O 5G tem dominado as notícias de telecomunicações, mas seu sucessor, o 6G, já começa a ser discutido pelo setor. Mas será que o duplo padrão no 6G é alvo de preocupação? O assunto foi debatido durante um dos principais congressos do Futurecom 2022 nesta quinta-feira, dia 20 de outubro.
Com mediação de Hermano Pinto, Diretor do Portfólio de Infraestrutura da Informa Markets e responsável pelo Futurecom, o painel contou com uma apresentação do Keynote Speaker e PhD Researcher em 6G, Paulo Sergio Rufino Henrique, que estuda o tema na universidade de Aarhus, na Dinamarca.
O painel também contou com as participações de José Marcos Câmara Brito, Secretário Geral do Projeto 5G Brasil na TeleBrasil, e Wilson Cardoso, CTO Latam da Nokia. Veja abaixo os principais pontos abordados na conversa!
Entendendo o conceito de 6G e suas diferenças para o 5G
Em sua apresentação inicial, Paulo falou sobre os pontos de estudo em seu doutorado sobre o tema, destacando que o 6G parte de um princípio diferente das tecnologias anteriores, buscando considerar aspectos humanos prioritariamente.
“O 6G se inicia como uma rede humanizada baseada em proporcionar ajuda e auxílio para acelerar os desenvolvimentos sustentáveis designados pela ONU”, observa ele.
O Keynote Speaker também comentou que a rede será humanizada, super rápida, descentralizada e segura, inteligente e cognitiva, com novas tecnologias, rede heterogênea e orquestração múltipla.
Entre suas principais características, o pesquisador destacou que ela apresentará atributos como hiperconectividade (IoB), sendo inteligente, onipresente e focada em energia verde e eficiência.
“A computação quântica vai servir para trazer essa otimização de tráfego e inteligência artificial, trazendo uma orquestração importante baseada em novos conceitos de IA com a sinergia da tecnologia quântica pela utilização de machine learning”, explicou o palestrante.
Padronização e demais características do 6G
Citando como exemplo a necessidade de padronização adotada pela Europa na década de 1980, Paulo comentou que esse aspecto será de grande importância para o 6G, que terá como objetivo levar a alta conectividade para quem ainda não tem nem mesmo o acesso de gerações anteriores.
“A padronização do 6G só deve começar a ser discutida em dois anos, pois nesse momento nos encontramos na fase de pesquisa e desenvolvimento”, explica ele.
O especialista também citou a convivência entre open source e propriedade intelectual como pontos-chave da tecnologia, assim como a importância do investimento em infraestrutura, pesquisas e parcerias públicas e privadas, e evitar de qualquer forma a proibição de concessões devido a questões geopolíticas.
Painel apresenta diferentes experiências e visões sobre o 6G
Após a apresentação inicial de Paulo, as perspectivas para o 6G foram debatidas ao longo do painel mediado por Hermano Pinto. Representante da TeleBrasil, a Associação Brasileira de Telecomunicações, Brito deu sua visão sobre o assunto:
“O Brasil historicamente acompanhou as novas tecnologias de comunicações móveis com uma participação ativa. A partir da quinta geração esse processo mudou um pouco, nós iniciamos há seis ou sete anos um conjunto de pesquisas na área de 5G, criamos um projeto para tentar ajudar a desenvolver o ecossistema de 5G no Brasil, e há dois anos criamos o projeto chamado Brasil 6G”, revelou.
De acordo com ele, o 6G poderá trazer grandes benefícios que as outras tecnologias ainda não conseguiram contemplar, como conectividade de alta velocidade em áreas remotas e rurais.
Wilson Cardoso, da Nokia, segue uma visão parecida com a do colega, destacando que o 6G também trará vantagens imensas para tecnologias como a de gêmeos digitais.
“Com ferramentas de computação quântica conseguiremos enviar informação ao gêmeo digital em tempo real, então você imagina quanta evolução não teremos com isso”, pondera o convidado.
O 6G como agregador de diferentes áreas de conhecimento
Para Paulo, a nova fase de conectividade também poderá agregar mais áreas de conhecimento e otimizar setores diversos da sociedade.
“O 6G tem o princípio de trazer outras áreas que não tinham participação diretamente na tecnologia wireless, como, por exemplo, na questão de LGPD, direitos humanos, ética de IA, etc. A própria comissão europeia tem área de pesquisa e faz grandes investimentos para trazer outros setores da ciência e do conhecimento para contribuírem com isso”, afirmou ele.
