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Minutos Corporativos com Lilian Quintal Hoffmann - Desafios da TI e da telemedicina

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Nesse episódio recebemos Lilian Quintal Hoffmann, da Beneficência Portuguesa de São Paulo. Ela nos falou sobre os desafios da TI e da telemedicina na pandemia. Confira!

A nossa convidada para o Minutos Corporativos de hoje foi eleita a executiva de TI do ano na categoria Mundo Híbrido, e tem mais de 25 anos de experiência em tecnologia. Lilian Quintal Hoffmann é Diretora-executiva de Tecnologia e Inovação da BP, a Beneficência Portuguesa de São Paulo.

A BP é atualmente o maior polo privado de saúde da América Latina em número de leitos. O papo é sobre desafios da TI e da telemedicina na pandemia. Como essa área de atuação beneficia a telemedicina, e como esse recurso está sendo utilizado na BP? 

A IA e a LGPD transformam a vida de colaboradores e pacientes. De que maneira isso acontece? E quais são as tendências tecnológicas para o setor da saúde apontadas pela nossa convidada para os próximos anos? Todas as respostas depois da vinheta!

Futurecom: Lilian, muito bem-vinda ao Minutos Corporativos da Futurecom. Para começar, queria que você nos contasse um pouco sobre como a Beneficência Portuguesa está inserida nesse mercado?

Lilian Hoffmann: “A BP nesse mercado, pensando globalmente e falando de tecnologia e pandemia, o fato é que o mundo entrou em um hiato quando a pandemia chegou, e a BP também se viu em um determinado momento tendo que lidar com uma patologia desconhecida. E isso era uma característica interessante, porque nós estávamos muito habituados a lidar com diversas especialidades e patologias conhecidas, e nos vimos diante de uma desconhecida e com um fluxo bastante alto de pacientes. 

E principalmente numa pandemia também continha o medo das pessoas, e esses medos não eram somente dos pacientes, era o medo da população em geral. Quando a gente olhava para esse cenário, e nesse contexto muitos outros hospitais também enfrentando a mesma realidade, precisaram rapidamente se reinventar. 

E essas medidas protetivas, seja para aplacar as dúvidas e os medos, foram baseadas na tecnologia. Porque se a gente pensasse, a primeira coisa foi que não podíamos sair de casa, precisávamos nos resguardar, então como fizemos para que a tecnologia pudesse suportar essa realidade? Também pensamos que nossos colaboradores precisavam vir ao hospital, pois eles precisavam atender aos pacientes. Então como usamos a tecnologia para mitigar o risco daqueles que não precisavam vir ao hospital e que podiam ficar em casa, como as áreas administrativas?

Então o impacto da pandemia trouxe uma luz, por isso a gente costuma dizer que a pandemia acelerou a tecnologia, e isso ocorreu por essas condições, nós todos nos vimos nesse novo universo, inclusive na dúvida de qual seria o melhor tratamento para o paciente com Covid, porque era algo novo, sem estudos, nós fomos acompanhando em como se tratar, quais eram as condições, falando de um vírus, então de um tratamento sintomático, então a tecnologia se acelerou por essa questão, e a BP foi criando mecanismos que pudessem garantir esse atendimento e também a segurança dos nossos colaboradores. 

Alguns obviamente tiveram que ficar na linha de frente, mas aqueles que não tiveram nós optamos no momento inicial pelo trabalho remoto, para que todos pudessem se sentir seguros quando a pandemia chegou.”

Futurecom: Como a tecnologia está ajudando a população a cuidar da saúde nesse período? 

Lilian Hoffmann: “Eu gosto sempre de trazer também números porque eu acho que isso ilustra, claro que existe uma realidade que vivemos dentro da BP, mas quando a gente fala de pesquisas que foram feitas considerando essa realidade a gente dá uma amplitude global.

E eu gosto de citar uma pesquisa que o Gartner fez no final de 2020, olhando para as instituições de saúde, e perguntando justamente no foco do envolvimento do cliente, os provedores de saúde principalmente, e perguntando várias questões. Entre elas estava qual era o aumento do percentual do uso de canais digitais, e os números chegaram a 89%. 

