O último dia da primeira semana do Futurecom Digital Summit, e quarto dos oito dias que compõe o evento, foi dedicado à trilha de conhecimento do FutureTECH. Realizado na quinta-feira, dia 25 de junho. Para abrir mais um dia do evento especial, a organização preparou a palestra “Criatividade em Tempos Difíceis”, ministrada por Lucas Foster, fundador da World Creativity Organization.
“O Dia Mundial da Criatividade foi idealizada por mim em 2014 e em 2017 passou a fazer parte do calendário oficial de celebrações da Organização das Nações Unidas. Este ano ele aconteceria em 115 cidades e 15 países. Todas as atividades tiveram de ser canceladas, e fizemos em tempo recorde a trasformação digital de 85% dessas ações”, explicou o convidado.
O especialista prosseguiu em sua inspiradora fala com uma interessante visão sobre a relação entre criatividade e o momento global que estamos enfrentando.
“Não é a primeira vez que a humanidade passa por tempos difíceis, o que eu acho super relevante é que nós estamos assumindo esse termo, ou seja, realmente agora estamos diante da ausência de respostas para tantos problemas. Antes de falar da importância da criatividade, temos que falar sobre tempos difíceis”, prosseguiu.
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Nova década digital
“É muito difícil encarar essa nova realidade. Estamos em um momento de transição, tivemos que improvisar em muitas frentes, o home office e a Transformação Digital estão acontecendo de forma improvisada. Então, quando somos pegos desprevenidos como o coronavírus nos colocou, começamos a entender a força da cultura e das lideranças.
Para ele, os obstáculos que se apresentam são também um marco de que uma nova era se faz necessária, e que o mundo que conheemos mudará completamente e de forma rápida.
“Acredito que isso inaugura uma nova década, onde a economia digital vai permear qualquer negócio, e o mundo digital vai ter que dar respostas rápidas, ou tirando a agenda política do debate, ou a encarando para anunciar essas mudanças aceleradas”, analisou.
“No Futurecom precisamos falar da Transformação Digital, e isso leva ao 5G. Estamos no meio de uma nova guerra fria: temos um problema de saúde, outro problema econômico e uma terceira que é uma crise política”, prosseguiu Foster. “Por estarmos em um país que não é determinante nas condições globais, estamos vendo o que será decidido entre as duas maiores economias do mundo. O contexto então passa a impactar não mais as organizações, mas os indivíduos."
A retomada social
Assim como outros especialistas, o palestrante crê que a rediscussão de valores e a saúde mental da sociedade são aspectos vitais para a retomada.
“Para onde nós queremos que o mundo vá? Existe uma resposta óbvia, que não depende da nossa vontade, e que é a digitalização de serviços, mas isso vai trazer uma série de problemas que são o desemprego, a necessidade de construir novas habilidades em tempo recorde, são as resistências culturais, as lideranças que hoje já não fazem mais sentido, então com certeza haverá uma troca enorme de cargos de C-levels nos próximos cinco anos trazendo novas mentalidades”, explicou.
Para Foster, a criatividade terá um papel crucial em um mundo e mercado que exigirão novas habilidades e uma visão diferente de seus colaboradores.
“O desenvolvimento sustentável, os empregos verdes e os empregos digitais tendem a crescer nessa nova realidade. E aí como é que fica a nossa condição diante dessa nova realidade?”, observou.
Ele prossegue: “A questão da sanidade talvez seja a mais importante, a base para falarmos de criatividade. Isso deve fazer parte dessa nova agenda de colaboradores, e os líderes devem liberar seus colaboradores para isso, para que haja de duas a três horas por dia de consumo de conteúdos sobre essa nova realidade. A criatividade vai ser a combinação desses novos repertórios em um contexto de engajamento para que as pessoas possam compartilhar ideias.”
Reinvenção em tempos de crise
Na sequência, o Futurecom Digital Summit deu início ao primeiro painel do dia. Idealizado sobre o tema “Como (re)inventar Negócios em Tempos de Crise?”, o debate foi moderado por Flávia D´Angelo, Editora do Channel 360.
