Estamos acostumados a pensar na acessibilidade arquitetônica, mas é hora de democratizar também o ambiente digital. Com esse conceito, o advogado e INstrutor do IN – Movimento Inclusivo, César Romão, iniciou o painel “Tornando a internet um ambiente para todos”, do qual foi mediador. A atração foi parte de uma trilha de palestras e debates sobre inclusão, na Arena 4CORP, no último dia da Futurecom 2019.
Isa Meirelles, relações públicas da Resultados Digitais, dividiu com os presentes um pouco de sua experiência, tanto com o marketing e a acessibilidade dos conteúdos online quanto como deficiente visual monocular (com visão em apenas um dos olhos). “Sabemos que a acessibilidade digital depende de três pilares: design, desenvolvimento e conteúdo. Meu foco de trabalho hoje é o conteúdo, que é responsabilidade de todos nós, já que todos produzimos conteúdos nas nossas redes sociais”, explicou.
Thierry Marcondes, líder de transformação digital na L’Óreal e participante do painel, continuou a discussão apontando que foram suas características únicas – enquanto surdo, em consequência da Síndrome de Uscher – que levaram à sua trajetória como empreendedor com foco em inovação. “É a diferença é transformadora. Eu vejo o mundo de maneira diferenciada, mas cada um tem sua própria visão. Todos temos habilidades que podem ser melhoradas e habilidades que se desenvolvem muito bem. Mindset e tecnologia caminham juntos para tornar o digital mais acessíveis para todos”, comentou.
Completando o grupo de painelistas, Flávio Oliveira, Gerente de Experiência do Cliente do Banco BGM, dividiu com os presentes um case real voltado à acessibilidade. “Em 2018 eu recebi o convite de criar uma solução em conjunto com a Hand Talk, que tornava o nosso site do BGM acessível em LIBRAS, para deficientes auditivos”, comentou. “Fizemos também uma campanha gigantesca de marketing que tratava o Hugo – o personagem que traduz o conteúdo para LIBRAS – como um novo funcionário do banco”, explicou. O projeto já recebeu 4 prêmios nacionais de responsabilidade social e, em 2020, concorre a seu primeiro prêmio internacional, no México. “É preciso destacar que esse foi um projeto de baixa complexidade e custo, mas de muito impacto. A acessibilidade é possível”, defendeu. Embora não tenha uma deficiência física, o painelista é casado com uma pessoa com deficiência visual.
Para Isa, é importante observar que, com muita frequência, as pessoas envolvidas em projetos de acessibilidade têm alguma deficiência ou convivem de perto com uma pessoa com deficiência, como era o caso de todos os presentes no painel. Nesse cenário, como iniciar uma transformação coletiva? “Eu não tenho uma resposta concreta, porque vivemos uma exclusão histórica e ainda é preciso mudar muitos paradigmas”, comenta. Porém, a RP destaca também que acessibilidade é para todos – inclusive para quem não tem uma deficiência. “A tecnologia desenvolvida para tornar o conteúdo acessível em áudio, por exemplo, também pode ser amplamente utilizada enquanto alguém está dirigindo ou andando de bicicleta. Trata-se de ampliar os sentidos e disseminar a mensagem com outros estímulos, em múltiplas plataformas”, exemplificou. “A acessibilidade é indispensável para quem tem uma deficiência, mas ela é capaz de transformar a vida de todos”, reforçou.
Marcondes concordou, apontando que a maneira mais fácil de pensar em tecnologia acessível é planejar desde o início que ela inclua o maior número possível de pessoas. “Quando você cria uma tecnologia para as pessoas dita ‘normais’, você limita as possibilidades dela. Pensar em ações para pessoas com alguma limitação permite uma escalabilidade grande do projeto. O Whatsapp, por exemplo, é uma ferramenta muito acessível, que permite que cegos e semialfabetizados utilizem o recurso de áudio e que surdos utilizem os recursos de texto. Ainda assim, é uma ferramenta que funciona para muitos públicos e se adapta a diferentes situações”, explicou. “Pensar em tecnologia acessível não é lidar com um nicho pequeno de mercado, muito pelo contrário: são ferramentas fortemente escaláveis”, defendeu.
Para Oliveira, existe uma evolução em prol da acessibilidade, mas ainda é necessário percorrer um caminho longo. “O mundo digital facilitou muito a vida das pessoas com deficiência. Nós enquanto representantes de empresas, precisamos estar constantemente prestando atenção e dispostos a perceber se a informação está de fato acessível”, comentou.
“Nada é mais disruptivo do que o outro. A base para buscar a transformação é a interação, a convivência e os diferentes olhares sobre uma mesma situação. Como é possível fazer isso sem integrar e conviver? Inclusão é a chave para transformar a tecnologia”, finalizou César Romão.
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