Então é fato que na saúde também houve uma adesão a canais digitais, e eles podem ser desde um processo mais clássico de uma telemedicina, que foi implementada no Brasil a toque de caixa porque nem do ponto de vista regulatório nós tínhamos a possibilidade de fazer a telemedicina B2C, do negócio para o cliente, até podíamos fazer a telemedicina mas B2B, de um médico com outro médico, mas não do médico para o paciente. 

A maneira como um paciente vinha presencialmente para agendar um exame, ele pensou que não precisava se expor duas vezes, então ele passou a agendar por um canal digital, e isso aconteceu na BP. Outro número que também foi pesquisado foi o do auto atendimento, onde houve um aumento de cerca de 84%. 

Então se a gente considera hoje por exemplo que existem sistemas de triagem voltados para Covid onde você faz um auto atendimento, responde sobre sistemas, nós temos pontos que falam sobre geolocalização, pessoas próximas, então esse auto atendimento voltado para a saúde também foi impulsionado pela pandemia, e nós na BP temos a crença de que isso veio para ficar, não a pandemia, mas esse comportamento do cidadão. 

E a gente que se posiciona como um hub de saúde tem muita crença que essa prevenção, esse processo onde eu posso cuidar da minha saúde, ter uma relação com esses provedores, muito mais focados em ser saudável, e claro que se a saúde for comprometida existe um atendimento e obviamente nós somos especialistas nisso, mas nós queremos também olhar para essa amplitude.

E essa pesquisa também olhou para a questão do engajamento, então eu posso usar um canal digital e fazer um auto atendimento, mas o quanto eu estou preocupado e engajado com a minha saúde, e esses números chegaram a 66%. 

E eu costumo dizer que, salvo a briga das marcas das vacinas, a gente brinca, surge meme no mercado, mas se pararmos pra pensar, tem um fundamento muito interessante porque a população se interessou pelo conteúdo, entender o que é, o que eu recebo, em como isso impacta a saúde, e se a gente pensar isso não era e não é uma característica. 

De qualquer forma, esse movimento do engajamento pela saúde, podemos até usar um chatbot para saber se os sintomas são de Covid, e isso é uma riqueza muito importante para as instituições, para as pessoas em geral e para as operadoras em geral. 

E precisamos tirar da pandemia esses ganhos, porque a saúde é muito cara, e nós na BP temos pensado em modelos de negócios mais sustentável na saúde, o modelo que é adotado hoje que é chamado de fee for service, em que eu executo e recebo, ele não é um modelo virtuoso, porque na teoria se eu não executar bem e o paciente voltar, eu ganho de novo. 

Eu preciso ter um modelo de quanto melhor eu for no acompanhamento, no engajamento, se o paciente toma ou não um medicamento por exemplo, hoje tem muita tecnologia que pode nos suportar nisso, ajudar o paciente a ter a adesão ao medicamento, seja um robô, chatbot ou aplicativo, que faz com que ele se engaje na saúde, se recupere melhor, e faz com que a saúde se torne mais barato. 

Então se olharmos nessa amplitude, esses são os ganhos da pandemia, além de trabalhar remotamente, se comunicar, a gente tem esse ganho na saúde, de ter um acesso exponencial e entregar uma oferta mais diferenciada, e isso é o que temos vivido.”

Futurecom: Como sua área de atuação contribui para a telemedicina e como esse recurso está sendo aproveitado pela BP?

Lilian Hoffmann: “Dentro desse contexto, além da área de tecnologia eu cuido também da área de engenharia clínica, que traz esse suporte de equipamentos médicos para esse processo. E quando a gente olha especificamente para a tecnologia, temos também um componente bastante importante que é o que a gente costuma chamar do uso de dados em tempo real, e para a pandemia isso foi crucial. 

Porque a medida que a gente precisava, e ainda precisa, ter noção clara do fluxo de pacientes, da volumetria de quem estava chegando, quais eram os recursos de insumos, e esses insumos em um determinado momento o mundo inteiro passou a utilizar os mesmos, então precisávamos de máscaras e luvas para todos, sedativos, pois as pessoas eram entubadas, álcool, etc.

