• ISPs: de provedores locais a protagonistas da conectividade
  • Escalabilidade e qualidade percebida pelo usuário
  • Inteligência Artificial e automação nas redes
  • SDN, NFV e novos modelos de serviço
  • IPv6 como diferencial competitivo
  • Cibersegurança e valor agregado ao cliente
  • Automação declarativa e integração de equipes

O penúltimo episódio da temporada Futurecom Connect reuniu três grandes nomes do setor de telecomunicações e tecnologia para discutir o futuro das redes de provedores de internet (ISPs) e os caminhos para adotar tecnologias emergentes, ganhar escala e manter a competitividade em um mercado cada vez mais desafiador. Participaram do encontro Leonardo Furtado, engenheiro de redes e professor, Sérgio Cardoso, engenheiro e diretor de operações da Arsitec, e Ivan Ianelli, engenheiro e presidente da ABEPREST.

Mediado por Marcio Montagnani, o episódio abordou tendências, oportunidades e desafios que envolvem infraestrutura, cibersegurança, inteligência artificial, IPv6, automação e novas arquiteturas de rede. A conversa mostrou que a transformação do setor passa não apenas por tecnologia, mas também por estratégia de negócios e desenvolvimento de capital humano.

ISPs: de provedores locais a protagonistas da conectividade

Leonardo Furtado destacou que, nos últimos 15 anos, os ISPs regionais evoluíram de forma significativa em termos de profissionalização. “Essas empresas mudaram radicalmente suas engenharias. Mas ainda há redes com topologias mal definidas, que prejudicam o desempenho e dificultam a adoção de arquiteturas modernas”, pontuou.

Para ele, a descentralização da topologia é fundamental para viabilizar o edge computing, trazendo o processamento mais próximo do usuário e reduzindo a latência. Essa abordagem exige repensar a estrutura física e lógica das redes, inspirando-se em práticas de cloud providers, mas em escala adequada à realidade regional.

Sérgio Cardoso complementou que a pandemia acelerou a expansão da fibra óptica no Brasil, mas que agora o desafio é se reinventar. “O ISP não pode se limitar a entregar um link de 100 megabits. Ele precisa preparar sua rede para atender a novos serviços, como jogos em nuvem e aplicações de inteligência artificial, que demandam baixa latência e alta disponibilidade”, afirmou.

Escalabilidade e qualidade percebida pelo usuário

Ivan Ianelli chamou atenção para a importância do planejamento de médio e longo prazo, evitando que a rede se torne obsoleta diante de mudanças no ecossistema. Já Leonardo reforçou que escalabilidade significa crescer sem grandes mudanças no projeto original e que os indicadores-chave para o cliente são disponibilidade e velocidade.

Sérgio observou que a qualidade de um provedor é percebida quando ele se torna “invisível” para o usuário, ou seja, quando o serviço funciona de forma estável e rápida, sem interrupções.

Inteligência Artificial e automação nas redes

Um dos pontos mais debatidos foi o papel da inteligência artificial na operação de redes. Leonardo explicou que, nas grandes empresas de tecnologia, já é comum o uso de AIOps para prever tráfego, otimizar escalabilidade e executar automações de auto-remediação. Ele defendeu que, embora o cenário brasileiro ainda esteja distante dessas práticas, soluções como detecção de anomalias, co-pilotos para engenharia de rede e previsão de qualidade de experiência (QoE) são viáveis para ISPs regionais.

Sérgio ressaltou que a maioria dos ISPs ainda atua monitorando apenas o nível físico da rede, mas que a tendência é avançar para ferramentas capazes de reconfigurar automaticamente a infraestrutura diante de picos de demanda.

SDN, NFV e novos modelos de serviço

O episódio também discutiu como redes definidas por software (SDN) e virtualização de funções de rede (NFV) podem oferecer flexibilidade e escalabilidade, permitindo ajustes em tempo real e implementação mais ágil de novos serviços. Para Ivan, a aplicação desses conceitos ainda é limitada por custos e escassez de mão de obra qualificada, mas representa o futuro do setor.

IPv6 como diferencial competitivo

A adoção do IPv6 foi tratada como uma oportunidade estratégica, não apenas uma obrigação técnica. Leonardo alertou que os problemas atuais dos ISPs decorrem de não ter implementado o IPv6 antes. Além de ampliar a escalabilidade e reduzir a dependência de NAT uma solução cara e limitada, o protocolo é essencial para suportar aplicações como IoT e smart cities.

Cibersegurança e valor agregado ao cliente

Na área de segurança digital, Sérgio defendeu que ISPs podem se diferenciar oferecendo proteção direta ao cliente final, como serviços de bloqueio contra phishing e malware por valores acessíveis. Leonardo recomendou a adoção de frameworks como Zero Trust e NIST CSF, além de ferramentas como RPKI, IRR e ASPA para proteger o plano de controle da rede.

Automação declarativa e integração de equipes

Encerrando a conversa, Leonardo apontou que o futuro das redes passa pela automação declarativa, telemetria em tempo real e integração entre equipes de redes, operações e desenvolvimento. “A transformação digital nas redes exige mais software, APIs abertas e soluções sob medida, não apenas ferramentas comerciais prontas”, concluiu.

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