Hermano comentou que as ciências humanas também devem ser trazidas mais próximas para o desenvolvimento do 6G, enquanto Brito citou que o projeto Brasil 6G da TeleBrasil já conta com dez universidades de todo o país, entre elas Unicamp, UFRJ e UFSC, entre outras.
“A ideia é criar uma complementaridade do perfil dos pesquisadores, pois o 6G é uma tecnologia bastante ampla e multidisciplinar por natureza”, diz Brito.
Wilson observou que o 6G poderá trazer benefícios também na saúde, já que, como exemplo, um cardiologista poderá acompanhar como está o coração de um paciente em tempo real 24 horas por dia.
“Será possível, com o gêmeo digital, prever ações que evitem problemas de saúde, como, por exemplo, um alerta de que há o risco de um ataque cardíaco”, analisa.
De acordo com Paulo, o 6G poderá ser o último G, já que todas as novas tecnologias posteriores poderão ser realizadas diretamente em um ambiente de nuvem.
Afinal, o duplo padrão do 6G é um temor real?
Apesar de ainda estar ao menos uma década distante, o 6G já movimenta inovações no setor de telecomunicações. Para Brito, o grande desafio será regulatório, em especial sobre a questão de rádio cognitivo.
Falando sobre o tema principal da palestra, Paulo deu sua opinião, destacando que precisamos nos atentar principalmente para questões que vão além da tecnologia.
“Sobre o duplo padrão, espero que não, porém uma das grandes coisas que podem causar isso são questões geopolíticas. Para qualquer tecnologia é preciso ter competição, mercado aberto, então esse é um grande desafio nosso”, afirmou.
Brito concorda, apontando ainda que para que a tecnologia seja efetivamente adotada será preciso garantir que ela chegue a toda a população.
“Eu acho que se nós tivermos mais de um padrão, já no 5G, desde que eu comecei a pesquisar, eu sempre usava uma palavra que eu gosto e que agora estou usando no 6G, que é a ubiquidade. Ou seja, tem que estar disponível para todo mundo em qualquer lugar”, refletiu o representante da TeleBrasil.
Cardoso destacou conflitos geopolíticos que já ocorrem hoje como exemplo de situações que podem interferir na questão.
“O que nós temos hoje, por exemplo, é a questão de componentes da China para os EUA, que é um fator básico. Como indústria temos graves problemas também, e sou um pouco pessimista sobre isso, pois nós sempre vivemos de escala. Essa tecnologia de componentes, hoje temos uma aceleração razoável”, disse ele.
Visão positiva sobre os próximos passos para o 6G
Encerrando o painel, os convidados demonstraram uma visão positiva para o caminho do 6G nos próximos anos.
“Apesar de todos os desafios, do ponto de vista da comunidade científica, tenho uma visão positiva. Temos que nos engajar pelo futuro”, disse Paulo.
O pesquisador prosseguiu: “A rede celular de banda larga trouxe uma mudança de paradigmas de nossa vida. Antes a gente era só consumidor, mas hoje somos consumidores e também produtores.”
Para ele, nós “temos a capacidade de levar conhecimento e de levar formas e estratégias de desenvolvimento sustentável. Acredito que, em dez anos, se continuarmos engajados, venceremos os desafios.”
Brito diz acreditar que a rede será um verdadeiro marco para a sociedade, podendo auxiliar a solucionar questões que há muito vêm sendo debatidas.
“Acredito que teremos uma rede centrada no ser humano, pela primeira vez com essa concepção, trazendo uma série de aplicações inovadoras para melhorar a vida das pessoas, e teremos a grande oportunidade de usar novas tecnologias para resolver velhos problemas. O 6G é a nossa chance para isso”, comentou.
Já Wilson aproveitou para lembrar um case recente da Nokia para mostrar como mesmo desafios que parecem enormes a princípio podem ser superados.
“Acho que as preocupações são mais sobre o futuro de nossa indústria, como vamos caminhar. Estamos lançando agora com a Nasa a primeira rede 4G com a lua, e os desafios que tivemos para trabalhar em um ambiente completamente hostil mostram que com trabalho conjunto nós conseguiremos vencer”, encerrou.
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