Então foi muito importante no processo da tecnologia criar visões em tempo real de todos esses insumos, porque era a maneira mais simples da gente dizer ‘eu tenho disponível X volume de equipamentos, eu tenho tantos leitos de UTI disponíveis, eu tenho um fluxo de pronto socorro chegando, como eu distribuo essa realidade, como eu garanto por exemplo um aumento de estoque para ter a entrega ao paciente?’, então estudar os números e fazer visões preditivas daquilo que a gente teria de uso, nisso a tecnologia esteve bastante presente.

Então a BP tem muito o conceito de trabalhar no cuidado preditivo, olhar para esse número, e nós tínhamos questões muito ligadas à questões financeiras, qual era o nosso orçamento, a ocupação de leitos, então coisas mais voltadas para a operação. Em um determinado momento, e a pandemia trouxe isso muito forte, a gente começou a olhar que o paciente tinha um conjunto de dados que notava que ele poderia piorar, e portanto poderíamos precisar de UTI, e precisaríamos de insumo para isso. 

Então olhar para isso de modo preditivo foi nos dando segurança para que a gente fizesse investimentos em equipamentos, estoques, então a primeira grande entrega da tecnologia nesse momento foram os dados, a maneira como olhamos para eles, colocamos eles dentro de conteúdos de análise e inteligência, claro que isso foi feito com as devidas áreas, mas foi nossa primeira grande entrega, de visão situacional, o que eu tenho e como eu prevejo.

A gente andou falando bastante sobre a variante Delta, e isso também para nós por exemplo, estamos hoje olhando muitos dados comparados com países em que já existe um crescimento, então qual é o comportamento esperado no Brasil comparado com os Estados Unidos e Israel, então o dado foi a primeira entrega. E quando a gente fala do dado, com certeza a telemedicina foi a segunda grande entrega, porque em um determinado momento os pacientes chegavam, mas nossos colaboradores também precisavam de atendimento, assim como os pacientes que vinham ao centro de diagnóstico.

E quando olhamos para a telemedicina, a nossa primeira atividade foi com nossos coladores. Então antes de abrir para o público em geral, nós temos cerca de 7 mil colaboradores, mais seus dependentes, então falamos de um público de cerca de 10 mil pessoas, nós precisávamos também dentro do possível garantir a segurança deles, então mesmo que um colaborador fosse de linha de frente mas estivesse na casa dele, no final de semana, e tivesse sintomas e precisasse de um primeiro atendimento, a nossa ideia foi poupar o atendimento presencial para que pudéssemos acompanhar, e a medicina entrou para nós em março de 2020 quando a legislação permitiu para nossos funcionários. 

E nossos funcionários eram divididos em duas categorias: a triagem e avaliação, para termos clareza se era um sintoma para que ele viesse à BP fazer um exame e permanecesse na residência, e tínhamos também a telemedicina no acompanhamento, para os colaboradores que já haviam sido infectados mas que não precisavam de uma internação, e apenas de acompanhamento remoto. Então ao invés do retorno de consulta acontecer de forma presencial, nós fazíamos presencialmente.

E para nós a tecnologia também teve um aspecto muito importante, pois temos um jargão na BP de que queremos fazer medicina na tela, e não telemedicina. Então a tela é um veículo, o meio que eu consigo ter para a interação, mas queremos fazer medicina, então começar pelos colaboradores nos deu também a oportunidade para treinarmos os médicos do núcleo de saúde, capacitá-los, pois quem não está inserido no contexto muitas vezes pensa em um contexto de comunicação. 

Mas a telemedicina tem limites de atuação, o que posso ou não posso, tem desafios, se eu estou num processo com um paciente e ele tem determinados sintomas, e eu de cara já sei que ele não é um candidato à telemedicina, como um paciente com uma dor pré-cordial por exemplo, ele não é um candidato, então eu tenho que ter uma triagem prévia onde um paciente respondendo a alguma questões ele já esteja descartado dessa via e seja aconselhado a procurar o pronto socorro imediatamente.

