A construção do futuro digital passa por decisões estratégicas tomadas hoje. Infraestrutura, interoperabilidade e regulamentações são elementos centrais para garantir que a inovação tecnológica seja sustentável e escalável.

No último dia do Futurecom 2025, palestrantes debateram os pilares que sustentam a evolução tecnológica, desde normas históricas até as projeções para 2055.

Confira os destaques sobre a evolução da conectividade, a abertura das redes via APIs e os marcos regulatórios que moldaram o setor.

Infraestrutura para IA: Construindo uma base sólida para a IA do futuro

O uso de IA vem se tornando exponencialmente mais massivo a cada dia que se passa, absorvendo cada vez mais dados que o alimentam e demandando maiores quantidades de recursos para que funcione adequadamente.

Esse foi um dos questionamentos levantados no último dia da 30° edição do Futurecom, sob a mediação de Mauro Andreassa, Secretário de comissão de estudos de tecnologias quânticas da ABNT, e acompanhado de ilustres convidados, tanto de instituições públicas como privadas, com a missão de criar melhores fundamentos para um uso mais sustentável de IA no futuro próximo.

Um dos maiores desafios para o futuro que vemos hoje, como pontuado por João Walter, Diretor do Ascenty, é a “falta de pessoas qualificadas trabalhando nessa infraestrutura cada vez mais extensa”. “Temos que profissionalizar os técnicos e atrair mais pessoas novas para a área, para que assim sempre tenhamos equipes ativas, 24 horas por dia.

É o que será necessário para manter sistemas massivos desses sempre funcionando adequadamente”. Ricardo Koyama, da Tata Consultancy Services, vê a IA como uma força motriz que alavancará cada vez mais outras tecnologias, à medida que ela se integra mais com estas, como é o caso com o 5G e a Internet das Coisas (IoT, na sigla en inglês).

Porém, apesar do forte desenvolvimento da IA, todos os palestrantes defenderam que a tecnologia nunca substituirá as mentes humanas, não importa quantos anos passem, como foi bem colocado por Diuliana França, Diretora de Soluções em Cloud da Claro Empresas, e Leonardo Mendes, Diretor de Infraestrutura e Operações da Cogna.

Carlos Andrade de Queiroz (Transpetro) e Fernanda dos Santos (Dataprev) também fizeram um aceno ao conceito de “soberania digital” do Brasil para os próximos anos, argumentando a favor do início de estudos para que se criem data centers mas regiões Norte e Nordeste do país, alimentados por energias renováveis e trazendo desenvolvimento às regiões mais carentes do território nacional.

Open Gateway, APIs de rede e ecossistemas digitais

Na palestra dedicada ao tema os painelistas destacaram como a padronização das interfaces entre operadoras e desenvolvedores pode redefinir a forma de criar serviços digitais. A iniciativa busca abrir um novo capítulo na conectividade ao transformar as redes de telecomunicações em plataformas programáveis, permitindo que empresas de diversos setores, de bancos a games, integrem funcionalidades de rede diretamente em seus aplicativos. O movimento promete acelerar a inovação e ampliar o alcance de soluções digitais que exigem baixa latência, segurança reforçada e personalização em tempo real.

Entre as medidas, estão acordos estratégicos para expandir o número de APIs disponíveis e o incentivo à formação de parcerias entre operadoras, startups e grandes corporações. Segundo os debatedores, a implementação do Open Gateway pode fortalecer a soberania digital e gerar novas oportunidades de negócios em escala global, ao mesmo tempo em que abre espaço para modelos colaborativos mais transparentes e sustentáveis. A expectativa é que, nos próximos anos, o Brasil se posicione como protagonista na adoção dessas tecnologias, ampliando o papel das telecomunicações como motor de transformação econômica e social.

Conectividade em 2055: Comunicação e Conexão em 30 anos

No mundo da tecnologia, 30 anos é uma eternidade, ainda mais na velocidade em vemos a área se desenvolver no presente. No entanto, isso não nos impede de praticar um pouco de “futurologia”, como colocou o mediador Wilson Cardoso, Assessor Técnico da Diretoria Regional do SENAI-SP, no painel “Conectividade 2025: Comunicação e Conexão em 30 anos”.