“Nessa discussão, temos empresas dos mais variados perfis, e elas vão falar sobre como elas revisitaram seus momentos de negócio e como trataram os gaps que podem ser explorados no ambiente digital”, introduziu a moderadra, que foi seguida por Bruno Machado, Diretor de Transformação Digital da Amil, expondo suas visões sobre o tema:
“A despeito de todas as incertezas, temos que focar no momento em que a gente está, para fazer negócios nesse momento. O que ficou claro na Amil foi a questão da integração, encurtar os caminhos e concentrar nossas energias no que fizesse mais sentido para os nossos clientes.”
Para ele, a forma como as pessoas cuidam de sua saúde também mudou com a pandemia, e alguns desses hábitos ficarão para o futuro próximo.
“Nossa maior entrega nesse sentido foi a solução de telemedicina. Era uma das tencologias que já tinha condições de ser executada mas que, por questões regulatórias, ainda não era permitida. Então vemos que existe esse gap”, explicou ele, que prosseguiu em sua visão sobre o tema:
“Antes da pandemia tinhamos um convênio para teleconsulta, disponível para 180 mil clientes, e depois dela colocamos disponível para mais de 3 milhões de clientes. Nossos esforços são para melhorar a experiência, seja a consulta física ou digital, e pegando o gancho do que o Lucas falou, a questão da saúde mental também tem sido bastante procurada, é algo que vemos notando.”
Digitalização da sociedade
Também participante da conversa, Igor Senra, Fundador e Presidente da Cora, falou sobre como o momento atual ampliou sua visão sobre a digitalização da sociedade.
“Eu era uma das pessoas que dizia que home office nunca funcionaria, e no final das contas, pelo menos no nosso caso, estamos funcionando de forma mais produtiva do que antes”, observou ele.
“Acho que isso vai impactar em mudanças que irá mudar nossa relação com os imóveis. As pessoas compravam o imóvel pensando em um tipo de uso, e agora vão pensar em ter um escritório, em despensa, em fatores que não eram olhados antes.”
Outro dos convidados do painel, Reinaldo Sima, Diretor de Transformação Digital da MRV Engenharia, deu exemplos de como o setor da construção civil tem se aproveitado das novas tecnologias para projetar o modo de habitação das novas gerações:
“A casa passou a ser essencial. Nós falavamos antes que nosso cliente ficava metade do tempo na casa metade de sua vida. Mas aí vem a crise e passa a ser 70, 80 ou 90% do tempo. O modo de trabalho mudou, e certamente nós já estamos vendo nos novos lançamentos uma preocupação com espaços eficazes para isso, mas não vai parar aí”, afirmou o especialista.
Espaços de moradia colaborativos
Para ele, os espaços de moradia caminham para se tornarem um verdadeiro senso de comunidade, onde vizinhos possam colaborar entre si, além de dividirem espaços. Ele explica:
“Ao invés de passar a entregar um condomínio, passamos a entregar uma comunidade, um espaço onde as pessoas compartilham interesses comuns e geram sustentabilidade. Entregamos, por exemplo, espaços com 8 mil unidades, que é como uma pequena cidade. E isso gera mesmo comunidades, e as pessoas interagem entre si.”
“Não vemos o produto apenas como o hardware, a moradia, mas como o software, uma plataforma que ofereça condições para quem quer ter uma renda extra – seja oferecendo um curso de inglês, vendendo um bolo, oferecendo vaga de garagem – possam interagir e conseguir isso”, explicou.
Christian Horst, CIO da Sequoia Soluções Logísticas, foi outro convidado que dividiu sua experiência e conhecimento durante o painel. Para ele, a logística também passou a ser impactada, já que novos paradgimas ditarão o ritmo do mundo pós-pandemia.
“O ecossistema geral da logística foi colocado à prova para oferecer coisas que até então não existiam como oferta para o usuário final. Então o foco na experiência do usuário, tanto nas entregas quanto no B2B, pois isso acaba sendo nevrálgico para a nossa vida”, disse.
“A gente depende de canais como esse que chegam à nossa casa, antes de forma esporádica, e agora todo dia. E talvez esse seja um legado: novas formas de compra, inteirações diferentes, e haverá um híbridro. A evolulão do e-commerce terá esse novo patamar a partir da experiência que estamos vivendo”, completou.
Ecossistema das empresas
Para Bruno Machado, a situação também ofereceu uma série de aprendizados às empresas, entre elas o fato de que é preciso interagir ainda mais com outros players do mercado.