Então a tecnologia para nós foi sendo adaptada para todas essas situações. Então criamos as triagens específicas de Covid, as de testagem, e os médicos também precisaram se adaptar e ter uma linha de cuidados bem desenhada, como eu atendo esse paciente, até onde eu vou, que drogas posso prescrever, o que eu posso fazer, então nossa população de colaboradores, com todas seguranças obviamente, mas foi um teste para depois colocarmos aos pacientes. 

A segunda grande entrega foi esse ambiente montado junto com o corpo médico, onde foi criado o cuidado específico para o Covid, e ele foi nosso produto viável que nos permitiu expandir, e hoje sim temos um processo com pronto socorro digital, em que o paciente pode ser atendido a qualquer momento, ele quando entra na plataforma também responde questões, e ele pode ter um pronto socorro digital onde ele tem parte das resoluções de suas questões de saúde já resolvidas nesse atendimento. 

E fazemos também hoje serviços ambulatoriais de acompanhamento pós-Covid, pois os pacientes também têm sinais de recuperação em que por vezes não precisa estar no presencial, mas sim de acompanhamento. Então a tecnologia veio trazendo essas condições, e agora nosso olhar tem sido de como alavancar a percepção do médico em relação a esse paciente, então estamos testando dispositivos que, enquanto estamos falando, o dispositivo detecta pelo rosto usando IA a saturação, pressão, e parâmetros que aumentam a perceção do médico. 

Temos a crença de que o cuidado digital veio para ficar, e precisamos achar caminho para estender essa percepção, com dispositivos que tragam mais dados para os médicos, até para que tenhamos um cuidado digital, pois ele traz N vantagens, sendo mais barato que o presencial, mais escalável, sem fronteiras, claro que dependemos da internet, mas chegando em várias regiões. 

E na BP a gente costuma dizer que queremos um gêmeo digital, temos uma BP física super relevante, mas queremos criar um gêmeo digital que possa criar saúde na mesma qualidade e nível de assistência.

Nessas horas a gente percebe como temos às vezes uma pré- concepção da realidade, e quando ela vem na prática percebemos que não era isso. Nós temos os associados da BP, que são 3500 pessoas, e eles fizeram aquisições de serviços de saúde, doações, e nessa relação eles têm um vínculo e um atendimento com a PB, e a faixa etária dessa população é em média de 70 anos, e temos pessoas de até 80 e tantos anos. 

E a segunda população depois dos colaboradores foram os associados, e nós tínhamos medo, pois era preciso entrar em um link, eles teriam dificuldades, e os resultados foram muito surpreendentes, porque além da adesão, nós fizemos pesquisa de satisfação qualitativa tanto do atendimento do médico quanto da plataforma, e tivemos depoimentos super interessantes com eles dizendo que se sentiram muito bem atendidos, e a gente percebia que é tão básico, mas muitas vezes até no consultório o médico está atendendo mas digitando também.

Então o que imaginávamos de que a tecnologia tira o olho do olho, o que ocorreu foi o inverso. nós percebemos que eles sentiram que os médicos estavam mais atentos à conversa, e isso nos mostrou a adesão e foi uma surpresa. Nós achávamos que não teria tanta adesão, mas foi muito interessante e eles se sentiram muito bem atendidos.”

Futurecom: Você foi recentemente escolhida a executiva de TI do ano na categoria Mundo Híbrido com um caso muito interessante sobre digital care delivery começando pela telemedicina. Pode nos contar quais desafios, aprendizados e resultados você alcançou com essa experiência na BP?

Lilian Hoffmann: “Tive muito prazer e orgulho em receber o prêmio, mas claro que tive uma equipe enorme junto comigo e muitas mulheres nessa equipe também. Nós precisamos incentivar muito a tecnologia para as meninas, atraindo elas para esse processo.

E nesse prêmio, nós fizemos a inscrição do nosso caso justamente do pronto socorro digital, porque a entrega do cuidado digital está sendo muito latente para a BP, porque ela tem um fundo.

A BP não tem procurado a tecnologia somente pela tecnologia. Nós entendemos a tecnologia como um meio que sim, é importante para fazer negócios, mas que precisa acomodar esse novo momento do país, das operadoras de saúde, dos pacientes em seus engajamentos, e ela precisa ser facilitadora e viabilizadora dessa condição. 

