Abracopel, cerca de 100 toneladas de fios e cabos foram furtadas em todo o país.
No setor de energia elétrica, o prejuízo direto com reposição de cabos chegou a R$ 26 milhões, além de 54 mortes registradas em decorrência de acidentes durante furtos, conforme levantamento divulgado pelo Poder360 .
No setor de telecomunicações, os danos vão além da reposição física dos equipamentos. Há perdas relacionadas à interrupção de serviços, indenizações a clientes e queda na confiabilidade das redes, o que pode frear investimentos e atrasar projetos de expansão, como a chegada do 5G a regiões remotas.
Ações preventivas e políticas públicas em andamento
Para conter essa onda de crimes, empresas e entidades do setor têm pressionado por medidas mais rigorosas.
Em julho de 2025, foi sancionada a Lei nº 15.181, que aumenta as penas para furto, roubo e receptação de cabos e equipamentos de serviços essenciais, como telecomunicações, energia e transporte .
Além disso, a Anatel trabalha em conjunto com as operadoras para criar mecanismos de rastreamento e controle de redes, enquanto governos estaduais intensificam operações de segurança para desarticular quadrilhas especializadas no roubo de fios e cabos.
A Conexis e empresas como Vivo, Claro e TIM defendem políticas públicas que incentivem o uso de cabos sunterrâneos e submarinos, reduzindo a exposição da infraestrutura e, consequentemente, o risco de furtos.
Em São Paulo, por exemplo, a Vivo reportou 840 quilômetros de cabos roubados em 2023, apenas na capital e região metropolitana, demonstrando a gravidade do problema.
Soluções possíveis: tecnologia e prevenção
O enfrentamento a esses crimes exige uma abordagem integrada, que envolva tecnologia, políticas públicas e conscientização. Entre as soluções apontadas por especialistas estão:
- Enterramento de cabos: diminui a vulnerabilidade física e melhora a estética urbana, embora tenha custo elevado;
- Blockchain e rastreabilidade: uso de tecnologia para criar uma trilha digital que permita identificar a origem de materiais, dificultando a revenda ilegal;
- Sistemas de ciberdefesa: monitoramento contínuo e inteligência artificial para detectar anomalias nas redes e prevenir ataques digitais;
- Parcerias público-privadas: integração entre operadoras, governos e forças de segurança para resposta rápida a incidentes.
Conectividade segura como prioridade nacional
O aumento dos roubos de cabos e sequestros de redes evidencia a necessidade de tratar a conectividade como infraestrutura crítica, tão essencial quanto estradas e hospitais.
Garantir a proteção física e digital das redes, atualmente, é uma questão estratégica para o desenvolvimento econômico e social do país.
Sem ações coordenadas e investimentos em segurança, milhões de brasileiros seguirão vulneráveis — desconectados de serviços essenciais e expostos a novas formas de criminalidade.
O caminho passa pela inovação tecnológica, fiscalização eficiente e políticas públicas que priorizem a continuidade e a segurança da conectividade.
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