O Keynote Speaker Jean Pierre Bienaimé, Chairman da Ubiquity, trouxe ao debate, em uma palavra, como ele enxerga esses próximos 30 anos para as telecomunicações: ubiquidade. “As redes de telecomunicações estarão em todo lugar, conectando absolutamente tudo em sua infraestrutura”.

Para Jean, isso significa que não haverá mais uma divisão massiva e visível entre as próximas gerações de redes móveis, pelo fato do quão integradas elas estarão ao cotidiano e a vida como um todo.”O “g” perderá o seu poder de marketing, já que muitas das funcionalidades novas, como é o caso com o 5g, serão invisíveis ao usuário da ponta final”.

Seguindo essa linha apresentada pelo francês, José Brito, Pró-Diretor de Pesquisa da Inatel, acredita que teremos apenas mais, no máximo, 2 gerações de redes móveis. “Com cada nova geração o custo de desenvolvimento acaba aumentando também, o que afasta os consumidores”, explica Brito, sobre como isso pode ser ruim aos negócios.

Paulo Silvestre, articulista do Estadão, diz acreditar que haverão diversas questões éticas daqui três décadas em torno do tema, devido a forma como a tecnologia, já atualmente, “muda a forma como comunicamos e como pensamos, afetando nosso senso crítico”, o que, para ele, ainda não é suficientemente discutido.

Paulo Rufino, Cientista Membro da CTIF Global Capsule Foundation da França, argumenta que tais questionamentos, como levantado por Paulo Silvestre, nos colocarão em uma era na qual questionarmos de fato “o que é ser humano”, com Anderson Jacopetti, CTO da Alares Internet, concordou com as falas de seus colegas, defendendo que a difusão dessa grande infraestrutura digital, mencionada por Jean Pierre, será o novo padrão.

30 anos da Norma 4/95

Um debate afiado tomou conta de um dos palcos do Future Congress, com nomes de alto nível presentes para discutir uma decisão polêmica recente feita pela ANATEL: a revogação da Norma 4/95, que completa 30 anos em 2025. Com mediação de Caio Bonilha, Sócio-Diretor da Futurion, o objetivo da palestra era trazer perspectivas para o futuro, pós-revogação da Norma, e os motivos que levaram a ANATEL a tomar essa decisão.

Mozart Rocha Júnior, assessor que veio como representante da presidência da ANATEL, explicou que a escolha da instituição pela revogação teve como objetivo a simplificação da tributação em cima da internet, portanto, a colocando de volta sob o guarda-chuva das telecomunicações.

Os demais debatedores presentes discordaram da ação da ANATEL. Renata Mielli, Coordenadora do CGI, lembrou da história da Norma 4/95 e que, durante sua promulgação, foi quando o conceito de SVAs foi definido. Portanto, a revogação da Norma resultaria no fim de SVAs como um todo.

“E os demais serviços associados a SVA? Serão todos regulamentados pela ANATEL agora?” disse Gil Torquato, Presidente da Abranet, manifestando seu descontentamento com a revogação. Mozart sugeriu reabrir a decisão da instituição em alguns pontos em um futuro próximo, porém, disse que a revogação da Norma 4/95 será mantida de toda maneira.

Também estiveram presentes Diogo Della Torres, da Conexos, Cristiane Sanches, Conselheira da Abrint, Amanda Ferreira da Telcomp, e Carlos Mendes, CEO Watch e Associado da ABOTTs. Os painelistas também foram contrários a decisão de acabar com a Norma 4/95.


O Futurecom 2025 chegou ao fim, mas o Futurecom Digital segue publicando conteúdos exclusivos durante todo o ano. Acompanhe as atualizações, entrevistas e análises que mantêm você por dentro das principais transformações do setor de tecnologia e telecom!