Então a gente vem na BP buscando fazer a entrega deste cuidado digital, e claro que a telemedicina é o primeiro passo, o primeiro momento em que você entrega o cuidado onde esse paciente pode ter um atendimento, e nesse caso específico foi quando abrimos para os pacientes a possibilidade do atendimento totalmente remoto, e tivemos desafios primeiro de que a telemedicina eram agendadas, então tínhamos um corpo médico que tinha uma grade e que fazia o acesso. 

Depois percebemos que o paciente podia a qualquer momento precisar, então precisamos de um modelo diferente e sustentável financeiramente, pois o médico podia estar aguardando 24 x 7 mas o paciente não entrar, então como fazer uma oferta em que o paciente tenha um custo justo e a BP consiga uma remuneração? 

Então foi feita uma parceria com as equipes de pronto socorro, o que era muito importante para nós, pois o perfil do médico que atende o pronto socorro digital é diferente do que atende o ambulatório digital, pois no ambulatório muitas vezes é um retorno, um acompanhamento, é no pronto socorro é diferente. Então como unir as equipes em um processo híbrido, pois hora o médico estará atendendo um paciente que está no local e hora no digital. 

E foi um desafio porque o médico que está no atendimento digital, o paciente pode dizer ‘doutor, eu tenho um exame’, e o médico pede para compartilhar, mas não há como na telemedicina o médico olhar o exame pequeno porque a tela foi dividida, então nós tivemos também que pensar nessa infraestrutura adequada para a telemedicina. então as salas foram adaptadas para ter dois monitores, para que o médico ao sentar para o atendimento digital, ele possa dar a experiência na mesma relevância. Se ele tira da sacola uma imagem e o médico colocava o raio X, ele precisa ter a mesma visão no processo digital, e tivemos o desafio de adaptar.

E muitas pessoas nos perguntavam de porque se é no digital o médico não podia fazer da casa dele, mas justamente porque queremos fazer medicina via tela, então o médico precisava ter o consultório adaptado. então tivemos o desafio de estruturar, de treinar as equipes, da plataforma ter coisas simples como links de pagamento, pois se o paciente queria fazer o atendimento digital, eu não poderia pedir a ele para passar na BP fazer o pagamento. 

Fizemos a integração com plataformas de cobrança digital, a integração com prontuários eletrônicos, pois prezamos muito pelos dados do paciente, seja pelas questões legais como LGPD, mas também pela jornada do paciente. Eu não posso correr o risco do paciente ter um processo de internação com a gente, aí ele faz um processo digital, aí ele volta no ambulatório e o médico não sabe que ele teve um atendimento de PA digital onde ele teve uma história que pode comprometer o processo de sequenciamento.

Então essas integrações tecnológicas também foram um desafio, para termos o nome do paciente, pois poderíamos usar um CPF, mas no passado não muito distante as mulheres davam o CPF do marido, e aí como você identifica? Ou a filha dava o CPF da mãe, ou crianças, mas hoje em dia já não dá mais, então a identificação única ainda é um desafio.

O próprio código do SUS é um bom identificar, nós temos o Conecte SUS que é excelente, mas ainda temos desafios nesse sentido também. Então esse projeto foi feito em um curto espaço de tempo e ele tinha todas essas vertentes, da sala, do pagamento, da integração, então ele foi possível pela união das pessoas. 

Nós precisamos de muitas cabeças, muita expertise, muita dedicação. Claro que fico cheia de orgulho da minha área, e um orgulho pessoal, mas de todos que colaboraram para que pudéssemos fazer esse atendimento.”

Futurecom: A TI na BP ajudou a melhorar os resultados para o paciente e a adesão clínica dos profissionais? Quais recursos inovadores foram implantados?

Lilian Hoffmann: “Esse é um tema bem apaixonante. Acho que vale contar um caso para que fique mais materializado. Temos ainda muito a fazer, mas acreditamos no uso dos dados para que a gente possa apoiar a decisão dos profissionais do corpo clínico. Em todos os processos ele deve ter a condição situacional do paciente para que eu apoie o corpo clínico na melhor tomada de decisão, e esse é um papel da tecnologia.