“Neste período, ainda que estejamos em casa, talvez tenhamos interagido mais com os clientes, parceiros e com oportunidades comerciais, justamente para reagir a tudo isso, a gente tenha olhado mais para fora das empresas”, explicou o convidado.
Ele prosseguiu: “Um relacionamento concreto que creio que não pode se perder é essa inteiração com o ecossistema, como as startup. Acredito que isso é muito valioso, os múltiplos vínculos, múltiplos papéis. Eu tenho o papel de diretor de Transformação Digital, mas não sou só isso, posso fazer mais pelos outros, dando o exemplo por exemplo de quando o Igor me ajudou no passado.”
Fator emocional
De acordo com Christian, o fator humano também será essencial, já que, com a pandemia, muitas pessoas passaram a ficar isoladas, o que se reflete em seu estado emocional.
“Acho que não tem receita pronta, mas precisamos conhecer mais as pessoas. Mesmo virtualmente, mais do que nunca, precisamos estar perto para fazer nosso check cotidiano, ver se as pessoas estão bem, porque sem isso não há criatividade, não há equilíbrio e não há o ‘novo normal’”, refletiu.
Igor concordou com os colegas, citando que a colaboração será a chave desse “novo mundo” cada vez mais ágil e conectado.
“A empresa tem que entender que ela faz parte de um ecossistema. A gente tem que tentar construir isso de tal forma que uma empresa com outra seja algo melhor do que cada empresa sozinha: a soma precisa ser maior do que cada um isolado. Isso é mais fácil de falar do que fazer, mas quando você consegue fazer isso, você tem um produto absolutamente incrível.”
Mudanças no perfil profissional
Para Reinaldo, essa nova velocidade nos contatos irão se refletir na estrutura das empresas, o que, em última instância, demandará profissionais mais versáteis e menos engessados:
“Um tema muito presente na nossa área de Transformação Digital é a agilidade. Eu acho que não existem mais as divisões entre TI e negócios separados, mas sim grupos organizados com autonomia para resolver os problemas usando a tecnologia”, explicou. “É um desapego de liderança agora. É claro que é preciso ter pontos de contato para poder absorver isso, mas a organização se mede, se avalia e se monitora em termos de conflito, motivação e etc...”
Para Christian, a observação se justifica, e muitas companhias precisarão repensar suas formas de atuação levando em conta os novos cenários.
“O repensar estratégico é necessário. Se antes já havia pouco espaço para modelos tradicionais, agora acho que o modelo é de fato diferente, caiu a ficha de que ele precisa ser diferente. Falar de agilidade, independente da metodologia, passa a ser vital, assim como trabalhar de forma menos hierarquica, como os times que você monta, as diversidades de pensamento”, complementou.
Adaptação veloz
De acordo com Igor, o preparo para esta adaptação veloz e desafiadora será também vital para quem desejar se sobressair no mercado. Diz ele:
“O grande diferencial é as pessoas e empresas estarem prontas para se adaptar. Por melhor que todos os colegas sejam, eu tenho certeza que não vamos acertar metade das nossas projeções. Então acho que a chave do negócio está nisso, em entender que a única coisa certa é a incerteza”.
E prosseguiu: “É preciso ter espaço e um time flexível para se adaptar aos novos desafios, e por aí vai. O que digo é: tenham paciência e espaço de manobra, pois será preciso ter muita flexibilidade.”
Oportunidade no desafio
Para Reinaldo, o espectro, por mais desafior que seja, se apresenta como uma oportunidade para auqeles que buscam se reinventar em mais uma crise.
“Acho que a opinião dos especialistas, das pessoas que tem uma boa visão da realidade também vai valer cada vez mais. E essa análise estratégica de estar incerto e ir por um caminho, sendo ágil para que, se esse não for o caminho, conseguir voltar e encontrar a rota, que não será uma reta”, afirmou.
“É difícil ser otimista em um momento desses, mas acho que quem conseguir olhar para o limão e ver uma limonada, vai sair na frente”, concluiu o convidado.
Veja as palestras do Futurecom Digital Summit em: https://videos.netshow.me/informa. Inscreva-se no evento para acompanhar os painéis dos outros dias desta imperdível realização.