E um caso que a gente implementou que foi bem interessante é que hoje dentro das UTIs do Brasil, quando um paciente tem uma sepse, uma infecção generalizada, hoje a taxa de mortalidade é 52%. Então se dois pacientes desenvolverem, um deles irá a óbito. Esses são os nossos números, e é realmente uma situação bastante grave. 

E a gente tem algumas possibilidades, que chamamos de deflagradores, que são dados que nos intuem que esse paciente pode estar desenvolvendo a condição, e esses dados não são isolados, então não adianta dizer ‘o paciente está com febre’, é ele e mais algumas correlações que permitem ter a ideia de que ele está com a febre. 

E isso depende muito de tecnologia, porque precisamos usar o exame de laboratório. Hoje na BP o médico faz sua prescrição e pede os exames para o paciente. O nosso parceiro de exames é o Fleury, ele processa os exames e o sistema integra ao nosso prontuário. 

Quando a gente fala de sepse a gente precisa ligar os exames, olhar a temperatura, o batimento cardíaco, só que eles estão lá no monitor, então o que fizemos, tudo isso foi integrado ao prontuário. Com isso o sistema pode fazer uma inteligência e detectar antes que alguém olhasse o prontuário, o que gerava uma demora, a partir do momento que você tem os sinais você tem uma hora para dar o antibiótico, então se você age nesse período você diminui muito a taxa de mortalidade.

Então o que fizemos foi um sistema que integrou todos esses dados e que dispara o alerta. Tem casos em que ele dispara e o alerta é um falso positivo? Tem, mas então o profissional recebe o alerta, ele analisa, e justifica se o alerta não é real. Se ele disse que o alerta é real, o sistema já emite para a farmácia um pedido urgente do antibiótico para fazer essa administração em tempo recorde. 

Com isso conseguimos chegar a uma taxa de mortalidade de 22%. Claro que nosso desejo é diminuir, mas sair de um patamar de 52% para um patamar de 22%. A tendência de chegar a zero é quase impossível, mas queremos trabalhar cada vez mais em tecnologias que nos garantam perceber essas condições do paciente deteriorando e que tragam ao profissional médico uma atuação mais assertiva.

E o pessoal me pergunta: você acha que a tecnologia vai substituir os médicos? E aí tem o jargão de mercado de que os médicos que não usam tecnologia serão substituídos por médicos que usam tecnologia. Então a gente não tem a crença da substituição, mas sim do humano aumentado. 

Você ter tecnologia que com dados te garanta uma tomada de decisão modificada, essa é uma busca. Ainda temos muito o que construir na BP, mas esse é um exemplo que funciona. Coloca a tecnologia para o humano ter mais facilidade e alcançamos melhores resultados de saúde.

Futurecom: Falando de Inteligência Artificial na medicina, como a BP está trabalhando com essas inovações? Quais benefícios já são visíveis hoje em relação à essa tecnologia? 

Lilian Hoffmann: “A IA é outro campo que adoro. Nesse processo da IA, olhando para esse guarda-chuva, a gente olhando para o dado do paciente dentro de um processo descritivo, nós treinamos o software para reconhecer patologias. E no que isso nos ajudou? 

Nós tínhamos por exemplo o que chamamos nos hospitais de codificação. Vamos pensar que o paciente vem fazer por exemplo uma cirurgia de joelho, então quando o médico informa o CID, que é a classificação internacional de doenças, geralmente ele diz ‘olha, esse paciente tem uma artrose’. 

Só que eu posso ter um paciente hipertenso, cardiopata, idoso, com uma série de comorbidades, que veio fazer uma artroscopia e tem artrose, ou eu posso ter um paciente jovem, que é atleta, que também veio fazer uma artroscopia e tem artrose.

Geralmente esse diagnóstico estruturado está naquele atendimento, todas essa comorbidades estão descritas em um texto que tem uma riqueza, pois quando eu olho para o paciente eu preciso fazer uma previsibilidade de alta, eu tenho que instituir um cuidado, eu tenho que saber o quanto o paciente vai custar, pois um paciente que é diábético, hipertenso ou cardiopata, se ele tiver um desequilíbrio ele vai ficar mais tempo internada do que um paciente que é um jovem atleta que veio fazer o mesmo procedimento. 

Então nós usamos a IA para extrair essa informação e já trazer para o médico, a gente diz ‘olha, a IA achar que o paciente tem isso, isso e isso’, e o médico pode confirmar ou descartar, pois a nossa IA tem uma eficácia de 96%, e tudo o que é negativo serve para repaginar essa inteligência e melhorar cada vez mais esse processo. Esse é um exemplo.

Nós fizemos outro projeto de Inteligência Artificial, que agora está em expansão, pois na IA você precisa de muitos dados e muito teste, então nós fizemos um projeto para identificar dentro de exames de ressonância específico em mulheres que tinham endometriose para verificar se aquele exame tinha ou não a condição. E por que nós fizemos isso? Porque a endometriose é uma causa de doença feminina, inclusive de saúde pública, porque a mulher se afasta, ela tem dores. A gente enxerga a endometriose muitas vezes no processo gestacional, mas ela tem outras implicações sociais importantes. E muitos radiologistas não estão habituados ao diagnóstico da endometriose, e às vezes passa-se despercebido, e quanto mais cedo ela for identificada, melhores as condições de tratamento. 

Então nós fizemos um projeto de IA que olha para as imagens e detecta se sim ou não. E isso leva para uma fila onde o radiologista pode checar se realmente é, então é uma IA para auxiliar essa radiologia. E estamos expandindo, além do sim ou não, descobrir onde. Fizemos uma parceria com o Fleury para usar nossos dados junto com os deles, para que o médico possa anotar e a IA aprender a localização. 

São exemplos de uso da IA que podem alavancar a saúde. Também estamos olhando para a IA em processos administrativos. Uma IA pode cruzar dados e potencializar o uso para melhorar diagnósticos e também processos administrativos.”

Futurecom: A LGPD está em vigor, e tem provocado mudanças diversas. Como fica a questão do consentimento do paciente em compartilhar suas informações clínicas e pessoais?

Lilian Hoffmann: “Eu sou fã da LGPD. Por mais que ela esteja trazendo desafios para as instituições de saúde e para o mercado em geral, ela tem um fundamento muito relevante que é de proteger os dados pessoais e dados sensíveis, como na saúde, é muito importante para o cidadão.

A gente hoje vive uma realidade em que ela é uma proteção tal qual colocar chave na porta de nossas casas, então a LGPD tem uma proposta muito interessante de criar metodologias e conceitos que garantam a privacidade, mas muitas vezes a gente acaba distorcendo achando que não poderemos fazer pesquisas, e não é bem assim.

Se olharmos para o processo onde eu preciso pedir ao paciente se posso usar, pois vou compartilhar com um terceiro o dado dele, a tecnologia é envolvida porque você precisa não só fazer a pergunta, mas porque o titular da LGPD tem o direito de revogar essa condição. Então é preciso ter muita clareza e o sistema devido para que eu tenha um mecanismo que não dispare isso eletronicamente.

Então a BP tem feito muitos investimentos em sistemas para justamente permitir esses mecanismos, e se a gente olha para a LGPD, ela tem além da privacidade dos dados os arcabouços de tecnologia que são muito importantes. Porque se eu tiver um dano onde o dado é vazado, não só técnicos mas também culturais, um exemplo é que não dá pra ter pendrive, pois é uma entrada, então a USB precisa ser fechada, e você muda um pouco a cultura. Não dá para ter login genérico, porque você vai ter que identificar quem acessou o quê, então precisamos de uma plataforma que controla os consentimentos adicionais, fizemos aquisição também de situações mais técnicas para garantir mais blindagem deste dado. Então existem investimentos, mas tem por contrapartida um benefício bastante interessante. E acreditamos também que a adesão à LGPD vai dar ao cliente uma percepção de marca e de mercado. 

Imagina se alguém dissesse que a gente vai abrir uma conta em um banco inseguro? A gente não abriria. E na saúde a confiabilidade de disponibilidade do dado começa a ter essa realidade. Então a gente ouvia que o doutor deu a senha para o outro pois precisava prescrever, caso contrário teria um problema, então a gente mesmo mandava a senha do exame e mandava o nosso médico. 

A hora em que a LGPD vem ela coloca no mesmo nível a confidencialidade, a integridade e a disponibilidade, quem nem como tratamos outros dados, como senhas de banco.

Então a LGPD veio modificar a cultura. É claro que existem sanções. Elas também são situações em que ninguém quer ter uma sanção, seja de imagem ou financeira, por descumprir uma lei, então ela tem essa força, e isso às vezes é infelizmente necessário para mudar a cultura e o investimento. Muito ainda está sendo feito, principalmente na questão cultural. Fizemos vários treinamentos, porque muitas vezes não é a tecnologia que consegue barrar. 

Tivemos um caso antigo que todo o mercado comentou quando uma pessoa fotografou a imagem de uma esposa de um ex-presidente. Foi pro mercado, e isso é um vazamento de dados, e o que o hospital que foi atingido poderia ter feito? Só cultural, pois um celular todo mundo tem. 

Se a cultura não mudar, isso continuará acontecendo. Eu sou super a favor e acho que isso vai fazer com que nossos dados que são tão valiosos quanto cidadão sejam protegidos.”

Futurecom: Quais tendências de inovação em saúde você destacaria para os próximos anos?

Lilian Hoffmann: “Eu destacaria com certeza todo o guarda-chuva de IA, ela tem revolucionado o mercado de saúde, precisamos usar os dados que estamos coletando há muito tempo, seja um dado digital de uma imagem médica ou um dado de prontuário. Então eu acho que a IA é uma grande tecnologia que vamos usar muito nos próximos anos.

Com certeza IoT. A saúde tem muito o que monitorar e poder criar a Internet das Coisas para que possamos dar a mesma experiência de um paciente em sua casa, na maneira como ele trabalha e a gente poder ter a percepção de saúde em qualquer lugar e a qualquer hora.

A Realidade Aumentada é algo que tem N oportunidades, seja na experiência do paciente para vivenciar algo que vai acontecer, e também no campo de treinamento. Nós fizemos na BP um MVP de um treinamento virtual com Realidade Aumentada usando um protótipo de uma cirurgia de carótida, e os médicos nos depoimentos diziam que era muito real tal qual no modelo. 

Hoje os médicos adquirem experiência porque eles estudam, porque observam um cirurgião operando por muito tempo, ou seja, o tempo de exposição a um procedimento, além da competência pessoal, é o que dá a expertise. Então se temos uma RA que nos permite um tempo maior de exposição, e hoje você pode expor muito mais o profissional a essa condição. Então ela pode se capacitar de forma muito melhor, não substituindo obviamente o titular cirurgião, mas ela dá experiências de uso, e pra mim é uma grande busca.

E eu diria também outra tecnologia que ainda usamos pouco na saúde, que é o RPA, e tudo o que é repetitivo podemos deixar que um robô faça, deixando o humano para fazer o que é criativo e o que é preciso. 

E a saúde tem muitos pontos repetitivos até em sua gestão, no consumo de medicamentos, e podemos deixar que isso seja feito por um robô para que os humanos possam se dedicar ao que fazemos que robô nenhum vai substituir. Então eu diria que esse é o futuro para a saúde.”

Futurecom: Se você pudesse conversar com alguém no âmbito pessoal ou profissional, com quem você falaria?

Lilian Hoffman: “Eu com certeza faria um WebEx com o Elon Musk. Eu já tenho até a pergunta pra ele. Eu acho que com tudo que a gente vê essa cabeça inovadora trazendo carros autônomos, explorando Marte, tudo que ele traz e ele fala de IA com reticências de uso, porque sabemos que por trás da IA tem quem constrói a IA, então se for mal utilizada ela pode ser muito maléfica.

Mas eu adoraria perguntar para ele que dica ele daria para a saúde, pois ele é uma mente tão visionária e gostaria de saber o que ele faria se estivesse sentado em uma cadeira olhando para a saúde. Eu diria que pra mim é uma das pessoas mais inovadoras.”

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